Causo do Rádio, 2003

Quando ela chegô [a esposa do seu Enoque] naquele caixotinho lá em riba da mesa e eu assim perto oiano aquilo, quando ela pegô no uimbigo dele que torceu, eu vi que tinha um palitinho lá dentro que rolô, mais ele tá campeando os caipira… Rapaz! Ele desviou dos caipira e engarupou numa missa. E o véio era daqueles devoto antigo, quando o padre raiou lá dentro daquele caixote, ele barreu os joelhos no chão lá adiante, e aí nóis foi obrigado a jogá o chapéu de costas i ajoelhá também; i eu não sei o que tinha enfezado esse padre esse dia, rapaz… ele tirava uma meia hora pra rezar e uma meia hora pra daná cum nóis, rapaz… i eu fui enfezando com aquilo: _ I eu nunca vi esse omi i ele dana cum nóis desse jeito, sô. Esse omi tá loco!  

[…] Uma ocasião nessa época que apareceu esse ricurso, e eu fui trabaiá prum cumpanheirim meu lá […] quando foi sábado, eu juntano minhas quissassinha pra ir’imbora, aí ele falô pra mim: “Não, Geraldim! Posa aí q’amanhã cedo nóis vai iscutá uns caipira”. Aí eu danei cum ele: “Cê tá ficano lôco, rapáiz? Onde cê vai arrumá caipira aqui amanhã cedo?”. Aí ele falô: “Não, ali num veím nosso tem um rádio”. Aí falei: “Uai, já tem?”, “Tem! Tá c’uns oito dia que chegô”. Aí falei: “Uai, intão vô posá q’eu fico conheceno essa ferramenta”. Aí cedim […], era perto, nóis chegô logo, quando nóis chegô já tinha umas quinze pessoa lá, rapáiz. O povo num cunhicia, aquilo frivia lá pra iscutá. Aí o véi viu que o povo tava bobo c’aquilo, pegô a cobrar, era quinhentos réis procê iscutá. […] Aí nóis chegô e o cumpanhêro falô: “Ó seu Enoque, nóis vêi iscutá uns caipira”. Aí ele levantô, ispriguiçô e falô […] “Vô lá dentro chamá a Maria, eu num sei mexê cum isso não”. Aí eu oiei, rapáiz, tinha um caixotim em riba de uma mesinha, tava pertim, pra mim era um caixotim deles pô alguma imundície . […] Quando ela chegô naquele caixotim lá em riba da mesa, […] quando ela pegô no imbigo dele que torceu, eu vi que tinha um palitim lá dentro… rolô! Ele tava campiano uns caipira… Rapáiz, e ele [o botão de rolagem das estações de rádio], e ele dislizô dos caipira e engarupô numa missa, rapáiz. E o véi era daqueles devoto antigo, quando o padre raiou lá dentro daquele caixote, ele barreu o joêio no chão lá diante, e aí nóis foi obrigado a jogá o chapéu de costa e jueiá tamém. E eu não sei o que foi q’esse enfezado desse padre esse dia, e ele tirava uma meia hora pra rezá, uma meia hora pra daná cum nóis, rapáiz! E eu fui infezano c’aquilo: “eu nunca vi esse hômi, e ele daná cum nóis desse jeito sô! Esse hômi tá é lôco” [risos]. E aí o pau quebrô e ele num parava e os juêio num guentô […]. Levantá num podia! […] Eu manei: “Agora num tem ricurso, vô deitá purque num pode levantá”. Quando eu já tava caçano um jeito de deitá, o padre liberô nóis e eu mão no chapéu e avoei pra banda de fora. Aí o cumpanhêro: “Vamo dá mais um prazo, às vêiz os caipira vem!”. Eu falei: “Ó rapáiz, o dia q’eu rumá um ricurso pra vedá meu juêio, eu posso vortá”