Avaliação ecotoxicológica das cinzas de queimadas do Cerrado em ambientes aquáticos.
Autor(a):
Darlan Quinta de Brito
Resumo:
No cenário mundial das mudanças climáticas, vários estudos preveem o aumento das queimadas em diferentes partes do mundo. Grandes extensões de áreas nativas e de pasto são queimadas no Bioma Cerrado anualmente, e o mau uso da prática de queimadas durante os períodos de estiagem tem acarretado sérios danos à biodiversidade dos ecossistemas e à saúde da população. Com o advento das chuvas após o período de seca no bioma Cerrado, grande quantidade de cinzas da biomassa são lixiviadas e entram nos sistemas aquáticos, podendo ocasionar efeitos adversos. Diante disso, o presente trabalho propôs-se a avaliar os atributos químicos das cinzas e do solo de três áreas distintas queimadas em setembro de 2010. Avaliou-se, também, o potencial de toxicidade das cinzas provenientes de áreas do bioma Cerrado e de uma área de pasto por meio de testes ecotoxicológicos com Ceriodaphnia dubia, o peixe Danio rerio e o molusco Biomphalaria glabrata. Um vasto grupo de metais (Al, B, Ca, Cd, Cr, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Mo, Ni, P, Pb, S, Si, Sr, V, Ti e Zn) foram determinados e quantificados no solo, nas cinzas e na solubilização das cinzas. A comparação química das três áreas apresentou pouca diferença qualitativa, sendo que a quantidade dos elementos químicos foi o aspecto de maior relevância. A composição química das cinzas apresentou valores superiores à composição química do solo, no entanto apenas uma pequena parcela dos compostos são solubilizados. Apesar disso, a presença das cinzas na água elevou os sólidos solúveis totais (STD) e a condutividade elétrica (CE), devido à presença dos sais dissolvidos. Os íons aumentaram o pH e diminuíram o OD na água, alterando, portanto, a qualidade da água. Os testes conduzidos no laboratório indicaram que ambientes lênticos podem ser mais sensíveis aos efeitos das cinzas das queimadas em comparação aos ambientes lóticos. Com relação aos efeitos ecotoxicológicos, constataram-se diferenças de toxicidade das cinzas para os organismos estudados. Todas as cinzas apresentaram um índice elevado de toxicidade no ensaio de C. dubia (CL50-48hs: 6.33% (4.83-8.28) cinza de Pasto). Com relação aos ensaios com o D. rerio e com B. glabrata, não foi constatada toxicidade para as cinzas de Pasto e Torre. As cinzas da Lagoa Bonita (área de transição cerrado sentido restrito para vereda) apresentaram toxicidade para D. rerio (CL50-24hs: 31.50%; CL50-48hs: 25.0 %) e B. glabrata (CL50-24hs: 50.0 % (37.7- 66.4); CL50-48hs: 35.4 %). Estes resultados demonstram que as queimadas influenciam a toxicidade às águas superficiais, tornando este ambiente tóxico para a sobrevida de comunidades aquáticas
zooplanctônicas, independentemente da fitofisionomia e da paisagem, e enfatizam portanto a necessidade de estudos mais aprofundados para melhor compreender-se a complexidade dos efeitos ecológicos do fogo em comunidades aquáticas.
Referência:
BRITO, Darlan Quinta de. Avaliação ecotoxicológica das cinzas de queimadas do Cerrado em ambientes aquáticos. 2014. 120 f., il. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural)—Universidade de Brasília, 2014.