Desmatamento crescente no Cerrado aponta sua entrega á devastação pelo agronegócio exportador

No Relatório Anual do Desmatamento (RAD) feito pelo MapBiomas referente ao ano de 2023, apontam que 61% da área desmatada em todo o país estava no Cerrado e 25% na Amazônia; sendo que mais da metade de toda a área desmatada no Brasil em 2023 está no Cerrado: 1.110.326 milhão de hectares foram devastados, um aumento de mais de 67% em relação ao ano anterior; onde foram suprimidos 3.042 hectares de vegetação nativa por dia. A Amazônia foi o segundo bioma mais destruído com 454.271 hectares. Esta foi a primeira vez, desde o início da série histórica do RAD, em 2019, que o Cerrado passou a Amazônia em devastação.

 

O maior alerta de desmatamento do Brasil aconteceu no Cerrado, com área de 6.691 hectares, no município do Alto Parnaíba (MA). A região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, está na frente da expansão da destruição do Cerrado, três em cada quatro hectares desmatados no Cerrado em 2023 (74%) foram no Matopiba, devido ao agronegócio, estimulado pelo mercado internacional. Em 2004, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia respondiam juntos por 4,15% do valor exportado, enquanto que no ano passado, a fatia foi de 9,6%.  Dois terços (33) dos 50 municípios que mais desmataram no Brasil ficam no Cerrado, sendo que os 10 municípios com maior área desmatada no Cerrado estão todos localizados no Matopiba. No ranking dos municípios que mais desmataram no país está São Desidério (BA), cujo principal bioma é o Cerrado, com 40.052 hectares suprimidos.

 

A fraca regulação ambiental no bioma Cerrado é um dos fatores que explica sua devastação, porque o Código Florestal obriga produtores rurais a preservar 80% da vegetação em suas propriedades na Amazônia, enquanto essa taxa é de 20% no Cerrado. A flexibilização de leis que favorecem a grilagem, a ausência de demarcação e titulação de terras indígenas e quilombolas e a violência contra povos e comunidades tradicionais movimentam uma máquina de saquear e escoar commodities – principalmente a soja – para a China, Europa e Estados Unidos.