O regime de chuvas na Amazônia Meridional e sua relação com o desmatamento
Autor(a):
Nathan dos Santos Debortoli
Resumo:
As zonas de transições da Amazônia e do Cerrado são grandes produtoras nacionais de commodities e detentoras de vasta biodiversidade. Essas regiões são dependentes da água gerada por meio de diversos mecanismos físicos-climáticos presentes na biosfera. Apesar da importância da região para a agricultura, os ecossistemas e o clima regional do Brasil, poucos estudos têm explorado e analisado em profundidade a rede de estações pluviométricas da Amazônia Meridional. Com o intuito de suprir a lacuna, este estudo analisou 207 estações pluviométricas da Agência Nacional das Águas (ANA) no Sul da Amazônia e no Cerrado no período de 1970-2010, utiizando-se dos testes estatísticos não-paramétricos de Pettitt que identifica rupturas nas séries cronológicas pluviométricas, o teste de Mann-Kendall que detecta tendências anuais e sazonais dos índices pluviométricos, e uma análise de regressão linear que identifica tendências sutis de acréscimo ou decréscimo nas precipitações. O teste de Pettitt indicou um total de 16% de rupturas nas séries cronológicas de chuva enquanto que o teste sazonal/mensal de Mann-Kendall coloca em evidência que 41% das estações apresentam tendências negativas principalmente nas estações de transição (início e fim da estação chuvosa). Já a análise de regressão linear indicou que 63% dos dados apresentam tendências negativas nas precipitações. Como complemento também foram identificadas as datas do início e fim da estação chuvosa. Esta se deu por meio da adaptação de método estatístico atrelado às análise de tendências de Mann-Kendall e de regressão linear. Os resultados sugerem fortes contrastes entre o Sul Amazônico e o Cerrado. Esta análise cronológica do período chuvoso indicou o atraso significativo no início da estação chuvosa para 84% das estações, e um fim prematuro em 76%, além da redução do período em 88% dos casos. Por fim, foi desenvolvido, examinado e verificado a correlação de dados climáticos e cobertura do solo através da análise climática oriunda da regressão linear, e da classificação do uso da terra adquiridos do satélite LANDSAT 5 a partir de uma perspectiva temporal. A correlação dos dados delimitados por zonas tampão de 1-50km e divididos em 3 períodos cronológicos anteriores a 1997, entre 1997-2010 e o acumulado de 2010 contemplam o total de floresta. As análises indicam que os padrões de precipitação local não são correlacionados diretamente a cobertura florestal. No entanto, a metodologia de zonas tampão sugere que quanto maiores as áreas de floresta, maiores são as probabilidades destas influenciarem as precipitações, ao contrário de pequenos fragmentos florestais como indicado nos resultados das correlações até 50km. Apesar dos dados climáticos não mostrarem correlação significativa com os dados da cobertura florestal, as análises dos testes de Pettit, Mann-Kendall, regressão linear e de identificação do período chuvoso vão em direção de descobertas recentes com foco nos modelos de circulação em larga-escala, que incluem a cobertura florestal como variável. Esta disparidade nos resultados nos levam a duas hipóteses: uma de que a correlação dos dados pluviométricos não existe localmente, e outra, de que a ferramenta utilizada não consegue captar a correlação, fortalecendo as análises dos testes estatísticos climáticos, que indicam uma superposição e ou apontam para uma existência de correlação da pluviometria com a cobertura florestal, embora não a demonstre explicitamente.
Referência:
DEBORTOLI, Nathan dos Santos. O regime de chuvas na Amazônia Meridional e sua relação com o desmatamento. 2013. 217 f., il. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.