Krahô

Krahô

Aldeia Galheiro. Foto: Michel Pellanders, 1988.

Origem do nome

Em 1930 os Krahô indagados pelo etnólogo Curt Nimuendajú traduziram seu nome como “pêlo (hô) de paca (cra)”. Três décadas depois, indivíduos dessa mesma etnia discordavam dessa tradução, afirmando que Krahô era nome de origem civilizada. A forma usual de grafar o nome deste povo, “Krahô”, se deve a uma interpretação inadequada dos sinais diacríticos utilizados por Nimuendajú. Essa forma se difundiu nos textos etnológicos, está presente nos nomes pessoais dos indígenas para uso na sociedade envolvente e até nos títulos dos livros publicados pelos índios; por isso é adotada no presente texto. Ironicamente, a forma “Craô”, mais ajustada à pronúncia, é compatível tanto com a ortografia oficial brasileira quanto com a grafia atualmente utilizada pelos Krahô para escreverem na sua língua.

 

Os Krahô chamam a si próprios de Mehim, um termo que no passado era provavelmente também aplicado aos membros dos demais povos falantes de sua língua e que viviam conforme a mesma cultura. A esse conjunto de povos se dá o nome de Timbira. Hoje, Mehim é aplicado a membros de qualquer grupo indígena. A esta ampliação correspondeu uma redução do sentido do termo oposto, Cupe(n), que, de não-Timbira, passou a significar civilizado. Os Krahô que vivem mais ao sul também se chamam de Mãkrare (mã = ema, kra = filho, re = diminutivo, “filhos da ema”), termo que pode variar para Mãcamekrá e que aparecia em textos do século XIX como “Macamecrans”. O termo que Curt Nimuendajú ouviu aplicado aos do norte, Quenpokrare (quen = pedra, po = chata, “filhos da pedra chata”), não é tão antigo a ponto de aparecer nos textos do século XIX e também não parece ter perdurado até o presente.

Localização do povo

Os Krahô vivem no nordeste do Estado do Tocantins, na Terra Indígena Kraolândia, situada nos municípios de Goiatins e Itacajá. Fica entre os rios Manoel Alves Grande e Manoel Alves Pequeno, afluentes da margem direita do Tocantins. O cerrado predomina, cortado por estreitas florestas que acompanham os cursos d’água. É mais larga a floresta que acompanha o rio Vermelho, que faz o limite nordeste do território indígena.

Referências bibliográficas

Julio Cezar Melatti. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Krah%c3%b4>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

 

Documentário Hotxuá

O documentário faz um registro poético sobre o povo indígena krahô, que vive em Palmas, Tocantins, no norte do Brasil. Detentores de uma cultura milenar, o povo krahô é um povo sorridente, que considera a alegria um elemento-base de sua sociedade e designa entre seus líderes um sacerdote do riso: o hotxuá, um palhaço sagrado, que é profundamente respeitado pela tribo. Assim como a figura clássica do palhaço, eles usam a força do humor e do riso para fortalecer a autoestima do povoado, garantindo a sua cultura milenar. O documentário marca a estreia na direção da atriz Letícia Sabatella e do artista plástico e cenógrafo Gringo Cardia. Distribuído pela Caliban Produções, do cineasta Silvio Tendler, o filme foi vencedor do Prêmio do Júri Popular no Festival de Cuiabá e recebeu o troféu Mapinguari, no FestCine Amazônia, ambos em 2009. No mesmo ano, o filme também foi apresentado no Festival de Toulouse, França.

 

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=po5nkwrN4mY

Kayapó

Kayapó

Uma garota Kayapó vem da floresta portando uma cabaça (ngôkôn) contendo óleo de palmeira recentemente extraído. Foto: Gustaaf Verswijver, 1991.

Origem do nome

O termo kayapó (por vezes escrito “kaiapó” ou “caiapó”) foi utilizado pela primeira vez no início do século XIX. Os próprios não se designam por esse termo, lançado por grupos vizinhos para nomeá-los e que significa “aqueles que se assemelham aos macacos”, o que se deve provavelmente a um ritual ao longo do qual, durante muitas semanas, os homens kayapó, paramentados com máscaras de macacos, executam danças curtas. Mesmo sabendo que são assim chamados pelos outros, os Kayapó se referem a si próprios como mebêngôkre, “os homens do buraco/lugar d’água”.

Localização do povo

Mato Grosso e Pará

O território kayapó está situado sobre o planalto do Brasil Central, a aproximadamente 300 ou 400 metros acima do nível do mar. Trata-se de uma região preenchida por vales. Pequenas colinas com altitude máxima de 400 metros, freqüentemente isoladas e dispersas sobre todo o território, espalham-se pelo planalto. Os grandes rios são alimentados por inúmeras calhetas e igarapés que, de tão pequenos, alguns se quer foram descobertos pelos brasileiros e tampouco receberam nomes.

Referências bibliográficas

Gustaaf Verswijver; Cesar Gordon. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Meb%C3%AAng%C3%B4kre_(Kayap%C3%B3)>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Kayabi

Kayabi

Foto: Georg Grünberg

Origem do nome

A primeira menção direta aos Kaiabi em um documento escrito apareceu em 1850, com a publicação dos relatos do viajante francês Francis de Castelnau. Em 1844 Castelnau esteve em Diamantino, MT, onde entrevistou índios Apiaká e aventureiros que percorreram a região dos rios Arinos e Teles Pires dando notícias de uma “tribo hostil”, denominada em seu texto como Cajahis. A partir dessa data, vários outros documentos fazem referência aos Kaiabi, utilizando diferentes grafias para o nome: Cajahis, Cajabis, Kajabi, Caiabis, Cayabi, Kayabi etc. Atualmente os professores indígenas do grupo decidiram optar pela grafia Kaiabi e por esse motivo a empregamos neste texto.

A origem do nome Kaiabi perde-se no tempo e hoje os próprios índios não sabem dizer de onde surgiu e qual seu significado. É provável que seja a forma pela qual os Apiaká ou os Bakairi, que representam as primeiras fontes de informação sobre os Kaiabi no século XIX, a eles se referiam. Certamente não se trata de auto-denominação do grupo. Georg Grünberg, um etnógrafo que pesquisou os Kaiabi nos anos 60, sugere que a auto-denominação seja o termo iputunuun, que significa algo como “o nosso pessoal” (1970: 120).

Localização do povo

Os Kaiabi, em sua maioria, habitam atualmente a área do Parque Indígena do Xingu (PIX), Mato Grosso. Esta, porém, não é sua terra tradicional. Até aproximadamente a década de 1940 ocupavam uma extensa faixa entre os rios Arinos, Tatuy (denominação Kaiabi para o Rio dos Peixes) e médio Teles Pires ou São Manuel, localizada a oeste do Rio Xingu.

Referências bibliográficas

Klinton Senra. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kaiabi>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Karajá de Xambioá

Karajá de Xambioá

Foto: André Toral,1982.

Origem do nome

Os Karajá do Norte, mais conhecidos como Xambioá, estão divididos em duas aldeias, localizadas na margem direita do rio Araguaia. Falam a mesma língua que os Karajá e os Javaé da Ilha do Bananal, mas mantêm muito menos contato com estes que com a população vizinha. Devido ao intenso decréscimo populacional e às uniões recorrentes com regionais, os Karajá do Norte passaram por mudanças culturais importantes. No entanto, parece haver um consenso entre eles quanto à necessidade de implementar projetos e iniciativas destinadas a prestigiar aspectos mais tradicionais de sua cultura e a afirmar sua identidade étnica.

Atualmente são conhecidos como Karajá do Norte. Entre os demais grupos de língua Karajá são conhecidos como ixybiowa ou ainda de iraru mahãdu (“turma de baixo”), em oposição aos demais, chamados de ibòò mahãdu (“turma do alto”), conforme sua localização ao longo do rio Araguaia.

Os Karajá do Norte eram, e ainda são, conhecidos como Xambioá na literatura etnológica. São chamados de “Karajá”, simplesmente, pela população regional e de “Xambioá”, mais freqüentemente, ou “Karajá do Norte”, muito raramente, desde o século passado, por viajantes, missionários e, mais recentemente, por funcionários do SPI e da Funai.

Os membros do grupo indígena quase nunca utilizam a palavra Xambioá para se auto-referirem. “Xambioá” vem de ixybiowa (“amigo do povo”) que era como se chamava uma aldeia que existiu na foz do rio de mesmo nome, a montante do atual Posto Indígena. Especulativamente, pode-se supor que o nome tenha sido aplicado a todos seus habitantes e, posteriormente, a todos os Karajá do Norte. Mais comumente serve como designação da atual região da cidade de Xambioá.

A auto-designação Karajá do Norte, e o desuso do termo Xambioá, indica o desejo do grupo de se identificar, prioritariamente, com a macro-etnia, com uma matriz cultural comum a todos os grupos Karajá.

Localização do povo

Os Karajá do Norte são tradicionais habitantes da região do baixo Araguaia e, especificamente, das proximidades de seu trecho encachoeirado. As duas aldeias atuais, Xambioá e Kurehe, no município de Araguaína (TO), localizam-se na margem direita do Araguaia, distantes seis quilômetros uma da outra. Estão 100 km a montante da cidade de Xambioá, a 150 km, por estradas de terra e asfalto, de Araguaína e 70 km de Santa Fé do Araguaia, os centros urbanos mais importantes para o grupo.

Referências bibliográficas

André Toral. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Karaj%C3%A1_do_Norte>. Acesso em: 18 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Karajás

Karajás

Origem do nome

O nome deste povo na própria língua é Iny, ou seja, “nós”. O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi que se aproxima do significado de “macaco grande”. As primeiras fontes do século XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias “Caraiaúnas” ou ” Carajaúna”. Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908, consagra a grafia Karajá.

Localização do povo

Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.

Os Karajá têm o rio Araguaia como um eixo de referência mitológica e social. O território do grupo é definido por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, a ilha do Bananal, que é a maior ilha fluvial do mundo, medindo cerca de dois milhões de hectares. Suas aldeias estão preferencialmente próximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio Javaés, assim como no interior da ilha do Bananal. Cada aldeia estabelece um território específico de pesca, caça e práticas rituais demarcando internamente espaços culturais conhecidos por todo o grupo.

Referências bibliográficas

Manuel Ferreira Lima Filho. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Karaj%c3%a1>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Apanyekrá-Canela

Apanyekrá-Canela

Origem do nome

O grupo Apanyekrá se auto-denominam como tal. São conhecidos pela bibliografia apenas por esse nome e suas variações ortográficas, ou ainda por Apanyekrá-Canela. Apanyekrá significa “o povo indígena da piranha”. Nimuendajú supõe que eram chamados por esse nome porque pintavam o maxilar inferior de vermelho, remetendo à imagem desse peixe carnívoro.

Localização do povo

Maranhão

Referências bibliográficas

William H. Crocker. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Canela_Apanyekr%C3%A1>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Ramkokamekra-Canela

Ramkokamekra-Canela

Mulher Canela Ramkokamekrá colocando massa de mandioca brava sobre folhas de bananeira. Foto: William Crocker, 1964.

Origem do nome

O grupo Ramkokamekrá atualmente se auto-denomina com o nome português Canela. Ramkokamekrá significa “índios do arvoredo de almécega”. Usam o termo Me(n)hi(n) para se referir aos Timbira Orientais. É provável que o nome Canela seja uma referência ao fato desses índios serem visivelmente mais altos – com suas longas pernas -, quando comparados pela população regional a seus vizinhos Guajajara.

Localização do povo

A principal aldeia ramkokamekrá, Escalvado, é conhecida pelos sertanejos e moradores de Barra do Corda como Aldeia do Ponto e localiza-se em torno de 70 km a sul-sudeste dessa cidade, no estado do Maranhão. A Terra Indígena Canela hoje está homologada e registrada. Até recentemente, essas terras de cerrado, florestas-galeria e pequenas chapadas ficavam no município de Barra do Corda, mas agora localizam-se no novo município de Fernando Falcão, que se estruturou a partir do crescimento da antiga vila Jenipapo dos Resplandes. O limite sul da Terra Indígena fica em grande parte delimitado pela serra das Alpercatas. O rio Corda corre fora da TI, afastado 20 Km, ao longo do limite noroeste.  

Referências bibliográficas

William H. Crocker. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Canela_Ramkokamekr%C3%A1>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Kanela

Kanela

Origem do nome

Os Canela são compostos das cinco nações remanescentes dos Timbira Orientais, sendo a maior a dos Ramkokamekrá, descendentes dos Kapiekran (como eram conhecidos até 1820). O nome Canela também era utilizado pelos sertanejos para os Apanyekráe os Kenkateye, que foram massacrados e dispersos em 1913. Os Kenkateye separaram-se dos Apanyekrá por volta de 1860.

Localização do povo

Maranhão

Referências bibliográficas

William H. Crocker. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Canela_Ramkokamekr%C3%A1>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Kadiweu

Kadiweu

Ceramista kadiwéu. Foto: Mônica Pechincha, 1992.

Origem do nome

Os Kadiwéu, conhecidos como “índios cavaleiros”, por sua destreza na montaria, guardam em sua mitologia, na arte e em seus rituais o modo de ser de uma sociedade hierarquizada entre senhores e cativos. Guerreiros, lutaram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, razão pela qual, como contam, tiveram suas terras reconhecidas.

Os espanhóis colonizadores chamaram de Mbayá (termo provavelmente de origem Tupi) aos Guaikurú (nome também de origem Tupi) dos quais descendem os Kadiwéu. Com origem no lado ocidental do rio Paraguai, parte dos Mbayá atravessou, no século XVII, para a banda oriental. Com a pressão das frentes colonizadoras, deslocaram-se mais para o norte e os que ainda não tinham migrado para leste do rio o fizeram no final do século XVIII. Nessa época, o seu território estendia-se das serras que separam os rios Paraná e Paraguai até mais além da latitude de 18° sul.

Os Mbayá dividiam-se em diversas hordas, cada uma com um nome específico que se associava a acidentes naturais dos locais que habitavam. Uma delas, a dos Cadiguegodis, tinha, no século XVIII, o seu território banhado por um riacho que os índios chamavam de Cadigugi. Tudo indica que esta última horda seja a dos ancestrais dos Kadiwéu atuais. A horda dos Kadiwéu foi a última a migrar para o lado oriental do rio Paraguai, e era a única sobrevivente já na segunda metade do século XIX.

Os Kadiwéu, que a literatura histórica uma vez chamou de “os índios cavaleiros“, por sua condição de possuidores de um vasto rebanho eqüino e sua admirável destreza na montaria, vivem hoje em território localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, em terras em parte incidentes no Pantanal matogrossense. O seu território tem como limites naturais a oeste os rios Paraguai e Nabileque, a leste a Serra da Bodoquena, ao norte o rio Naitaca e ao sul o rio Aquidaban. Dentro deste território, a população Kadiwéu se divide entre quatro aldeias. A aldeia maior, Bodoquena, localiza-se no nordeste da Terra Indígena, ao pé da Serra da Bodoquena, vizinha à aldeia Campina, que fica já no alto daquela serra. A aldeia Tomázia localiza-se no sul da Terra Indígena. Também no sul encontra-se a aldeia São João. Habitam esta última aldeia principalmente índios Terêna e remanescentes de Kinikináo. Algumas famílias Kadiwéu vivem ainda em pequenos grupos, em localidades no interior da Terra Indígena mais afastadas das aldeias principais, onde criam pequeno gado.

 

Localização do povo

Mato Grosso do Sul

A Terra Indígena Kadiwéu está no município de Porto Murtinho. Bodoquena é a cidade mais próxima da aldeia maior (60 km), seguida de Miranda e Aquidauana. Campo Grande (310 km) é o centro urbano de maior importância estratégico-administrativa para os Kadiwéu. Ali está sediada a administração da FUNAI que os jurisdiciona, a associação dos fazendeiros arrendatários (ACRIVAN – Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque) e a ACIRK (Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu).

Referências bibliográficas

Mônica Thereza Soares Pechincha. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kadiw%c3%a9u>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

Javaé

Javaé

Origem do nome

A palavra javaé ou javaés é de origem desconhecida, enquanto a palavra karajá seria de origem Tupi-Guarani, com o significado de “mono grande” (macaco guariba), provavelmente atribuída ao povo em questão pelos bandeirantes, que utilizavam a Língua Geral. Xambioá, por sua vez, derivaria da expressão nativa ixy 1 biawa, “povo companheiro ou amigo”, ou de sy biawa, “outro lugar”.

Como principal autodesignação, os Karajá e Javaé utilizam o termo Iny, palavra que significa “gente” ou “ser humano”. Em seu sentido mais amplo, todos os seres humanos, incluindo os não-índios, são iny (com letra minúscula). Em seu sentido mais estrito (com letra maiúscula), refere-se apenas aos Javaé, embora os Karajá também o utilizem como autodenominação. Os dois grupos se autodenominam Itya Mahãdu (“o povo do meio”), em razão de se conceberem morando no nível intermediário do cosmos, entre o nível subaquático e o nível celeste. Também se autodesignam Ahana Òbira Mahãdu (“o povo de fora” ou “o povo com a face de fora”), em uma referência à ascensão mítica primordial, quando os humanos que moravam no fundo das águas (um espaço fechado, abaixo do leito do rio Araguaia) saíram de baixo para o nível terrestre atual, concebido como um lugar amplo e aberto.

Localização do povo

Desde tempos imemoriais, os Javaé, Karajá e Xambioá habitam o vale do rio Araguaia, em cujo médio curso está localizada a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. O rio Araguaia nasce na Serra dos Kayapó, ao sul de Goiás, alcança 2.627 km de extensão e desemboca no baixo Tocantins, no ponto setentrional extremo do Estado de Tocantins, fazendo parte da bacia amazônica. Em grande parte de seu curso, o rio corre por uma imensa planície, inundável durante a estação das chuvas, situada entre o rio Xingu, a oeste, e o rio Tocantins, a leste.

Referências bibliográficas

Patrícia de Mendonça Rodrigues. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Java%c3%a9>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.