Fruto favorito do lobo-guará mostra potencial contra câncer de bexiga
A fruta-do-lobo, também conhecida como lobeira (Solanum lycocarpum), é uma planta nativa do Cerrado brasileiro e tem papel essencial na alimentação do lobo-guará, representando cerca de 50% da sua dieta. Agora, essa fruta típica da savana brasileira também se destaca na ciência: pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP desenvolveram, a partir de seus compostos, nanopartículas com potencial terapêutico para o tratamento do câncer de bexiga.
O estudo, publicado na revista científica International Journal of Pharmaceutics, integra a tese de doutorado de Ivana Pereira Santos Carvalho, defendida em 2022, e apresenta resultados promissores no uso de glicoalcaloides — solasonina e solamargina — substâncias naturais com propriedades anticancerígenas. Esses compostos foram incorporados em transportadores lipídicos nanoestruturados (NLCs), uma plataforma baseada em nanotecnologia para administração de fármacos.
A principal inovação está na forma de aplicação: as nanopartículas foram administradas diretamente na bexiga de animais de laboratório por meio da via intravesical, permitindo uma ação localizada e potencialmente mais eficaz, com menor impacto sistêmico. Entre as vantagens do sistema estão a alta estabilidade da formulação, a eficiência de encapsulamento dos princípios ativos e o baixo custo de produção.
A técnica utilizada para desenvolver as nanopartículas foi a emulsão seguida de sonicação, realizada em uma única etapa. A formulação combina uma fase aquosa (água destilada) com uma fase oleosa (manteiga de illipê contendo os glicoalcaloides), formando uma nanoemulsão que, ao ser resfriada, dá origem aos NLCs.
Segundo a professora Priscyla Daniely Marcato Gaspari, orientadora da pesquisa, “essa abordagem representa uma alternativa promissora para o tratamento do câncer de bexiga, ao unir compostos naturais e nanotecnologia para tornar as terapias mais eficazes e acessíveis”.
A urgência por novas abordagens terapêuticas é reforçada pelos dados mais recentes: em 2020, foram estimados cerca de 580 mil novos casos de câncer de bexiga no mundo, representando 3% de todos os diagnósticos de câncer. No Brasil, apenas naquele ano, aproximadamente 5 mil pessoas perderam a vida em decorrência da doença. Por isso, o desenvolvimento de terapias complementares ou alternativas aos tratamentos convencionais é cada vez mais necessário.
Fonte: Jornal da USP – Fruto favorito do lobo-guará mostra potencial contra câncer de bexiga