Buriti

Autor: Guimarães Rosa

 

O livro Corpo de baile, de Guimarães Rosa, foi publicado em 1956 e contém sete narrativas, sendo a última intitulada Buriti. Nela há a história de Miguel, adulto, formado em medicina veterinária, que, depois de morar muitos anos na cidade, retorna à fazenda “Buriti Bom” para trabalhar. O dono da fazenda era Liodoro, um homem rico, machista e dominador. Ele era pai de Glória e sogro de Lalinha, moça citadina, que se vê prisioneira do sertão. A sexualidade das duas se aguça na medida em que elas se encontram com Miguel nos campos rodeados de buritizais. O sertão faz desabrochar os desejos mais ocultos das personagens. O Buriti se torna símbolo do desejo e do amor.

 

ROSA, João Guimarães Rosa. Buriti. In. ROSA, João Guimarães Rosa, Noites do Sertão. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 1988. p.89-258.

Buriti

Nome científico: Mauritia flexuosa

 

Nome popular: Buriti

 

Família: Arecaceae (Palmae)

 

Forma de vida: Palmeira arbórea

 

Frutificação: ao longo do ano

 

Dispersão: mamíferos (mastocoria)

 

Habitat e distribuição: Savânico e florestal, em Mata de Galeria e Veredas, próximo a nascentes. 

 

Domínios: Cerrado, Amazônia e Caatinga.

 

Características da espécie: Palmeira de até 30 metros de altura, com estipe lisa. Quando adulta, possui 20 a 30 folhas palmadas, dispostas quase sempre em leque. Suas flores amarelo-alaranjadas são polinizadas pelo vento e apresentam-se em longas inflorescências ou cachos de até 3m de comprimento. Esta espécie destaca-se por ser uma ótima indicadora de água no solo, pois estão associadas com a existência de nascentes e poços de água.

 

Características dos frutos: Os frutos são ovoides, cobertos por escamas com coloração castanho-avermelhado, carnosos e com polpa marcadamente amarela e rica em cálcio. A maturação dos frutos tem pico entre julho e fevereiro.

Aproveitamente: O Buriti possui um grande potencial socioeconômico em decorrência de sua utilização comercial na produção de óleo, o qual contém quantidades expressivas de carotenoides (até o momento é fruta campeã mundial no teor de carotenoides) e vitamina E, apresentando atividade cicatrizante e antibacteriana. Os frutos, ricos em vitamina A e C, e possuindo ferro, cálcio e fibras podem ser consumidos ao natural ou em receitas, como doces, sucos ou outros produtos regionais. O fruto também possui ácidos graxos monoinsaturados, que auxiliam na absorção de vitamina A, e possui também alto teor de ácido oleico. Além disso, suas folhas e pecíolos são utilizados como matéria prima em construções e artesanatos.

 

Extração e Comercialização: Seguindo um padrão de outros frutos, o buriti também é colhido preferencialmente do chão depois de caírem naturalmente da árvore. Entretanto, os extrativistas que fazem a colheita também retiram cachos inteiros quando percebem que os frutos dali estão prestes a cair, a retirada desses cachos é por meio de escalada amarrando cordas nos pés quando este cacho está mais alto, e usa-se também varas de bambu para alcançar cachos mais baixos. 

 

Os catadores têm o cuidado de levar somente os frutos que eles conseguirão processar em um dia de trabalho, pois o fruto apodrece muito rápido depois de maduro, e o que não conseguirá ser processado deve ficar nos campos para que animais possam comer e fazer a dispersão, dando continuidade a espécie.

 

No processo para comercialização, a massa do buriti é conservada na geladeira para ser consumida in natura, ou poderá também ser desidratada para aumentar seu tempo de consumo em até um ano.

 

O óleo de buriti também é bastante vendido por estes produtores, algumas pequenas e grandes empresas compram esse óleo para cosméticos, e também para o uso como óleo essencial para aroma-terapia.

 

Aplicações: Tudo do buriti pode ser aproveitado, desde as folhas da árvore até a casca do fruto. 

 

É muito comum nas regiões centro-oeste encontrar artesanatos feitos com as folhas da árvore do buriti, uma vez trançadas, as folhas podem virar bolsas, cestos, vassouras, entre outros itens. A madeira do buriti só é usada por estes artesãos quando a árvore cai sozinha, a partir da queda então, os artesãos conseguem fazer bancos e mesas que são muito apreciados para a montagem de jardins ornamentais, que muitas vezes, também tem a própria árvore como ornamento, uma vez que ficam muito bonitas quando agrupadas.

 

O óleo de buriti também vem sendo explorado pela indústria de cosméticos, já que ele possui muitas vitaminas. Tem sido aplicado em loções pós sol pois ajuda a proteger a pele contra a descamação, aliviando a vermelhidão por conta de efeito que relaxa a área. No rosto, o óleo garante o brilho e maciez, podendo ser usado até para peles acneicas pois ajuda na cicatrização. Nos cabelos, ele garante hidratação profunda, podendo ser utilizado em xampus e condicionares.

 

Na gastronomia o buriti também é aproveitado para receitas, principalmente, doces, como bolos, sucos, mousse e geleias. 

 

Importância social e econômica: O buriti tem um impacto gigante no agroextrativismo, uma vez que pode ser usado de diversas maneiras. Por isso, o uso sustentável do buriti tem grande prestígio para as comunidades que dele dependem, desde os extrativistas que colhem o fruto, até artesãos que usam as folhas das árvores em seus trabalhos. O buriti ajuda a manter a qualidade da água nas veredas, o que beneficia toda a população próxima.

Estima-se que 2.000 kg de massa de buriti gere R$ 10.000 (dez mil) durante o período de uma safra (ISPN, 2011).

 

Ameaças: Não é novidade que o fogo vem destruindo o cerrado e suas plantações únicas, isso vem ocorrendo com uma frequência devastadora. Com o buriti também não é diferente, o fogo destrói as plantações, o que acarreta em toda uma cadeia de produtividade e sustentabilidade afetada. O desmatamento também vem sendo constante, devido a boa qualidade da madeira do buriti, as árvores têm sido cortadas para fabricação de móveis rústicos por grandes empresas que além de destruírem o cerrado, ainda tiram o sustento de famílias que dependem dessas árvores para sobreviver.

 

Referências

AVIDOS, Maria Fernanda Diniz; FERREIRA, Lucas Tadeu. Frutos do Cerrado: preservação gera muitos frutos. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento. 

 

BATISTA, Jael Soares et al. Atividade antibacteriana e cicatrizante do óleo de buriti Mauritia flexuosa L. Ciência Rural, Santa Maria, v. 42, n. 1, p. 136-141, jan. 2012. 

 

KUHLMANN, Marcelo. Frutos e sementes do Cerrado: espécies atrativas para a fauna. 2ª ed., Brasília, 2018.

 

ROSSI, Ana Aparecida Bandini; GOMES, André Delgado; SILVEIRA, Greiciele Farias da; RAMALHO, Aline Bueno; BARBOSA, Rosieli.  Caracterização morfológica de frutos e sementes de Mauritia flexuosa (Arecaceae) com ocorrência natural na Amazônia Matogrossense. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 10, n. 18, p. 852-862, 01 jul. 2014. 

 

KINUPP, Valdely; LORENZI, Harri. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, 2019. São Paulo.

 

LULKIN, Claudia Isabel. Do cerrado para a mesa: articulando agricultura familiar com alimentação escolar pelas frutas nativas. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Sociobiodiversidade e Sustentabilidade no Cerrado) —Universidade de Brasília, Alto Paraíso de Goiás – GO, 2018. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/22281/1/2018_ClaudiaIsabelLulkin_tcc.pdf

 

SAMPAIO, Maurício. Boas Práticas de Manejo e Extrativismo Sustentável do Buriti. Brasília. 2011. Disponível em <https://ispn.org.br/site/wp-content/uploads/2018/10/BoasPraticasBuriti.pdf> Acesso em: 20 out. 2020

 

ALMEIDA, Semiramis; SILVA, José. Piqui e Buriti – Importância alimentar para a população dos cerrados. EMBRAPA. Brasília, 1996. Disponível em <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/548665/1/doc54.pdf> Acesso em: 21 out. 2020.

Mauritia flexuosa L. f.

Nomes populares

Buriti, Miriti.

Família

Arecaceae (palmae).

Forma de vida

Palmeira arbórea. 

Frutificação no Cerrado

Ao longo do ano.

Dispersão

Mamíferos (mastocoria) dispersam os frutos. 

Usos

Alimentício, medicinal, artesanato, paisagismo.

Habitat no Cerrado

Vareda, Palmeiral (buritizal) e Mata de Galeria inundável.

Domínio

Amazônia, Caatinga, Cerrado.

Distribuição

Acre, Amazônia, Pará, Roraima, Tocantins, Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.

Referências

Fonte: KUHLMANN, Marcelo. Frutos e sementes do Cerrado: espécies atrativas para a fauna. Volumes I e II, Brasília, 2018. Disponível em: http://frutosatrativosdocerrado.bio.br/

 

Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ >. Acesso em: 6 jul. 2020