Fronteiras da trijunção: representações e memórias do sertão-gerais no Parque Nacional Grande Sertão Veredas

Autor(a):

Francisco da Paz Mendes de Souza

Resumo:

Essa pesquisa busca compreender Representações e Memórias do Sertão-Gerais, e a contribuição de ambas para a valorização de identidades, cultural e territorial, das Comunidades Tradicionais das Nascentes da Carinhanha no contexto das Múltiplas Fronteiras da Trijunção. Seu enfoque é sobre a Memória Coletiva do Geralista, categoria identitária nativa dos Núcleos Comunitários Veredeiros (NCV) do Parque Nacional Grande Sertão Veredas – PARNA-GSV, em sua Área de Ampliação criada em 2004, que denominamos PARNA GSV.2. A Região da Trijunção é um espaço de fronteiras (Agrícola, Ambiental e Cultural) não oficializado; se situa na intersecção dos estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais. Ela sofreu transformações lentas desde o século XVIII. Os impactos mais significativos sobre a Cultura Tradicional de grupos como o Geralista ocorreram com a chegada da Modernização Conservadora do Bioma Cerrado dentro do contexto influenciado pelo início de Brasília (1960/1980). Tais impactos provocaram des/re/territorializações precárias culminando com a criação dessa unidade de conservação (PARNA-GSV.1), em 1989. A Trijunção é zona de transição Cerrado-Caatinga: fica a 350 Km de Brasília. História Oral e História Cultural foram utilizadas como procedimentos teórico-metodológicos complementares nas abordagens sobre dezoito narrativas resultantes de entrevistas semiestruturadas feitas com dois subgrupos de Interlocutores: doze moradores rurais e seis urbanos; a maioria reside na própria Trijunção e parte na RIDE-DF. Todos são parentes consanguíneos ou por afinidade das quatro famílias desbravadoras (Mendes, Brito/“Bito”, Barbosa e Rodrigues), corresponsáveis pela territorialização veredeira da área convertida em PARNA-GSV.2. Esses interlocutores foram selecionados a partir do grau de ligação interparental com descendentes da Família-Tronco do Fazendeiro-Patriarca Rafael Mendes de Queiróz e Dona Rita Rodrigues de Almeida, antigos donos da maior parte do PARNA-GSV.2 conforme documento de 1907, que atesta terem sido eles proprietários da Fazenda Rodeio-Canabrava. A pesquisa identificou quatro categorias de marcação identitária presentes na Memória Coletiva entre essas Comunidades Tradicionais: Carinhanha-Gerais, Goiás-Januária, Sujeito Geralista e Povo/Pessoal do Parque. Por meio das memórias e de suas representações, constatou-se que ainda há fortes vínculos socioculturais dessas comunidades com o Sertão-Gerais; que seus membros problematizam, conscientemente, os impactos decorrentes tanto da Modernização Conservadora quanto por causa do PARNA-GSV; e ainda há entre eles uma intensa resistência cultural associada à Mímesis, que é a força revigorante de sustentação que mantém viva sua identidade filiada à Matriz Identitária Geraizeira. A análise do conjunto dessas narrativas (Geolexicopédia) apontou, entre outras alternativas, a de se fazer, imediatamente, a reformulação crítica do Programa de Gestão Ambiental e com ele redigir um segundo plano de manejo que inclua a criação de Zonas Histórico-culturais nos lugares rememorados pelos Geralistas.

Referência:

SOUZA, Francisco da Paz Mendes de. Fronteiras da trijunção: representações e memórias do sertão-gerais no Parque Nacional Grande Sertão Veredas. 2018. 400 f., il. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

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