Seu Joaquim “Momboca” – Raizeiro e Benzedor (Alto Paraíso do Goiás)

Seu Joaquim "Momboca" - Raizeiro e Benzedor (Alto Paraíso do Goiás)

SEU JOAQUIM
Raizeiro, amigo das folhas
Pesquisador das plantas
Catador de medicinas
Amante das ervas santas
Com seus olhinhos pequenos
Esse mago do cerrado
Enxerga um mundo enorme
Vivendo aqui desse lado
Dos guerreiros desse solo
Um caminho de saúde e pureza
Em sua alma reside
A força da natureza.

Poesia: Ivan Anjo Diniz

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Dona Maria Chefe (In memoriam) Parteira, Raizeira e Benzedeira-Vila de São Jorge/GO

Dona Maria Chefe (In memoriam) Parteira, Raizeira e Benzedeira-Vila de São Jorge/GO

De dia panhando pedra, de noite panhando menino! Foi assim durante muito tempo a vida de Maria Ferreira da Mota, mais conhecida como “Maria Chefe”.

Diferentes de muitas garimpeiras, ele nos contava que tinha saudade do garimpo de cristal. O trabalho não era fácil e nem dava muito dinheiro, mas a saudade maior era da alegria das companheiras e companheiros de jornada. Carregava peso, machucava as mãos, muitas vezes não recebia o que deveria, mas tinha amigos e gostava de ajudar ao próximo. Às vezes mal chegava do trabalho e era o tempo de tomar um banho correndo e já tinha que sair pra acudir uma mulher em trabalho de parto, às vezes duas em menos de um dia e logo já estava ela cuidando dos seus próprios filhos, da casa e de volta ao garimpo. Conseguia ser séria e muito doce ao mesmo tempo.

Conseguia te olhar e ver e sentir coisas que não é qualquer cristão que tem o dom de perceber.

Pegou muito menino (fez muitos partos), benzeu e fez remédio pra muita gente e ensinou quem quis aprender.

Pessoa simples, muito humilde, não há quem não tenha vivido na Vila de São Jorge até 2017, quando ela fez a passagem, que não saiba que ela era.

Se hoje tomo banho de ervas, foi porque ela me sensibilizou para isto.

Uma homenagem à ela e, nosso muito obrigado à toda equipe e aos familiares que contribuíram para a realização desta entrevista concedida em maio de 2017.
Texto: Daniela Ribeiro

Disponível em: RAÍZES Homenageia: D. Maria Chefe (In memoriam) Parteira, Raizeira e Benzedeira – Vila de São Jorge/GO

Entrevista: Wilson – Raizeiro do povoado do Moinho – Alto do Paraíso de Goiás

Entrevista: Wilson - Raizeiro do povoado do Moinho - Alto do Paraíso de Goiás

Joaquim Wilson é filho do Raizeiro Donato e da Parteira e Raizeira “Dona Flor do Moinho”. Pai e avô, homem muito esforçado e trabalhador, de sorriso largo, Wilson ainda arruma tempo pra se dedicar a coletar plantas medicinais do Cerrado, a cultivar plantas de horta e a fazer remédios caseiros para pessoas que o procuram de várias cidades. Wilson traz na genética o ofício de raizeiro, mas para além disso, ele gosta muito de ler sobre Fitoterapia. Se debruça e se deleita sobre as páginas de livros que tem adquirido ao longo da vida sobre as plantas medicinais.

Neste final da nossa temporada, último dia do “RAÍZES: 5º Grande Encontro de Raizeiros, Parteiras, Benzedeiras e Pajés na Chapada dos Veadeiros – versão web, separamos, entre outras surpresas, esta filmagem onde nosso querido irmão Wilson dá o recado.
Texto: Daniela Ribeiro

Disponível em:

Causo do Rádio, 2003

Causo do Rádio, 2003

Quando ela chegô [a esposa do seu Enoque] naquele caixotinho lá em riba da mesa e eu assim perto oiano aquilo, quando ela pegô no uimbigo dele que torceu, eu vi que tinha um palitinho lá dentro que rolô, mais ele tá campeando os caipira… Rapaz! Ele desviou dos caipira e engarupou numa missa. E o véio era daqueles devoto antigo, quando o padre raiou lá dentro daquele caixote, ele barreu os joelhos no chão lá adiante, e aí nóis foi obrigado a jogá o chapéu de costas i ajoelhá também; i eu não sei o que tinha enfezado esse padre esse dia, rapaz… ele tirava uma meia hora pra rezar e uma meia hora pra daná cum nóis, rapaz… i eu fui enfezando com aquilo: _ I eu nunca vi esse omi i ele dana cum nóis desse jeito, sô. Esse omi tá loco!  

[…] Uma ocasião nessa época que apareceu esse ricurso, e eu fui trabaiá prum cumpanheirim meu lá […] quando foi sábado, eu juntano minhas quissassinha pra ir’imbora, aí ele falô pra mim: “Não, Geraldim! Posa aí q’amanhã cedo nóis vai iscutá uns caipira”. Aí eu danei cum ele: “Cê tá ficano lôco, rapáiz? Onde cê vai arrumá caipira aqui amanhã cedo?”. Aí ele falô: “Não, ali num veím nosso tem um rádio”. Aí falei: “Uai, já tem?”, “Tem! Tá c’uns oito dia que chegô”. Aí falei: “Uai, intão vô posá q’eu fico conheceno essa ferramenta”. Aí cedim […], era perto, nóis chegô logo, quando nóis chegô já tinha umas quinze pessoa lá, rapáiz. O povo num cunhicia, aquilo frivia lá pra iscutá. Aí o véi viu que o povo tava bobo c’aquilo, pegô a cobrar, era quinhentos réis procê iscutá. […] Aí nóis chegô e o cumpanhêro falô: “Ó seu Enoque, nóis vêi iscutá uns caipira”. Aí ele levantô, ispriguiçô e falô […] “Vô lá dentro chamá a Maria, eu num sei mexê cum isso não”. Aí eu oiei, rapáiz, tinha um caixotim em riba de uma mesinha, tava pertim, pra mim era um caixotim deles pô alguma imundície . […] Quando ela chegô naquele caixotim lá em riba da mesa, […] quando ela pegô no imbigo dele que torceu, eu vi que tinha um palitim lá dentro… rolô! Ele tava campiano uns caipira… Rapáiz, e ele [o botão de rolagem das estações de rádio], e ele dislizô dos caipira e engarupô numa missa, rapáiz. E o véi era daqueles devoto antigo, quando o padre raiou lá dentro daquele caixote, ele barreu o joêio no chão lá diante, e aí nóis foi obrigado a jogá o chapéu de costa e jueiá tamém. E eu não sei o que foi q’esse enfezado desse padre esse dia, e ele tirava uma meia hora pra rezá, uma meia hora pra daná cum nóis, rapáiz! E eu fui infezano c’aquilo: “eu nunca vi esse hômi, e ele daná cum nóis desse jeito sô! Esse hômi tá é lôco” [risos]. E aí o pau quebrô e ele num parava e os juêio num guentô […]. Levantá num podia! […] Eu manei: “Agora num tem ricurso, vô deitá purque num pode levantá”. Quando eu já tava caçano um jeito de deitá, o padre liberô nóis e eu mão no chapéu e avoei pra banda de fora. Aí o cumpanhêro: “Vamo dá mais um prazo, às vêiz os caipira vem!”. Eu falei: “Ó rapáiz, o dia q’eu rumá um ricurso pra vedá meu juêio, eu posso vortá”  

Causo do Porquinho, 2003

Causo do Porquinho, 2003

Um dia de tardizinha, o sol já lá ia amoitano por trais da cacunda da serra, eu saí na porta, oiêi… rapáiz!, um porquim deu de vazá na vara do chiquêro e desceu pru lado duma horta. E aí eu pensei: “tem que pegá, si não ele vai dá prejuízo”. Eu sipiei em cima desse caboquim. I é aqui, i é aculá, eu fui coieno ele, fui cheganu pra perto. E ele era um animarzim bem arisco [risada], quando ele viu que eu tava pra chegá, ele tampô a bufá e a pulá. E quando eu já tava pra tarracá nas cadêrinha dele, ele tafuiô dibaxo duma cerca de arame, rapáiz! E naquele imbalo qui eu invinha, eu morguei pra passá no vão do arame, eu gachei dimais, uma ferpa veio e pregô, rapáiz! Aí eu fiquei marrado ali, quereno puxá, mas tava pregado. Eu levava a mão lá pra tirá, estrepava o dedo. E eu fiquei ali naquele trem, e lá ia cheganu um caboquim assim perto, quando viu eu naquela maçaroca ali, ele resorveu me dá uma mão, mais eu já tava infezado demais. Quando ele falô: “Para aí, sô!”. Eu falei: “Não!”. I foi BUM!  
 

Causo do Osso, 2001

Causo do Osso, 2001

E aí, quando eu peguei naquele osso pra jogá ele lá nu curral, eu oei, ele tava cum miolu bonitu. Ai eu pensei: “eu tô sozim aqui, vou proveitá esse trem”. Pelejei pra chupa ele: ele tava mei garradu. Aí eu tambuei esse dedo na broca dele, assim por baixo, fui empurrano e mamanu da outra banda. Foi até que, quando eu tava lambeno a cabeça du dedo, eu fui tira u dedo, cadê, rapaz! U coro empelotava lá na frente assim que num dava de si de jeitu nenhum… eu trucia ele assim, queria rasgá u coro e num sai memo.
 
 

Causo da Namoradinha, 2001

Causo da Namoradinha, 2001

 Ai, uma ora, mininu, a paciência minguô, eu num atulerei… eu levantei, sô, e vim por trais dela e infiei o braço por baixo dus trapim dela: foi buli lá na güelinha dela. E aí, eu vim rastanu a mão assim, lerdo… pra trás… fui rastanu.. quando chegô nu umbim [úbere] dela… macio, mininu, eu azonei um pouquim e fui rastanu… Quando chegô eu cheguei nu subaquim da perna dela, aí eu garrei a inzoná. E num sei se eu fiquei mei estovado… é que ela mudou de idéia da ora pra outra, rapaz: ela firmô na fornainha e me chamô us dois pé num umbigo e tascou eu cum a nuca numa pratelerinha que tinha atrás…
 

Causo da Bicicleta, 2001

Causo da Bicicleta, 2001

Uai minino, nesta época, sô!, que pegô a sai essas bicicleta, esses recursu, nunha ocasião a muiê rumô lá uma perrenguice, uma clamura, uma gemura esquisita, aquilo não miorava; eu rancava uma saroba ali no terreiro memo, fazia uma xaropada, dava pra ela bebê… foi ficanu pió; aí eu manei: danô!. Aí eu tentei levá ela pra cidade prum doutô dá uma reforma nela pra mim. Aí fui lá, rumei um agasaio, e levei ela… falei pro doutô: “oiá eu troxe a muié, o sinhó espia o que tá fartanu nela e arruma ela pra mim eu não posso ficá aí não, eu tinha serviço e era longe”. 

Chá de Conhecimento #13 – Dona Cecília | Jatobá

Chá de Conhecimento #13 - Dona Cecília | Jatobá

No Chá de Conhecimento de hoje Dona Cecília apresenta o Jatobá, árvore de casca boa para cicatrização e antibiótica. A polpa é superalimento, rica fonte de cálcio. O chá da casca do fruto é bom para o estômago, úlcera e gastrite. A seiva tem um grande poder curativo usada para diversas finalidades, é um potente tônico para o corpo. São dois tipos de Jatobá, ambos medicinais: o Jatobá do Campo e o Jatobá da Mata (indicado para a extração de seiva). Esse chá faz parte do projeto “Raízes do Cerrado”, uma produção do coletivo audiovisual OYÁ. Saiba mais em facebook.com/oyacoletivo.

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Chá de Conhecimento #12 – Dona Flor | Lobeira

Chá de Conhecimento #12 - Dona Flor | Lobeira

Quando xs raizeirxs apresentam a Lobeira lembram do vermífugo da infância. No Chá de Conhecimento de hoje, Dona Flor fala sobre essa planta que cura tantos males. Do fruto da Lobeira trata-se a tireóide, pressão alta, cálculo da vesícula, cálculo dos rins, e muito mais. Sua folha é expectorante e combate doenças pulmonares. Assista e conheça!

Esse chá faz parte do projeto “Raízes do Cerrado”, uma produção do coletivo audiovisual OYÁ.

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