Ti’a roptsimani’õ: os A’uwẽ Marãiwatsédé tecem saberes para a construção de uma proposta curricular intercultural

Autor(a):

Luciana Akeme Sawasaki Manzano Deluci

Resumo:

O estudo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo principal elaborar uma proposta curricular, juntamente com a comunidade, para a Escola Estadual Indígena Marãiwatsédé, situada no Município de Bom Jesus do Araguaia/MT, que atenda às necessidades do povo A’uwẽ de Marãiwatsédé. Em meio ao processo, outros objetivos foram traçados: – compreender a função social da escola no contexto da aldeia Marãiwatsédé; – estabelecer um diálogo entre as Orientações Curriculares para Mato Grosso com a proposta curricular de Marãiwatsédé; – relacionar as fases da vida A’uwẽ com os ciclos de formação humana, propostos para as escolas estaduais de Mato Grosso e – iniciar a produção de material didático, como apoio pedagógico para os professores. A metodologia utilizada foi a qualitativa, que possibilitou o contato direto da pesquisadora com o campo de pesquisa e a utilização de vários procedimentos, entre eles: entrevistas, história oral, observação de campo, fotografia e análise de documentos. As entrevistas realizadas com anciãos, professores e pais permitiram compreender os anseios da comunidade, o que esperam da escola e da formação dos jovens. A história oral contribuiu para reunir narrativas que tratam da memória de Marãiwatsédé, das fases da vida do povo A’uwẽ Marãiwatsédé e do processo de reconquista do território ancestral. A análise de documentos, como a Constituição Federal de 1988, a LDB nº 9394/96, a Legislação Educacional para a educação escolar indígena, o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas e as Orientações Curriculares para Mato Grosso – Ocs – foi fundamental para a compreensão das especificidades da educação escolar indígena e dos direitos dos povos indígenas no Brasil. A observação de campo auxiliou na compreensão da importância do ritual Wapté Nhõno, das atividades cotidianas da aldeia, da organização social e dos processos de educação tradicional do povo. Por último, as fotografias históricas e do cotidiano permitiram visualizar alguns acontecimentos que dificilmente seriam explicitados em palavras, ou observados, como: o movimento dos corpos, a fisionomia expressa nos rostos e olhares, entre outros. Os resultados da pesquisa indicam que o povo A’uwẽ possui uma forte relação com o território de Marãiwatsédé, tanto que não mede esforços pelo direito da posse plena de suas terras. Acredita que somente com a recuperação efetiva do território pode retomar a história, por meio das memórias transmitidas pelos anciãos às novas gerações, para que estabeleçam vínculos com o lugar e a memória dos antepassados. Além disso, o levantamento das necessidades e dos problemas da comunidade foi fundamental para a definição do fenômeno “terra” que desencadeou as discussões a respeito da organização dos conceitos/conteúdos escolares – complexo temático -, imprescindíveis à elaboração de um currículo que atenda às necessidades da comunidade de Marãiwatsédé. Dessa forma, pode-se dizer que, no atual contexto histórico, a elaboração de uma proposta curricular que faça sentido precisa contemplar, principalmente, temas relativos ao território, à memória e à cultura do povo de Marãiwatsédé. 

Referência:

DELUCI, Luciana Akeme Sawasaki Manzano. Ti’a roptsimani’õ: os A’uwẽ Marãiwatsédé tecem saberes para a construção de uma proposta curricular intercultural. 2013. 186 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

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