Mulheres Quebradeiras de coco

Começou hoje, no Pará, o VIII Encontrão “Mulheres quebradeiras de coco: Resistência nos babaçuais”. A atividade, que elegerá a coordenação geral do Miqcb Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu e traçará seu plano estratégico para os próximos 5 anos, segue até o dia 09. Nós apoiamos a iniciativa e estamos juntos das Quebradeiras em suas principais pautas: acesso livre ao território dos babaçuais, enfrentamento à queima das florestas do coco babaçu e das pindovas (palmeiras jovens de babaçu) e contenção das violências físicas e psicológicas sofridas pelas quebradeiras de coco babaçu.

Nós acreditamos é nessa mulherada 💙

Mulheres do Assentamento Monjolinho, no MS, protagonizam resgate de ingredientes do Cerrado

Por meio do beneficiamento de frutos como baru, pequi e jatobá, camponesas de Anastácio conquistam independência financeira; apesar do potencial econômico, Cerrado continua sendo devastado no Mato Grosso do Sul

Por Sara Almeida Campos, em Anastácio (MS)

Dono da maior concentração fundiária entre as 27 unidades da federação e palco de um dos principais conflitos indígenas da América Latina, o Mato Grosso do Sul parece um foco improvável para iniciativas que buscam o resgate e a valorização de ingredientes tradicionais do Cerrado. Mas é em Anastácio, município dominado pela pecuária, que um grupo de assentadas da reforma agrária vem mostrando o potencial do agroextrativismo e dos frutos nativos na geração de renda local. A cidade abriga uma das principais unidades de processamento da JBS no estado. Com menor visibilidade, as camponesas mostram seu protagonismo.

Izabel, Maria da Penha, Lucila e Odilia garantem a renda com os frutos do Cerrado. (Foto: Sara Almeida Campos/De Olho nos Ruralistas)

A Associação de Mulheres do Assentamento Monjolinho (Amam) nasceu em 1990 a partir da necessidade de registrar a comunidade no Programa do Leite, durante o governo de José Sarney. “Para conseguirmos leite para as crianças e grávidas a gente tinha que fazer um cadastro”, relembra Maria da Penha Macedo da Cruz, uma das fundadoras da Amam. “Foi aí que nos juntamos para formar nosso clube de mães”.

Dois anos antes, o grupo ocupara uma região até então improdutiva, que deu origem ao Monjolinho, o primeiro assentamento de reforma agrária titulado no Mato Grosso do Sul. “Abrimos caminho com facão e enxada”, conta a camponesa Izabel de Souza. “Foi difícil, mas a gente conseguiu. Graças a Deus tudo deu certo. Todo dia é uma nova batalha”.

CARVOARIAS TORRAVAM ÁRVORES E IGNORAVAM O BARU

Nos anos 2000, o grupo decidiu aproveitar a organização formalizada para gerar renda além da agricultura de subsistência, na época com pouca expressividade na região. As agricultoras iniciaram o artesanato em crochê e a pintura em panos de prato, mas a rentabilidade era muito baixa. Foi então que as mulheres encontraram, na própria paisagem em que viviam, em meio ao Cerrado sul-mato-grossense, a solução para garantir uma maior autonomia financeira.

Beneficiamento do baru foi o ponto de partida para as camponesas do Assentamento Monjolinho. (Foto: Sara Almeida Campos/De Olho nos Ruralistas)

A região era ocupada por carvoarias que utilizavam o cumbaru – árvore comum em todo o bioma – como matéria-prima, ignorando completamente o potencial gastronômico e nutricional de seu fruto, o baru. Maria da Penha conta como foi:

– Começamos a fazer a torra e utilizamos a amêndoa para preparar farinha e pães. Também extraímos o óleo. Não tínhamos o costume de consumir o baru, mas disseram para nós que ele fazia bem à saúde das crianças, que começaram a ser curadas de infecções. Depois de ver isso na prática, arregaçamos as mangas.

A iniciativa deu origem a uma nova fase para as mulheres do Assentamento Monjolinho. Por meio da Amam, as agroextrativistas passaram a beneficiar outros ingredientes do Cerrado, como o jatobá, a bocaiúva e o pequi. A comercialização de pães e outros produtos é garantida por políticas públicas direcionadas ao abastecimento de mercados institucionais pela agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), sendo a principal fonte de renda e empoderamento das integrantes da Amam.

CERRADO COBRE 61% DO MATO GROSSO DO SUL

O Cerrado é o principal bioma do Mato Grosso do Sul, cobrindo 61% do território do estado, mais conhecido pelo Pantanal. É também o mais ameaçado: 76,1% da cobertura vegetal original do Cerrado sul-mato-grossense já foi completamente degradada em função da expansão da pecuária e das monoculturas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2010 o estado perdeu 164.448 km² de Cerrado, uma área maior que o estado do Acre.

Paralisação da JBS em 2017 gerou protestos em Anastácio. (Foto: O Pantaneiro)

Em Anastácio não é diferente. De acordo com dados da plataforma MapBiomas, o município possui 158 mil hectares de pastagens e um rebanho de 288.994 cabeças de gado bovino – uma média de 11 bois por habitante. Ao todo, a atividade agropecuária ocupa 62,3% da área de Anastácio.

A localização estratégica, no meio do caminho entre o Pantanal sul-mato-grossense e a capital Campo Grande, atraiu a instalação, em 2014, de uma unidade do frigorífico JBS, centralizando o processamento de carne na região pantaneira, onde estão 3 dos 20 maiores rebanhos bovinos do país: Corumbá, Aquidauana e Porto Murtinho.

Em outubro de 2017, a suspeita de prejuízos aos cofres do estado causados pelo frigorífico, levantada durante a CPI das Irregularidades Fiscais e Tributárias, levou ao bloqueio de R$ 730 milhões da JBS, que respondeu paralisando o abate em suas sete unidades. Temendo demissões em massa, centenas de funcionários protestaram em frente da Prefeitura Municipal de Anastácio. Manifestações semelhantes se replicaram em outros municípios, forçando o governo sul-mato-grossense a desistir da queda de braço e negociar um acordo com a empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista.

Os pecuaristas de Anastácio têm poder econômico e político. O prefeito Nildo Alves (PSDB-MS), em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral, listou 11.442 cabeças de gado e sete fazendas. Mas o município tornou-se conhecido por outro produto: a farinha de mandioca, herança de migrantes nordestinos que chegaram na região na década de 1940. A Farinha do Pulador já cativou a mesa dos sul-mato-grossenses e é o tema do principal evento turístico de Anastácio, a Festa da Farinha, que atraiu cerca de 15 mil visitantes em sua última edição.

A resistência dos povos do campo será um dos temas da editoria De Olho no Cerrado.

Os frutos do Cerrado, foco de trabalho das 15 agricultoras da Amam, caminham para atingir a mesma popularidade: também em Anastácio, o Grupo Baru, do assentamento São Manoel, vem expandindo a comercialização e chegando a novos públicos.

 

 

 

 

As iniciativas de resistência e preservação do Cerrado – de seus frutos, seus costumes, sua gente – frente ao avanço do agronegócio serão tema de uma nova editoria do observatório De Olho nos Ruralistas. Construída a partir de uma rede de correspondentes nos 11 estados que formam o bioma, a editoria De Olho no Cerrado terá como foco as ameaças e as resistências protagonizadas por camponeses e povos tradicionais.

CAMPONESAS ENFRENTAM MACHISMO

Uma das líderes da Associação de Mulheres do Assentamento Monjolinho, Maria da Penha começou cedo sua luta pela terra. O pai, Dalvino Vieira Macedo, peregrinou com a família por diferentes estados, como Paraná, Espírito Santo e Mato Grosso. “Percorremos vários lugares colhendo café, mamona, feijão, algodão”, relembra. “Era uma família grande, com oito irmãos. Um dia nunca clareou com a gente dentro de casa. Acordávamos de madrugada pra trabalhar na roça. A gente não estudou. Nossa escola era o cabo da enxada”.

Camponesas ampliam a produção a partir dos frutos do Cerrado. (Foto: Sara Almeida Campos/De Olho nos Ruralistas)

 

 

 

 

 

 

 

 

Mesmo com a autonomia financeira, possibilitada pelo beneficiamento do baru, havia outro problema a ser enfrentado. O machismo foi um dos grandes obstáculos para a materialização da sede da Amam. A camponesa perdeu a conta de quantas vezes ouviu de homens de Anastácio que o trabalho com frutos do Cerrado “não ia dar em nada” e que “mulher não ia conseguir erguer a associação”. Durante a obra, materiais de construção foram roubados. “Juntamos dinheiro dia e noite”, conta ela, emocionada com a lembrança da resistência. “Depois a gente conseguia repor cada material tirado da gente”.

Izabel de Souza, outra das lideranças, tenta superar a morte da filha, Rita de Souza. Em 2016, a estudante de engenharia foi mais uma vítima entre as estatísticas de feminicídio. “Tudo me lembra ela, até a sede da associação”, ressalta a agricultora, responsável por garantir as refeições durante os dias de produção. “Foi ela quem projetou todo esse espaço e não viveu a tempo de ver tudo isso pronto”.

Fonte: https://deolhonosruralistas.com.br/2019/01/10/mulheres-do-assentamento-monjolinho-no-ms-protagonizam-resgate-de-ingredientes-do-cerrado/?fbclid=IwAR0khrgMGB6zGMRyMi5OSW8y61KIc6fgLQssdx1seRUjwx0WQkvo3pfZPXI

Cerrado: um item escondido no cardápio dos brasileiros

Global Canopy

André Vasconcelos and Helen Burley

Parque Nacional Chapada das Mesas, foto: André Vasconcelos

A grande relevância do Brasil como exportador de commodities, como a soja por exemplo, pode ofuscar a importância de seu próprio mercado doméstico. Empresas internacionais que possuem compromissos de desmatamento zero estão buscando mecanismos para garantir que as suas cadeias de fornecimento não estejam associadas ao desmatamento. Mas as empresas que adquirem soja para a criação de frango e porco no Brasil estão expostas à riscos de desmatamento?

O novo relatório do Global Canopy revela que cerca de 40% da soja produzida em 2016 nos municípios com as maiores taxas de desmatamento no bioma Cerrado foi destinada ao mercado doméstico.

Como a soja vai parar na nossa mesa?

A soja é ligada a nossa alimentação principalmente através da proteína animal — incorporada na carne de frango, porco e bovina, bem como em derivados do leite. Cerca de 75% da soja processada no Brasil é transformada em farelo de soja, que é usado em quase sua totalidade para ração animal. Do restante, cerca de 20% é transformado em óleo de soja e usado principalmente na produção de biodiesel.

Apenas uma quantidade insignificante da soja é usada diretamente na nossa alimentação através de produtos como leite de soja, tofu, dentre outros.

O impacto do nosso consumo no desmatamento

Mais da metade da soja brasileira é produzida no bioma Cerrado, onde a produção da commodity cresceu rapidamente. De acordo com dados da Agrsotélite, a área de cultivo de soja expandiu 9,5 milhões de hectares entre 2000 e 2017, sendo que cerca de um terço dessa expansão ocorreu através de desmatamento.

Isso significa que a biodiversidade do Cerrado está pagando o preço da demanda por soja e carne (frango, suína e bovina) do Brasil e outros países.

A indústria da carne no Brasil é altamente concentrada — as três maiores empresas, JBS, BRF e Marfrig são responsáveis por 90% do comércio total. Mas, embora parte dessas empresas possuam políticas de sustentabilidade para o bioma amazônico, nenhuma delas possuem compromissos para a não aquisição de soja de áreas recém desmatadas no Cerrado.

O que pode ser feito?

Embora algumas empresas internacionais que importam soja do Brasil tenham assumido compromissos para eliminar o desmatamento de suas cadeias de fornecimento, as avaliações do ranking Forest 500 mostra que empresas que operam na indústria da carne no Brasil estão ficando para trás.

Para que os eforços para combater o desmatamento no Cerrado sejam bem sucedidos, é essencial que as empresas que abastecem o mercado doméstico brasileiro tomem medidas como: identificar potenciais riscos de desmatamento associados à suas cadeias de fornecimento; introduzir e implementar compromissos de desmatamento zero que incluam todos os tipos de vegetação nativa do bioma Cerrado.

Brasília recebe exposição sobre preservação do Patrimônio Arqueológico

A história da ocupação humana no Distrito Federal vai muito além do período que se remete a construção e inauguração da nova capital do país. Há milhares de anos, homens e mulheres já habitavam esse território que atualmente conhecemos como Brasília. Alguns dos vestígios que comprovam a presença e o modo de vida dos primeiros povos no Planalto Central estão disponíveis na Exposição Trajetórias da Preservação do Patrimônio Arqueológico, promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A mostra, que ficará aberta até o dia 15 de março de 2019, apresenta o patrimônio arqueológico do Distrito Federal, com informes sobre a ocupação humana do período pré-colonial, colonial e pós-colonial em várias regiões administrativas como Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Samambaia, Gama, Brazlândia, Riacho Fundo, Santa Maria, Sobradinho, Paranoá, Jardim Botânico e São Sebastião, além do Parque Nacional de Brasília. Algumas das peças coletadas nesses sítios arqueológicos, como artefatos elaborados por grupos caçadores-coletores (que viviam há cerca de 12 mil anos nessa região) vinculados à tradição Itaparica, e pontas de flechas em quartzo hialino fazem parte do acervo, que está aberto à visitação do público no edifício sede do Iphan, em Brasília.

O Iphan já identificou cerca de 51 sítios arqueológicos no Distrito Federal. Desses sítios, 26 são vinculados a povos que sobreviviam da caça e da coleta; 7 estão associados a povos que plantavam parte de seu alimento e produziam cerâmicas; e 17 são sítios arqueológicos ligados aos períodos colonial ou imperial.

Exposição Trajetórias da Preservação do Patrimônio ArqueológicoTrajetórias da Preservação do Patrimônio Arqueológico
A Exposição Trajetórias da Preservação do Patrimônio Arqueológico é uma homenagem ao trabalho desenvolvido por Luiz de Castro Faria pela preservação dos bens arqueológicos brasileiros. A exposição detalha em quatro módulos um pouco da história do antropólogo, arqueólogo, professor, biblioteconomista e museólogo, destacando sua contribuição do para consolidação das políticas de proteção aos bens arqueológicos brasileiros.

Uma amostra da pesquisa do arqueólogo padre João Alfredo Rohr, exibindo 167 peças que integram sua coleção, tombada pelo Iphan em 1986, também está disponível, trazendo uma abordagem aos dois patrimônios arqueológicos inscritos pela UNESCO na Lista de Patrimônio Mundiais: Parque Nacional Serra da Capivara declarado Patrimônio Mundial em 1991 e tombado pelo Iphan em 1993, e Sítio Cais do Valongo inscrito na Lista em 2017.

Serviço
Exposição Trajetórias da Preservação do Patrimônio Arqueológico

Local: SEPS – Quadra 713/913 – Bloco D – Edifício Iphan – Brasília/DF;
De segunda a sexta, das 8h às 18h.
Entrada gratuita, aberta ao público até o dia 15 de março de 2019.

As escolas interessadas em agendar uma visita, precisam entrar em contato com:
Crisvanete de Castro Aquino –  Arqueóloga
Centro Nacional de Arqueologia (CNA) (61) 2024- 6314.

Mais informações para a imprensa
Assessoria de Comunicação Iphan

comunicacao@iphan.gov.br
Fernanda Pereira – fernanda.pereira@iphan.gov.br
Íris Lúcia Costa Santos – iris.santos@iphan.gov.br
(61) 2024-5511- 2024-5513 – 2024-5531
(61) 99381-7543
www.iphan.gov.br
www.facebook.com/IphanGovBr | www.twitter.com/IphanGovBr
www.youtube.com/IphanGovBr

Apenas 0,4% das fazendas do Cerrado concentram 60% da renda

Apenas 0,4% das fazendas do Cerrado concentram 60% da renda

Na região mais dinâmica do agronegócio, que inclui áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, maioria dos municípios continua pobre por conta da concentração das riquezas produzidas
por Redação RBA publicado 28/11/2018 12h02, última modificação 28/11/2018 20h16
Marizilda Cruppe/Greenpeace

Além da desigualdade, agronegócio é o principal responsável pelo desmatamento e conflitos de terra na região

São Paulo –  Na região de Cerrado denominada Matopiba – que reúne municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada uma “vitrine do agronegócio” –, apenas 0,4% das fazendas produtoras concentram 60% da renda, enquanto 80% das propriedades ficam com 5% das riquezas produzidas. Esse retrato que combina concentração de renda e devastação ambiental é o que mostra o relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”, publicado neste mês pelo Greenpeace

Produzido pelo professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Arilson Favareto, que é doutor em Ciência Ambiental, o estudo mostra que 58% dos municípios do Matopiba continuam pobres, e são ainda mais desiguais do que a média de seus estados.

Entre 2013 e 2015, uma área equivalente a 24 cidades de São Paulo de vegetação nativa foi perdida na região, em função da expansão das culturas de exportação. O levantamento também constatou que os principais investimentos na região provêm do Estado, e não do setor privado, já que é o poder público que garante a infraestrutura para a exportação de produtos agrícolas, como a soja, por exemplo. 

De acordo com a integrante da Rede Cerrado – entidade que luta pela preservação do bioma – Fátima Barros, é preciso combater a ideia de que desmatamento e progresso caminham juntos. “O agronegócio acumula capital para um grupo pequeno da população, enquanto o povo do Cerrado está cada vez mais empobrecido”, afirmou à repórter Beatriz Drague Ramos, da Rádio Brasil Atual. Fátima também denuncia que militantes que fazem a defesa do meio ambiente na região estão sendo ameaçados e mortos. 

Outro prejuízo, resultado da concentração fundiária e do fortalecimento da especialização em produção de bens primários, tem sido a queda crescente da indústria de transformação nas exportações nacionais. Esse setor, que na década de 1980 respondia por cerca de 21,8% dos produtos exportados, atualmente é responsável por apenas 11%, mesmo percentual dos anos de 1950.

“Houve empreendedorismo, mas ele foi sobretudo do Estado, das instituições governamentais. Seria, portanto, injusto dizer que a força motriz que fez Matopiba ser essa força pujante da economia e da produção se deve ao heroísmo de produtores do sul que foram para a região”, diz Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace.

Ouça a reportagem da Rádio Brasil Atual

https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2018/11/menos-de-1-das-fazendas-do-cerrado-concentra-60-da-renda

Cerrado: A contribuição da savana brasileira para emissões de GEE e soluções climáticas

Cerrado: A contribuição da savana brasileira para emissões de GEE e soluções climáticas

07.12.2018Documentos e relatórios Gabriela Russo, Ane Alencar, Vivian Ribeiro, Cristina Amorim, Julia Shimbo, Felipe Lenti, Isabel Castro

bioma Cerrado desempenha um importante papel no perfil de emissões do Brasil: devido à sua extensa área, à crescente tendência da expansão agrícola e à baixa quantidade de áreas protegidas, o Cerrado é a segunda maior fonte de emissões de GEE no setor de mudança do uso do solo no Brasil, atrás apenas da Amazônia. Para eliminar as emissões de GEE do Cerrado, é importante aumentar o nível de proteção legal, promover incentivos para agricultura sustentável, assegurar os direitos de populações tradicionais, e incluir o bioma na NDC brasileira.

Esse policy brief foi lançado na COP 24, em Katowice (Polônia), em 2018.

Download

Aprovação da redução da Flona (Floresta Nacional de Brasília) e o Parque Nacional de Brasília (Água Mineral)

Comissão reduz três unidades de conservação em votação relâmpago e emendas “jabuti”

12 Dezembro 2018   |  
Por WWF-Brasil

Senadores e deputados aprovaram na manhã desta quarta-feira (12) a redução de três UCs (unidades de conservação) por meio de emendas “jabuti” na MP (Medida Provisória) 852. São elas: o Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina e a Flona (Floresta Nacional) de Brasília e o Parque Nacional de Brasília (Água Mineral), ambos no Distrito Federal. No jargão parlamentar, emendas “jabutis” são aquelas colocadas em projetos cujo assunto não é relacionado. Este é o caso da MP 852, que trata da transferência e gestão de imóveis da União, ou seja, não tem relação com a delimitação de áreas protegidas.

A votação ocorreu de forma ligeira na comissão e deve seguir para a Câmara ainda hoje.
Existe, ao menos, um problema jurídico nessas emendas: a alteração do grau de proteção, a extinção ou a redução dos limites de parques nacionais e outras unidades de conservação (UCs) não podem ser realizados por meio de medida provisória. Outro argumento jurídico é de que não se podem incluir temas estranhos à matéria original, os tais “jabutis“.
A Coalizão Pró-UC, uma rede de 11 instituições, pede que a proposta seja vetada pelo plenário da Câmara. As ONGs reforçam que a proposta não tem sustentação técnica e afronta diretamente a Constituição Federal, além prejudicar um patrimônio nacional, que deve ser mantido íntegro, conservado e ser cada vez mais valorizado pela sociedade. 
“As unidades de conservação representam um patrimônio da sociedade brasileira. Qualquer alteração em seus limites deve ser feita por meio de processos transparentes, com forte argumentação técnica e amplamente debatidos com os atores relevantes. Não é esse o caso aqui. A ação é inconstitucional segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) e deveria ser vetada pelo plenário, afirma Mariana Napolitano, coordenadora do programa de Ciências do WWF-Brasil.
“É inaceitável alterar os limites de parques nacionais em projeto de lei de conversão de medida provisória”, diz o coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Michel Santos. “Fazer isso é violar a jurisdição constitucional do STF.”
“O Parque Nacional de São Joaquim é um dos mais importantes de Mata Atlântica com floresta de araucária, espécie criticamente ameaçada, restando apenas 3% de sua cobertura original”, pondera Anna Carolina Lobo, coordenadora dos programas Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil. “Além da relevância ecológica, o parque abriga um dos cânions mais bonitos da região da Serra do Mar e faz parte do Caminho da Mata Atlântica, uma trilha de longo curso criada para conectar as pessoas e a Mata Atlântica ao longo de 3.000 km, passando por cerca de 70 unidades de conservação nos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.”
Tática de redução de áreas protegidas
A pressão pela alteração do Parque Nacional de São Joaquim não é novidade e não se trata de um caso isolado. Em 2017, uma emenda da bancada catarinense à Medida Provisória (756), que discutia a polêmica revisão dos limites da Floresta Nacional de Jamanxim, no Pará, propunha reduzir 20% da UC catarinense. Em abril de 2018, dois projetos foram protocolados simultaneamente na Câmara e no Senado, prevendo a redução de 10 mil hectares do parque, aproximadamente um quinto de seus 49,3 mil hectares. 
Segundo um estudo do WWF-Brasil, de 2017, Unidades de Conservação em Risco, uma série de medidas que colocam em risco esse tipo de área protegida está em curso –à época, estimou-se que a ameaça rondava ao menos 10% do território de UCs. Em meados de setembro de 2018, a Assembleia Legislativa de Rondônia revogou a criação de 11 UCs que totalizam quase milhão de hectares. A decisão sobre a manutenção das UCs está com a Justiça.
Parque Nacional de São Joaquim
 
O Parque Nacional de São Joaquim é uma Unidade de Conservação Federal responsável por preservar os últimos remanescentes de Mata Atlântica e de Matas de Araucárias no Sul do Brasil. Localizado na região serrana do estado de Santa Catarina, foi criado em 1961 com uma área de 49.800 hectares. 
É guardião de importantes fontes de água que abastecem populações regionais, como os rios Pelotas e o Tubarão. A Unidade Conservação (UC) também é uma importante área de recarga e descarga do Aquífero Guarani, o que reforça sua função ecológica na captação de água para a população.
Protege, também, paisagens de grande beleza e que abrigam atrativos como o Morro da Igreja, a Pedra Furada e o Cânion Laranjeiras. É um dos Parques Nacionais mais visitados do Brasil, recebe mais de 100 mil turistas ao ano movimentando milhões de reais que sustentam centenas de empregos na região. 
 
São Joaquim faz parte do trajeto do Caminho da Mata Atlântica (CMA), maior projeto de trilhas ecológicas em desenvolvimento Brasil, o traçado macro, que vai seguir toda a cadeia montanhosa da Serra do Mar, do Parque Nacional dos Aparados da Serra-RS ao Parque Estadual do Desengano-RJ, englobando uma série de locais de grande potencial turístico e de conservação da natureza.
Além disso, abriga fauna repleta de animais ameaçados de extinção e apresenta mamíferos como pacas, cachorros-do-mato, bugios e jaguatiricas. Entre as aves, encontram-se a gralha-azul, a curiaca , o caxinguelê e o surucuá-de-barriga-vermelha.
Essa diminuição traria risco a fontes de água que abastecem populações locais, paisagens turísticas, como a Perda Furada, além de prejuízo à economia –a visitação ao Parque Nacional de São Joaquim é importante geradora de emprego e renda na região. Seus 100 mil visitantes anuais fazem circular quase R$ 8 milhões.
Parque Nacional de Brasília
A emenda sobre o Parque Nacional de Brasília também foi incluída de última hora. Conhecido na região como “Água Mineral”, ele é uma área importante para o abastecimento de 25% da água potável no Distrito Federal, para a contenção da erosão do solo e para a proteção da vegetação. Além disso, é local de grande visitação por causa das suas piscinas naturais e de uso público. Com 42.389, o Parque abriga, ainda, fauna diversificada e composta por espécies raras ou ameaçadas, como lobo-guará, tatu-canastra, tamanduá-bandeira e jaguatirica.
Floresta Nacional de Brasília 
A Floresta Nacional (Flona) de Brasília protege as nascentes responsáveis por cerca de 70% do abastecimento de água do Distrito Federal. É uma área de 9 mil hectares que garante a proteção do cerrado na região. Abriga trilhas abertas ao público e compõe um dos maiores circuitos de mountain bike do país. A Flona inclui espécies ameaçadas de extinção, como o palmito-juçara, o papa-moscas-do-campo e o tatu canastra. 

Inpe lança sistema público para vigiar destruição do cerrado em tempo real

Savana perdeu ao menos 4.718 quilômetros quadrados em 2018 e 46% da cobertura original

O PRODES Cerrado, mapeamento anual completo do desmatamento deste bioma, é resultado do Programa de Investimento Florestal (FIP) do Banco Mundial, assim como o DETER Cerrado, este para produção de dados voltados à fiscalização e controle do desmatamento do segundo maior bioma da América do Sul.

O Cerrado é a segunda maior região biogeográfica da América do Sul e é considerada a formação savônica mais biodiversa do mundo. Com aproximadamente dois milhões de km quadrado ocupa cerca de 25% do território brasileiro.

A partir da década de 1970 o Cerrado se transformou em uma nova e importante fronteira agrícola brasileira. Essa transformação modificou os aspectos socioeconômicos regionais e impulsionou a produtividade agropecuária, tornando o Brasil um dos principais produtores mundiais de commodities agrícolas. Mas a implementação do conjunto de ações para ocupação humana no Cerrado teve como consequência o aumento do desmatamento – responsável por grande parte das alterações da sua paisagem.

Assim, o Brasil se viu encorajado a estruturar um sistema oficial de monitoramento sistemático do desmatamento para esta região. Neste contexto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) está divulgando os resultados do projeto PRODES Cerrado que consiste no mapeamento do desmatamento para toda extensão do Cerrado de 2000 a 2017. Por meio do projeto foi construída uma séria histórica bienal da remoção antrópica da vegetação natural para o período de 2000 a 2012 e anual para os anos de 2013 a 2017.

Estas atividades receberam apoio financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Banco Mundial, além das instituições alemães KfW e GIZ. Em particular os dados produzidos para os anos de 2016 e 2017 são resultados do projeto FIP FM Cerrado, que tem apoio do Programa de Investimento Florestal (FIP) e do Banco Mundial que proverá recursos para a continuidade da iniciativa até 2020.

O Projeto de Desenvolvimento de Sistemas de Prevenção de Incêndios Florestais e Monitoramento da Cobertura Vegetal no Cerrado Brasileiro faz parte do Plano de Investimento Brasileiro (BIP) no âmbito do Programa de Investimento Florestal (FIP), gerido pelo BIRD, cujos aportes de recursos são do Fundo Estratégico do Clima (SCF). O SCF tem como finalidade auxiliar países em desenvolvimento a adaptarem seus modelos de desenvolvimento as realidades impostas pelas mudanças climáticas, de modo a torná-los mais resilientes, além de tratar de outras questões setoriais por meio de programas direcionados.

A iniciativa é financiada com recursos do Banco Mundial ( World Bank – IBRD-IDA ) e articulam-se o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), com foco na construção de sinergias que potencializem as políticas setoriais voltadas à redução do desmatamento, mediante o aprimoramento da gestão ambiental em áreas antropizadas, e a geração e disponibilização de informações ambientais para toda a área ocupada do bioma Cerrado. Além destes dois Ministérios, há participação do Ministério da Fazenda (MF), atuando como Coordenador Focal Nacional. Participam também o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).

O projeto tem como triplo objetivo fortalecer a capacidade institucional do Brasil para o monitoramento do desmatamento, disponibilizar informações sobre riscos de incêndios florestais e estimar a emissão de GEE oriunda do desmatamento e das queimadas no Cerrado (fonte: site MCTIC)

A Coordenação-geral de Observação da Terra (OBT) do INPE é responsável pela Componente 1 do projeto que trata especificamente do monitoramento do desmatamento, tendo como principais atividades:

  • . Mapeamento anual do desmatamento – PRODES Cerrado.
  • . Detecão do desmatamento em tempo quase real – DETER Cerrado.
  • . Capacitação dos beneficiários do projeto na interpretação e uso das informaões geradas pelo sistema de monitoramento do Cerrado.
  • . Implementação de um sistema de controle de qualidade de dados para o sistema de monitoramento do desmatamento do Cerrado, em parceria com a UFG.

Os beneficiários do Projeto são as instituições e os atores envolvidos no monitoramento e na conservaço do bioma Cerrado, entre os quais o INPE, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREVFOGO), órgãos de meio ambiente estaduais e municipais, a Polícia Federal, os governos municipais e suas brigadas de combate a incêndios florestais, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ministério do Desenvolvimento Rural (MDA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Fundação Nacional do índio (FUNAI), o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), gestores de áreas protegidas, instituições acadêmicas e educacionais, organizações da sociedade civil e associações de produtores e proprietários.

O monitoramento sistemático do Cerrado amplia de forma significativa o conjunto de dados produzidos pelo INPE sobre a cobertura da terra na Amazônia e no Cerrado, garantindo uma base de informações sobre o desmatamento em áreas de vegetação natural de 73% do território brasileiro, dados indispensáveis para formulação de políticas públicas nestas duas regiões.

Fonte: http://www.obt.inpe.br/cerrado/#sobre

 

A líder quilombola Dona Dijê coordena grupo de quebradeiras de babaçu

 

Nós, Museu do Cerrado, sentimos a perda da Dona Dijé que foi um exemplo de garra, persistência e ternura. Que cada um de nós possamos continuar com o seu legado. 14/09/2018

Dia do Cerrado é celebrado com posse do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

O dia em que se comemora o Dia Nacional do Cerrado, 11 de setembro, foi marcado por uma importante conquista para aqueles e aquelas que lutam pela conservação da savana mais biodiversa do planeta: foi empossado, em Brasília, o Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais.

Instituído pelo Decreto nº 8.750, de 9 de maio de 2016, o Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), que até então não havia sido empossado oficialmente pelo Governo Federal, é fruto de forte mobilização dos povos e das comunidades tradicionais de todo o Brasil.

“A gente sonhou tanto tempo com este momento e hoje agradeço por estar acordada vivendo este grande dia”, afirma a quebradeira de coco dona Maria de Jesus Bringelo, conhecida como Dona Dijé, uma das principais líderes do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que integra o Conselho.

Composto por 29 segmentos de povos e comunidades tradicionais e 15 representações no Governo Federal, o Conselho tem o propósito de promover o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais para garantir direitos e políticas de natureza territorial, socioambiental, econômica e cultural.

De acordo com a Rede Cerrado, a posse representa uma grande conquista para todos os segmentos. Isso porque a atuação do Conselho é essencial para a implementação efetiva da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), que é uma das ferramentas fundamentais de combate ao estado de violência e violação de direitos pelos quais muitos povos e comunidades tradicionais passam de norte a sul do país.

Escolhida para ser a presidenta do Conselho, Cláudia Regina Sala de Pinho, da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras, fala sobre a importância desse acontecimento:

“É a esperança que temos de continuidade, de estarmos juntos discutindo políticas públicas e dando visibilidade e voz aos povos e comunidades tradicionais.”

Os PCTs somam aproximadamente cinco milhões de brasileiros, que ocupam um quarto do território nacional, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Eles são considerados os guardiões da biodiversidade brasileira, uma vez que seus modos de vida se dão em equilíbrio com a preservação dos recursos naturais.

De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, de 75% a 79% da área registrada por todas as comunidades do país está coberta de vegetação nativa, muito acima do requerido por lei. Além disso, os PCTs expressam a diversidade cultural e identitária que marcam a conformação da sociedade brasileira.

No início de julho de 2018, ActionAid e Articulação Rosalino Gomes participaram do “I Seminário Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais Protagonistas da sua História”, que foi sediado pelo MIQCB, em quilombo localizado na região central do Maranhão. Na ocasião, cerca de 200 pessoas se reuniram por três dias, exatamente para avaliar a política nacional e cobrar das autoridades a implementação de pontos nos quais ainda falta avançar.

* Com informações da Rede Cerrado

Erika Azevedo

E-mail: erika.azevedo@actionaid.org