O território Xavante em ameaça: resistir para não dividir
O Cerrado está no centro da cultura e da organização social xavante. Enquanto ele é entendido pelo Estado como um objeto sem agência, que está disponível para o uso humano e que pode ser explorado pelos grandes empreendimentos em nome do “desenvolvimento nacional”, para os xavante, e outros povos indígenas, o Cerrado tem outra essência: ele é um ator que possibilita o modo de vida, o modo de pensamento, a cultura xavantes. Berenice Redzani Toptiro, da TI Sangradouro/Volta Grande, é professora com estudos em Educação Intercultural pela Universidade de Goiás (UFG). Ela nos contou como o Cerrado, na verdade, é o sujeito central de toda a visão de mundo xavante, já que é ele quem dá a vida, é ele quem oferece tudo aquilo que nutre o corpo e a alma dos xavante. O cará, o pequi, o feijão xavante, a onça, o porco do mato, a palha e as toras de buriti, as águas e as montanhas são alguns dos elementos gerados pelo Cerrado e que garantem a soberania alimentar de diversos povos e comunidades.
Nutrir-se com o Cerrado não tem relação apenas com a alimentação, mas também com o mundo espiritual. Os rituais e cerimônias dos xavante, por exemplo, precisam desses frutos, raízes, árvores e animais que o Cerrado oferece e a contrapartida xavante é, justamente, o cuidado com essa terra. É preciso cuidar porque o Cerrado também é aquele que guarda a alma dos guardiões, dos ancestrais, daqueles que vieram antes e possibilitaram que os de hoje continuem ali. “E essa alma está ligada no Cerrado e na natureza que fortalece a nossa mente, que nós respiramos todos os dias no ar puro”, reforçou Berenice. No texto “O território Xavante em ameaça: resistir para não dividir”, escrito por Hiparidi Dzutsi´wa e Ana Carolina, temos em detalhes como os projetos impulsionados pelo atual governo do Brasil afetam a terra, o acesso aos alimentos, à agua e a organização cultural dos povos e comunidades tradicionais.
Sem consulta legal a comunidade, os incêndios e o desmatamento na Terra Indígena Xavante, em Mato Grosso, que giram em torno do projeto inconstitucional “Agroxavante”, traz as consequências dos interesses políticos de ruralistas da região e de parlamentares. Essa intervenção política tem provocado diversos conflitos no território.
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Ouça a voz que vem dos povos e comunidades tradicionais!