Nos interstícios da soja: resistências, evoluções e adaptações dos sistemas agrícolas localizados na região do Refúgio de Vida Silvestre das Veredas do Oeste Baiano

Autor(a):

Cláudia de Souza

Resumo:

No Cerrado, a apropriação e a concentração de terras para o agronegócio deram continuidade a um processo iniciado há muito tempo e com o apoio das políticas públicas setoriais. Nas últimas três décadas, mais da metade do Cerrado brasileiro foi transformado em terras agrícolas de cultivos anuais e em pastagens plantadas. A soja, que ocupava cerca de 360 mil hectares, no Oeste Baiano, em 1990; em 2015, passou a ocupar 1,5 milhão de hectares. A lógica espacial produtiva do campesinato foi completamente alterada ao longo do tempo e os esforços de conservação do bioma são ínfimos, na comparação a outros biomas. Algumas unidades de conservação (UCs) estão localizadas em territórios de comunidades camponesas, como é o caso do Refúgio de Vida Silvestre Veredas do Oeste Baiano (Revis), localizado nos municípios de Jaborandi e Cocos, na Bahia. A pesquisa teve como objetivo identificar em que medida os sistemas agrícolas localizados nas comunidades situadas nos interstícios de unidades de conservação e o agronegócio, no Oeste Baiano, têm resistido, evoluído e se adaptado a essa coexistência. A tese formulada é de que é impossível haver a coexistência entre comunidades, agricultura empresarial e uma unidade de conservação de proteção integral no mesmo território. A justificativa é de que há resistências de ambos os atores em relação ao compartilhamento de um mesmo território e, dessa forma, não pode haver possibilidade de evolução e adaptação da agricultura familiar numa condição de dupla exclusão. Os dados primários dessa pesquisa foram obtidos, por meio da observação participante, no território do Revis, na comunidade do Pratudinho localizada dentro da UC e, nos interstícios de fazendas do agronegócio e a UC, na comunidade do Brejão, município de Jaborandi, Bahia. Informações relativas à UC e às fazendas do agronegócio sediadas em seu interior ou na zona de amortecimento também foram objeto da pesquisa. Analisamos, ainda, o problema em foco em vários municípios do Oeste Baiano. Os resultados nos permitem afirmar que há contrastes entre os sistemas produtivos no território estudado, havendo uma oposição entre paisagens, agrobiodiversidade, práticas dos fazendeiros e dos sistemas produtivos locais camponeses. Há ambém múltiplas interações, permeabilidades, interdependências entres os sistemas; as normas ambientais reforçam ou inibem estas relações. É possível evidenciar o “recuo” dos sistemas produtivos locais frente ao avanço da agricultura empresarial, em diversas escalas e setores, passando a estar encurralados muitas vezes em áreas protegidas. Apesar das lógicas opostas dos sistemas produtivos no território estudado, conclui-se que há uma interdependência entre eles, trabalho, terra e relações sociais. Como perspectiva, assinalamos que são necessários avanços no reconhecimento e aprimoramento dos sistemas produtivos locais, situados nos interstícios das monoculturas.

Referência:

SOUZA, Cláudia de. Nos interstícios da soja: resistências, evoluções e adaptações dos sistemas agrícolas localizados na região do Refúgio de Vida Silvestre das Veredas do Oeste Baiano. 2017. 311 f., il. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

Disponível em:

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