Terra Prometida

        Ao longe ouvia-se um estrondoso som. Um avião a jato cruzava o céu. Ali naquela terra um sonho estava sendo concretizado. Foram anos de muitos planos e poucas economias, mas em fim o dia chegara. Um trabalho de 10 anos estava sendo posto à prova naquele dia. Seu Joaquim e dona Amélia estavam muito excitados por aqueles acontecimentos históricos.

        Será que haviam descoberto vida em outros Planetas?

        Não, claro que não, haviam decididos se mudarem com sua família para a vizinha Torixoréu – MT.  Era o dia de partirem, era o ano de nosso senhor Jesus Cristo 1946.  Seu Joaquim chamara dona Amélia para participar-lhe a boa nova:

        – Mulher venha cá. A nossa charrete está pronta, vamos viajar para nossa próxima morada. Hoje recebi a comunicação do compadre Zé Domingos sobre o tal pedaço de terra que está reservado para nós é só chegar, fincar barraca e tomar posse. Pegue a gurizada e vamos zarpar hoje mesmo.

        Dona Amélia não se fez de rogada, já não aguentava mais aquela vidinha sem graça de Guiratinga. Uma pasmaceira só!

        – Sabe crianças diz que Guiratinga significa garça branca, mas aqui de branca não tem nada.

        Aqui nessa terra é só poeira vermelha que se vê o tempo todo. E ela Pensava: É só a garça que é mesmo branca, arvura santa!

        Ainda devaneando ordenou aos filhos:

        – Aline tragam seu irmão vamos cuidar de nossa mudança para esta tal e afamada cidade brilhante, vamos em busca da nossa terra prometida.

       Tudo pronto, partiram para encontrar um lugar para chamar de seu conforme lhes garantira o compadre. Seguiram no novo modelo de transporte da época – a famosa charrete puxada por animais. O modelo “xt 3” custou cerca de cinco mil cruzeiros. Afinal eles tinham destino certo no espaço, haviam encontrado vida além de Guiratinga. Seu Joaquim estava animadíssimo, passaria a fazer parte dos pequenos e novos agricultores brasileiros do século 20. Viviam a República Nova, Marechal Eurico Gaspar Dutra era o novo Presidente.

        Caminhariam muitas léguas. Na tal cidade brilhante surgiam a todo momento novos núcleos familiares graças aos programas de incentivo lançados pelo Governo Federal bem como por conta de outros negócios como a extração de diamantes no vale do rio Araguaia.

        Assim no ano de 1946 chegam a Pouso Alto um distrito de Torixoréu – MT. Ali a família Sousa integrada por seu Joaquim, dona Amélia e seus dois filhos: Valdemar o mais velho e Aline a caçula. A família recém-chegada se instala na localidade denominada: Serrinha. Além da bagagem trouxeram o necessário para garantir o alimento das crianças até que conseguissem se instalar e arrumar algum meio de ganhar dinheiro.

        Seu Joaquim era conhecido por ser bom lavrador e dona Amélia se destacava por suas prendas domésticas e era também excelente costureira. Era ela a responsável pela educação dos filhos e disso não se descuidava. Na Fazenda Serrinha nasceram outros três últimos filhos: Francisco, Helena e Mariano acho que é nessa ordem. 

        Mulher legal – Dona Amélia. Ela não era de escutar e seu Joaquim falava demais. Escuta isso princesa, escuta aquilo princesa e buzinava o tempo todo no seu ouvido quando estava dentro de casa. Ela sempre lhe respondia sem às vezes ouvir direito o que ele estava falando.

        -O! Bota bobagem aí benhê!

        – É complicado prevermos o futuro de uma sociedade como a nossa. Temos o egoísmo como um dos pratos principais das famílias a cada dia. É difícil saber qual o futuro quando vemos a riqueza em detrimento de valores importantes como a união familiar e a cooperação mútua entre todos. Nessa sociedade do eu, não há espaço para o nós, mas importante missão para o todo, são essenciais para a construção de um mundo melhor e mais justo.

        – Ah! Deixa disso amor! Ser rico é bom e nós seremos ricos.

        -É sim princesa. Agora pelo amor de Deus, escuta aí!

        – Ah, benhê!

        – Olha, é necessário saber que não há nenhuma fórmula mágica teoria é teoria e pratica é pratica. Devemos tomar medidas imediatas. Temos já que passar por um conversor de medida única e acabarmos de uma vez por todas com essa história de ricos e pobres. Transformemo-nos em pessoas com dignidade, com acesso à educação de qualidade, saneamento básico, informação, tecnologia, bem-estar… Sejamos iguais. E é importante frisarmos: Não há fórmula mágica e essa tal tecnologia de conversão para medida única não estará disponível em um dia ou dois: para torná-la possível será preciso que tanto ricos quanto pobres trabalhem juntos para que em um futuro não muito distante tenhamos a civilização ideal: tal qual a que foi descrita há muito pelo mito do esquecido e atualmente impossível socialismo.

         – Gostou benzinho?!

        – Hein?! Nunca vi porcaria maior…

        -Diz ai se ouviu querida?!

        -Você e essa sua mania de falar demais. Vambora durmir homi, que tá ficando é tarde e ocê não para com essa barulheira…

        E a história continuou, seu Joaquim falou e falou e dona Amélia ouviu e ouviu e nesse disse não disse criou os filhos, chegaram os netos e assim vão indo… como se vê até hoje: 2019…

        E não vai parar de crescer pois a semente lançada em terra fértil só evolui.