Dona Delfina do Santos, comunidade Ribeirão dos Bois, Teresina de Goiás

Dona Delfina do Santos relata que nasceu no Vão das Almas, Município de Cavalcante, na beira de um córrego chamado Córrego da Serra, na área rural. Relata que é casada mais não no civil e sim no padre.
Com relação ao número de filhos ela diz: “Se tivesse ai tudo era treze filhos, mais Deus não quis, então eu tenho dez filhos vivos, cinco homens e cinco mulheres”.
Segundo Dona Delfina, os seus filhos nasceram na região que abrange o município de Teresina de Goiás. Com relação ao seu tempo de estudo, Dona Delfina revela:
“Na minha época não tinha escola aqui, meu povo não tinha condição de mi coloca pra fora pra mim estuda, o estudo era o cabo da inxada. Já trabaiei muito na roça e junto com meu marido ele era vaquero em fazenda” D. DELFINA
Sobre como aprendeu seu ofício de parteira, Dona Delfina afirma que “Por motivo de sua mãe Paula ser parteira, aprendeu com ela, a necessidade a levou a ter esse conhecimento e começou a exercer a profissão voluntária com vinte e dois anos, e continuou por muito tempo, agora está aposentada, mais por idade, mais se precisar, ainda pego menino, diz ela”.
Com relação à transmissão de seu conhecimento ela afirma não ter passado para ninguém e se justifica dizendo que “Não ensinei porque as pessoas novas não quer saber de aprender”.

Dona Delfina continua:
Todas as vezes que me chamava eu ia nunca neguei favor a ninguém, fico emprazerada (diz ela) porque deu tudo certo, o despacho ocorreu bem (quer dizer que o parto correu tudo bem). Eu já fiz 64 partos junto com minha mãe, para todos uso banho de sabonete virgem, com a folha da laranja e depois do parto usa os banhos de aperto (quer dizer banho vaginal), casca do caju, casca do jatobá, barbatimão e entre, outros. Quando a mulher ganha menino a placenta não sai, a gente pega o gergelim, leva no pilão, soca, tira o leite e leva pro fogo pra morna e da pra mulher beber, pra sai o resto do parto. DONA DELFINA
A solidariedade humana é a todo o momento relatada pela entrevistada, como no trecho que se segue:
“Acho importante para mim né e para quem tá grávida é uma forma de ajudar quem precisa, porque é um jeito que tenho de ajuda quem precisa. Nunca perdi nenhum menino no parto, sim mas não posso te dizer neste momento, mas vou te contar um acontecido comigo. Foi dona Cinézia, minha comadre que fez meu ultimo parto, nessa parição eu fiquei três dias ameaçada com dor, quando comadre chegou e tomou a frente e fez os benzimentos foi logo o menino pontou a cabeça pra nascer. Depois que o menino nasceu ela falou que eu não ia ter mais menino porque apinha (ovário ou aparelho reprodutor) já tinha secado, hoje meu filho caçulo tem 28 anos, ele chama ela de mãe Cinézia porque ela que pegou ele no parto quando eu tava parindo. Todos os meninos que nos pegamos chama nós de mãe porque nós é a mãe de pegação. Antes do parto rezamos pra dar tudo certo, depois para agradecer, como a Oração de Nossa Senhora do Bom Parto”.

 

Fonte: SANTOS, Suziana De Aquino. Os saberes e fazeres das parteiras na comunidade Kalunga, Ribeirão dos Bois, Teresina –GO. 2015. 43 f., il. Monografia (Licenciatura em Educação do Campo)—Universidade de Brasília, Planaltina-DF, 2015.