Laurência Fernandes de Castro, comunidade Ribeirão dos Bois, Teresina de Goiás

“Nasci na comunidade Ribeirão dos Bois Município de Teresina Goiás, na era de 10/08/1935, nasci na roça, fui casada e agora sou viúva. Tenho sete fios (filhos) seis nasceu aqui só um que nasceu no município de Monta-Negue (Monte Alegre). Naquela época não tinha professor aqui, só na época dos meus meninos, sou analfabeta, trabaio (trabalho) na roça, sou partera (parteira). Durante minha vida trabaiei (trabalhei) na roça no cabo da enxada”.
As parteiras tem uma linguagem especial, específica dos quilombolas, parte delas foram preservadas nos relatos para melhor enfatizar a riqueza cultural e linguística da comunidade quilombola kalunga. O jeito de falar revela uma forma de comunicação com especificidades únicas que por outro lado preserva a cultura quilombola ao longo da história.
Dona Laurência revela como se deu todo o processo de inserção dela na vida de parteira voluntária, no trecho abaixo ela fala do assunto com muita precisão de detalhes:
“O que me levou ser partera foi por causa de minha mãe Joana, quando minha mãe ia pastejar (fazer parto), eu ia junto e ela foi mi ensinando fazer parto. Comecei com vinte e dois anos e fiz o primeiro parto de um minino lindo. Já insinei minha fia Dora e nunca deixei de ir atender ninguém seja a hora qui for de madrugada, de baxo di chuva com quibano na cabeça (quibano é um artesanato que usa pra peneirar o arroz). Sinto feliz porque o parto foi bom e já peguei (76) setenta e seis mininos aqui nessa região”.
Dona Laurência revela o ritual para realizar um parto feliz:
“Antes do parto eu faço o soro caseiro para esquenta e induzir a dor, depois, do parto outro soro para tirar a dor do coipo (corpo), manjericão, esponja, alho, algodão. Acho importante fazer parto, o primeiro que fiz foi muito emocionante e filiz, tô salvando uma vida. Nunca perdi nen um minino no parto Graças a Deus. Os parto qui fiz fui filiz e fiço com simpatia e benzimento, eu jafiço dois parto usando simpatia e benzimento, dipois eu tirei as criança igual um dotô(doutor), hoje essas crianças tão casados e filiz”. DONA LAURÊNCIA

“Os parto qui fiz fui filiz e fiço com simpatia e benzimento, eu já fiço dois parto usando simpatia e benzimento, dipois eu tirei as criança igual um dotô (doutor), hoje essas crianças tão casados e filiz”.

 

Fonte: SANTOS, Suziana De Aquino. Os saberes e fazeres das parteiras na comunidade Kalunga, Ribeirão dos Bois, Teresina –GO. 2015. 43 f., il. Monografia (Licenciatura em Educação do Campo)—Universidade de Brasília, Planaltina-DF, 2015.