Dona Maria Pereira, comunidade Ribeirão dos Bois, Teresina de Goiás

“Nasci no Vão de Alma, e me criei aqui no Ribeirão 20/04/1941, só mãe de dez filhos eles nasceram aqui na comunidade, não tive oportunidade de estudar porque meus pais num deixava, com medo de perde a virgindade. Escola só tinha em Cavalcante eu tinha tanta vontade de estudar, ser uma doutora, mas não tive condições e
oportunidades. Sou aposentada, trabalhei na roça, fiava e tecia cobertores de algodão, fazia o parto das mulheres da comunidade. Foi a necessidade num dia em que uma mulher estava comigo sozinha, sentiu a dor, fui obrigada fazer o parto dela, a partir daí comecei a ser enfermeira e nunca deixei de atender ninguém por falta de vontade seja a hora que for de dia e ou de noite. Sinto alegria sempre que realizo mais um parto. Fiz (66) sessenta e seis partos”.
Dona Maria nos revela ainda com simplicidade e suas palavras como procedia o trabalho de parto:
“nois já tinha o remédio né pra isquenta a dor da muié dava um ovo esquentado com a pimenta do Reino batia a gema du ovo, e dava pra bebe pra fica forti”, depois do parto tinha o vinho do algudão carrapicho e lagramina”. – D. MARIA PEREIRA)
Dona Maria Pereira vai desfiando um novelo de linha, ao mesmo tempo parece desfiar a vida, com uma riqueza de detalhes que faz os olhos lacrimejar, pela sensibilidade e humildade que revela a vida de parteira:
“Tudo que faço, vem primeiro nossa senhora do parto, porque eu não aguento vê ninguém sofrendo por falta de ajuda, sinto feliz porque tô ajudando essas mães. Entonce agente pega um caju com barú pra fazê banho de aperto depois de três dia e pra sara aos poucos. Os partos que já fiz e ajudei graças a Deus fui feliz nunca perdi nenhuma criança. Durante o parto não faço nada só a Fé em Deus” DONA MARIA PEREIRA
Dona Maria fala que no hospital os doutores não ajudam as mulheres do jeito que as parteiras ajudam na comunidade. Ela ainda diz que o que se passa durante o parto não pode revelar, porque as parteiras são iguais aos doutores e enfermeiras, tem de guardar segredo, não pode revelar a vida da paciente.
Observa-se que além de uma profissão não remunerada, é um trabalho voluntário, sem reconhecimento do poder público, porém as parteiras partilham de uma ética, ou seja, de valores de preservação da intimidade de suas pacientes e também de valores e crenças das mesmas na realização dos partos.

“Tudo que faço, vem primeiro nossa senhora do parto, porque eu não aguento vê ninguém sofrendo por falta de ajuda, sinto feliz porque tô ajudando essas mães. Entonce agente pega um caju com barú pra fazer banho de aperto depois de três dia e pra sara aos poucos. Os partos que já fiz e ajudei graças a Deus fui feliz nunca perdi nenhuma criança. Durante o parto não faço nada só a Fé em Deus” DONA MARIA PEREIRA

 

Fonte: SANTOS, Suziana De Aquino. Os saberes e fazeres das parteiras na comunidade Kalunga, Ribeirão dos Bois, Teresina –GO. 2015. 43 f., il. Monografia (Licenciatura em Educação do Campo)—Universidade de Brasília, Planaltina-DF, 2015.