“O meu rap está apenas começando”: juventude e sustentabilidade cultural na Reserva Indígena de Dourados-MS

“O meu rap está apenas começando”: juventude e sustentabilidade cultural na Reserva Indígena de Dourados-MS

Autor(a):

Kênide de Souza Morais

Resumo:

A pesquisa aqui apresentada foi realizada na Reserva Indígena de Dourados- RID. Buscamos apresentar a realidade vivenciada por jovens indígenas, tendo como produto central um vídeo de curta-metragem, que apresenta um pouco da história de vida dos quatro componentes do grupo Brô MC‟s. Inicio com um breve histórico sobre a distribuição geográfica da população guarani no território brasileiro. No segundo tópico trato com um olhar mais atento a realidade da RID, transitando sobre suas formas de organização social, conflitos interétnicos e a relação com a população regional. No terceiro tópico abordo a questão da juventude indígena, suas representações diante dos mais velhos, e os desdobramentos da busca de um lugar onde sejam aceitos, interna e externamente. O trabalho segue narrando as alternativas que esses jovens criam para se protegerem enquanto são estigmatizados e responsabilizados por muitas coisas ruins que venham a ocorrer nas aldeias. No quarto tópico me dedico às histórias de vida dos Brô MC‟s e suas composições musicais, compreendendo-as em meio a um cenário de uma leitura da realidade, desta vez cantada no estilo Rap, desafiando o modelo tradicional e inovando com canções bilíngues, cantadas em Guarani e Português. 

Referência:

MORAIS, Kênide de Souza. “O meu rap está apenas começando”: juventude e sustentabilidade cultural na Reserva Indígena de Dourados-MS. 2013. xiv, 57 f.; il. (Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

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Sustentando o cerrado na respiração do Maracá: conversas com os mestres Krahô

Sustentando o cerrado na respiração do Maracá: conversas com os mestres Krahô

Autor(a):

Veronica Aldè

Resumo:

A partir de conversas com os anciãos, professores e pesquisadores Krahô, foi desenvolvido um trabalho de mapeamento e tradução dos cânticos do Ritual do Milho (AmjekimPohy Jô Crow), um dos principais eventos do ciclo anual de plantios dessa etnia. O ritual, os cânticos, e a narrativa de ”Catxekwyj e a Árvore do Milho” nos revelaram as densas e sonoras relações existentes entre homens, ambientes e todas as formas de vida que povoam um dos mais antigos e complexos Sistemas Biogeográficos do planeta – o Cerrado. Os materiais resultantes dessa pesquisa (Dvd e Relatório de Pesquisa) – realizada na perspectiva da interculturalidade e da pesquisa participativa – nos deixam pistas importantes do potencial educativo contido nessas vozes e estéticas ainda tão pouco conhecidas. Refletindo sobre alguns temas específicos como sustentabilidade, alteridade e autoria indígena propomos um trançado pedagógico através da arte-educação, capaz de fazer germinar através do movimento criativo essas férteis sementes de cultura que muito contribuiriam na formação de novas gerações mais sensíveis e abertas aos diálogos interculturais e ás múltiplas “verdades” e conhecimentos que circulam continuamente na respiração pluriétnica nacional.

Referência:

ALDÈ, Veronica. Sustentando o cerrado na respiração do Maracá: conversas com os mestres Krahô. 2013. 73 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

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Na Trilha das pekobaym guerreiras kura-bakairi: de mulheres árvores ao associativismo do instituto yukamaniru

Na Trilha das pekobaym guerreiras kura-bakairi: de mulheres árvores ao associativismo do instituto yukamaniru

Autor(a):

Isabel Teresa Cristina Taukane

Resumo:

Esta pesquisa teve por objetivo analisar o associativismo protagonizado por um grupo de mulheres indígenas da etnia Bakairi no Instituto Yukamaniru. Os métodos e instrumentos utilizados para obtenção dos dados e análises foram a observação e registros das participações em reuniões e atividades desenvolvidas pelo Instituto, além das entrevistas formais e informais em momentos de compartilhamento de memórias das mulheres fundadoras, estudos de documentos, como estatutos e relatórios, e ainda a literatura de cunho acadêmico como artigos, dissertações e teses a respeito dos Bakairi e associativismo indígena no Brasil. Inicio com a descrição da etnia Bakairi e um pouco de sua história e suas organizações. Ao descrever e refletir acerca do Instituto Yukamaniru buscou-se tanto a origem das mulheres na cosmologia Bakairi, que se originaram de árvores, como também associar este grupo de mulheres fundadoras ao mito das Pekobaym, as mulheres guerreiras. Descrevo com destaque especial os projetos desenvolvidos por esta organização tais como o Kadakera, de revitalização do plantio do algodão nativo para a confecção das redes, e o Enren Enamado, um programa de reflorestamento dos buritizais na Terra Indígena Bakairi. Por meio desta experiência com o associativismo, percebeu-se, na descrição e análise desta organização protagonizada por um grupo de mulheres indígenas Bakairi no Instituto, um caminho para o fortalecimento dos saberes tradicionais e a capacidade criativa e guerreira na construção de caminhos para a sustentabilidade ambiental e cultural; fruto de um contínuo diálogo, muitas vezes conflituoso, em constante reelaboração, diante das relações com os colonizadores não índios e mesmo inter-aldeias. 

Referência:

TAUKANE, Isabel Teresa Cristina. Na Trilha das pekobaym guerreiras kura-bakairi: de mulheres árvores ao associativismo do instituto yukamaniru. 2013. 90 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

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Alimentos, restrições e reciprocidade no ritual Xavante do Wapté mnhõno (Terra indígena Marãiwatsédé, Mato Grosso

Alimentos, restrições e reciprocidade no ritual Xavante do Wapté mnhõno (Terra indígena Marãiwatsédé, Mato Grosso

Autor(a):

Sayonara Maria Oliveira da Silva

Resumo:

A presente pesquisa apresenta de forma breve um levantamento sobre o sistema alimentar do povo indígena Xavante da terra indígena Marãiwatsédé (Mato Grosso, Brasil) incluindo as formas de obtenção de alimentos na contemporaneidade. O estudo foi realizado durante o ritual do wapté mnhõno (iniciação de jovens) e está focado nos alimentos consumidos durante este período, destacando a dieta alimentar dos watewá (jovens batendo água) no Datsi´waté (rito de bater água) e as relações de troca-reciprocidade envolta dos alimentos a partir da observação da relação entre as mães dos watewá com o Dazaniwá (ancião responsável por cuidar dos jovens durante o Datsi´waté). O povo Xavante de Marãiwatsédé passa pelo processo de territorialização se adaptando a uma nova maneira de viver na terra indígena mais desmatada da Amazônia Legal. A pesquisa apresenta um panorama sobre o processo de desterritorialização vivenciado por esse grupo desde o contato oficial (1950), perpassando pela demarcação da terra (1993), até os dias atuais, utilizando para realização da pesquisa método etnográfico por meio de observação participante e direta, entrevistas informais/não estruturadas e semi-estruturadas, bem como dados bibliográficos. 

Referência:

SILVA, Sayonara Maria Oliveira da. Alimentos, restrições e reciprocidade no ritual Xavante do Wapté mnhõno (Terra indígena Marãiwatsédé, Mato Grosso. 2013. 189 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

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Território Umutina: vivências e sustentabilidade

Território Umutina: vivências e sustentabilidade

Autor(a):

Eliane Boroponepa Monzilar

Resumo:

Este trabalho refere-se ao Território Umutina, aos desafios da sustentabilidade e às vivências recentes de jovens do Ensino Médio da Aldeia Umutina em torno desses temas. O Território Umutina já está demarcado: o processo foi efetuado em 24 de abril de 1960 e registrado no Cartório do Município do Rosário D’Oeste-MT, com uma área de 28.120 hectares. A Terra Indígena Umutina é rica e importante, pois através dela é que o povo retira o sustento para a sua vivência e estabelece suas relações nas dimensões sociais e culturais – ou seja, a terra é essencial para manter viva a cultura do povo Umutina. As técnicas utilizadas para a realização deste trabalho foram: pesquisa bibliográfica, dados coletados através de entrevista com as lideranças e jovens da comunidade, oficinas, fotografia, e a participação dos jovens da escola Jula Paré. Esta pesquisa-ação contribui para que as gerações novas, a comunidade e a escola possam ter acesso aos conhecimentos tradicionais, aos saberes, valorizando o espaço territorial e a busca de alternativas dentro da comunidade; servirá de registro e documento para as futuras gerações. Obtiveram-se dados que visam fortalecer a cultura, e também servirá como material didático nas escolas indígenas, permitindo a socialização mais ampla ao público. Vai fortalecer e proteger o espaço territorial, cultivar e manter viva a cultura Umutina para que os jovens possam usufruir desse patrimônio. 

Referência:

MONZILAR, Eliane Boroponepa. Território Umutina: vivências e sustentabilidade. 2012. 83 f., il. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

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Congresso Nacional: direitos e mineração em terras indígenas

Congresso Nacional: direitos e mineração em terras indígenas

Autor(a):

Solange Ferreira Alves

Resumo:

O objetivo principal deste trabalho é chamar a atenção dos povos indígenas, suas organizações e demais interessados na temática indígena para a necessidade de acompanhamento e participação nas atividades do Congresso Nacional. Considerando que este espaço, criado para ser democrático, propõe e decide sobre projetos de lei relacionados aos interesses dos povos indígenas, é de suma relevância que os principais interessados se façam presentes e cobrem o respeito aos seus direitos constitucionalmente garantidos. O trabalho apresentará um panorama geral do Congresso Nacional e um enfoque mais específico na Câmara dos Deputados, trazendo, a título de informação, uma relação dos projetos de lei em tramitação relacionados aos povos indígena. Ainda ressaltando a importância da sociedade civil ocupar este espaço e demonstrando os interesses em jogo no Congresso, será feita uma análise da tramitação do PL 1610/96, que trata da exploração de recursos minerais em terras indígenas. A metodologia adotada foi a pesquisa teórica, com busca em bibliografias específicas e sites especializados, e a pesquisa empírica, por meio da observação direta e do acompanhamento das atividades da Câmara dos Deputados. 

Referência:

ALVES, Solange Ferreira. Congresso Nacional: direitos e mineração em terras indígenas. 2012. ix, 125 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

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Yakuigady: cultura e sustentabilidade nas máscaras rituais do povo Kurâ-Bakairi

Yakuigady: cultura e sustentabilidade nas máscaras rituais do povo Kurâ-Bakairi

Autor(a):

Vitor Aurape Peruare

Resumo:

Este trabalho analisa a importância do Yakuigady para o povo Kurâ-Bakairi. Depois de trezentos anos de contato com os não-indígenas, a marca da dominação colonial ainda se faz presente nas mudanças culturais porque passam os Kurâ-Bakairi. Atualmente, esse povo busca reapropriar-se dos conhecimentos tradicionais sobre os espíritos aquáticos representados pelas máscaras Yakuigady. Esses espíritos são responsáveis pela sustentabilidade ambiental, alimentar e organizacional do povo Kurâ-Bakairi. Os Yakuigady trazem paz e alegria para o povo Kurâ-Bakairi, prestando- lhes serviços espirituais para enfrentar uma grande conjunto de situações. Por isso, é vista como uma manifestação cultural importante e preferencial para o fortalecimento da identidade Kurâ-Bakairi. Este trabalho oferece uma descrição dos Yakuigady e reflete sobre os desafios para sua continuidade e fortalecimento.

Referência:

PERUARE, Vitor Aurape. Yakuigady: cultura e sustentabilidade nas máscaras rituais do povo Kurâ-Bakairi. 2012. 57 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

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Do Araguaia ao Planalto: uma auto-análise da gestão de políticas públicas em educação escolar indígena

Do Araguaia ao Planalto: uma auto-análise da gestão de políticas públicas em educação escolar indígena

Autor(a):

Maria Helena Souza da Silva Fialho

Resumo:

Este trabalho apresenta um relato autoetnográfico sobre a minha experiência na gestão de políticas públicas, no contexto da educação escolar indígena. Relato o processo da minha formação e inserção no indigenismo, tendo como foco a reflexão sobre a minha prática profissional na educação escolar indígena, ao longo de uma década. Busco compreender como se estabeleceu a política nacional de educação escolar indígena, analisando criticamente as conquistas, tensões e retrocessos que marcaram a história recente dessa política pública. Realizo esse exercício sob o ponto de vista de quem participou ativamente desse processo (ou seja como insider), exigindo uma atenção permanente e um esforço de crítica e autocrítica.

Referência:

FIALHO, Maria Helena Sousa da Silva. Do Araguaia ao Planalto: uma auto-análise da gestão de políticas públicas em educação escolar indígena. 2012. 131 f., il. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

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VAMOS BRINCAR DE DOBRADURA COM OS ANIMAIS DO CERRADO?

VAMOS BRINCAR DE DOBRADURA COM OS ANIMAIS DO CERRADO?

Nesta quarentena será divertido brincar de dobradura, e ao mesmo tempo, vamos ensinar educação ambiental inspirado em dobraduras de animais ameaçados de extinção, em especial os que habitam o Bioma Cerrado. São 11 animais ameaçados de extinção, como a borboleta-ribeirinha, bugio, cachorro-vinagre, lobo-guará, morceguinho-do-cerrado, onça-pintada, pato-mergulhão, pirá-brasília, perereca-de-folhagem-com-perna-reticulada, tamanduá-bandeira e galito.

 

Dobradura é a tradução da palavra japonesa origami, que significa, literalmente, “dobrar papel”. Quando o papel foi inventado na China, no início do século II, as dobraduras começaram a existir e sempre tendo como inspiração a natureza, em especial a fauna.

 

Os usos dos origamis são diversos e estão relacionados a cerimônias religiosas, meditações, superstições, uso terapêutico, lazer e educação. No aspecto cognitivo, destacam-se o desenvolvimento da coordenação motora fina, a criação de sequências lógicas, os conhecimentos geométricos e ambiental, além do ganho lúdico.

 

Nos países orientais, cada origami tem uma simbologia, por exemplo: as dobraduras de aves são feitas quando desejamos conseguir algo. Na Copa do Mundo de Futebol de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão, o capitão da seleção brasileira, Cafu, recebeu a taça do Tetracampeonato sob uma chuva de papel, onde estavam cerca de três milhões de tsurus (dobraduras de garças) feitos por estudantes japoneses. Outro exemplo seria a figura do sapo, que está relacionada ao retorno de coisas boas, pois a palavra sapo em japonês tem o mesmo som da palavra retorno: kaeru.

 

Nesse livro a inspiração das dobraduras foram os animais ameaçados de extinção, em especial os que habitam o Bioma Cerrado, objetivando o ganho de conhecimento ambiental. É preciso conhecer para preservar, sabendo que: cuida quem ama e ama quem conhece! Então, agora você está diante de um grande desafio! Ajudar a preservar a natureza por meio das dobraduras e suas simbologias. Vamos nessa!

 

Marcus Paredes
Educador Ambiental

Baixe o livro aqui:

http://www.ibram.df.gov.br/wp-content/uploads/2019/12/cerrado-dobrado05dez2019-_web.pdf

Terra Prometida

Terra Prometida

        Ao longe ouvia-se um estrondoso som. Um avião a jato cruzava o céu. Ali naquela terra um sonho estava sendo concretizado. Foram anos de muitos planos e poucas economias, mas em fim o dia chegara. Um trabalho de 10 anos estava sendo posto à prova naquele dia. Seu Joaquim e dona Amélia estavam muito excitados por aqueles acontecimentos históricos.

        Será que haviam descoberto vida em outros Planetas?

        Não, claro que não, haviam decididos se mudarem com sua família para a vizinha Torixoréu – MT.  Era o dia de partirem, era o ano de nosso senhor Jesus Cristo 1946.  Seu Joaquim chamara dona Amélia para participar-lhe a boa nova:

        – Mulher venha cá. A nossa charrete está pronta, vamos viajar para nossa próxima morada. Hoje recebi a comunicação do compadre Zé Domingos sobre o tal pedaço de terra que está reservado para nós é só chegar, fincar barraca e tomar posse. Pegue a gurizada e vamos zarpar hoje mesmo.

        Dona Amélia não se fez de rogada, já não aguentava mais aquela vidinha sem graça de Guiratinga. Uma pasmaceira só!

        – Sabe crianças diz que Guiratinga significa garça branca, mas aqui de branca não tem nada.

        Aqui nessa terra é só poeira vermelha que se vê o tempo todo. E ela Pensava: É só a garça que é mesmo branca, arvura santa!

        Ainda devaneando ordenou aos filhos:

        – Aline tragam seu irmão vamos cuidar de nossa mudança para esta tal e afamada cidade brilhante, vamos em busca da nossa terra prometida.

       Tudo pronto, partiram para encontrar um lugar para chamar de seu conforme lhes garantira o compadre. Seguiram no novo modelo de transporte da época – a famosa charrete puxada por animais. O modelo “xt 3” custou cerca de cinco mil cruzeiros. Afinal eles tinham destino certo no espaço, haviam encontrado vida além de Guiratinga. Seu Joaquim estava animadíssimo, passaria a fazer parte dos pequenos e novos agricultores brasileiros do século 20. Viviam a República Nova, Marechal Eurico Gaspar Dutra era o novo Presidente.

        Caminhariam muitas léguas. Na tal cidade brilhante surgiam a todo momento novos núcleos familiares graças aos programas de incentivo lançados pelo Governo Federal bem como por conta de outros negócios como a extração de diamantes no vale do rio Araguaia.

        Assim no ano de 1946 chegam a Pouso Alto um distrito de Torixoréu – MT. Ali a família Sousa integrada por seu Joaquim, dona Amélia e seus dois filhos: Valdemar o mais velho e Aline a caçula. A família recém-chegada se instala na localidade denominada: Serrinha. Além da bagagem trouxeram o necessário para garantir o alimento das crianças até que conseguissem se instalar e arrumar algum meio de ganhar dinheiro.

        Seu Joaquim era conhecido por ser bom lavrador e dona Amélia se destacava por suas prendas domésticas e era também excelente costureira. Era ela a responsável pela educação dos filhos e disso não se descuidava. Na Fazenda Serrinha nasceram outros três últimos filhos: Francisco, Helena e Mariano acho que é nessa ordem. 

        Mulher legal – Dona Amélia. Ela não era de escutar e seu Joaquim falava demais. Escuta isso princesa, escuta aquilo princesa e buzinava o tempo todo no seu ouvido quando estava dentro de casa. Ela sempre lhe respondia sem às vezes ouvir direito o que ele estava falando.

        -O! Bota bobagem aí benhê!

        – É complicado prevermos o futuro de uma sociedade como a nossa. Temos o egoísmo como um dos pratos principais das famílias a cada dia. É difícil saber qual o futuro quando vemos a riqueza em detrimento de valores importantes como a união familiar e a cooperação mútua entre todos. Nessa sociedade do eu, não há espaço para o nós, mas importante missão para o todo, são essenciais para a construção de um mundo melhor e mais justo.

        – Ah! Deixa disso amor! Ser rico é bom e nós seremos ricos.

        -É sim princesa. Agora pelo amor de Deus, escuta aí!

        – Ah, benhê!

        – Olha, é necessário saber que não há nenhuma fórmula mágica teoria é teoria e pratica é pratica. Devemos tomar medidas imediatas. Temos já que passar por um conversor de medida única e acabarmos de uma vez por todas com essa história de ricos e pobres. Transformemo-nos em pessoas com dignidade, com acesso à educação de qualidade, saneamento básico, informação, tecnologia, bem-estar… Sejamos iguais. E é importante frisarmos: Não há fórmula mágica e essa tal tecnologia de conversão para medida única não estará disponível em um dia ou dois: para torná-la possível será preciso que tanto ricos quanto pobres trabalhem juntos para que em um futuro não muito distante tenhamos a civilização ideal: tal qual a que foi descrita há muito pelo mito do esquecido e atualmente impossível socialismo.

         – Gostou benzinho?!

        – Hein?! Nunca vi porcaria maior…

        -Diz ai se ouviu querida?!

        -Você e essa sua mania de falar demais. Vambora durmir homi, que tá ficando é tarde e ocê não para com essa barulheira…

        E a história continuou, seu Joaquim falou e falou e dona Amélia ouviu e ouviu e nesse disse não disse criou os filhos, chegaram os netos e assim vão indo… como se vê até hoje: 2019…

        E não vai parar de crescer pois a semente lançada em terra fértil só evolui.