Leituras e compreensões de cerrado pela comunidade do Assentamento de Rio Bonito, em Cavalcante
Autor(a):
Angela Valdilena Velasco França
Resumo:
Este trabalho é um mergulho no universo dos moradores do Assentamento Rural Rio Bonito/Órfãos, no Norte de Goiás, para entender as percepções e interrelações deles com o lugar e com o Cerrado. Os conceitos utilizados foram os de Pertencimento, Topofilia e Representação Social. Na pesquisa, foram feitas entrevistas semi-estruturadas, com abordagem direta e coleta de dados por meio de interações e descrições de pessoas e lugares. A técnica para análise do material é a do Discurso do Sujeito Coletivo, que tem como foco captar as representações sociais, com fundamento na teoria da Representação Social. Consiste na sistematização de dados qualitativos por meio da tabulação dos dados. Para isso, foi empregada a ferramenta Qualiquantisoft, que auxilia na identificação das representações sociais. O trabalho identificou de que forma os moradores se apropriam do ambiente e interagem com ele e em que medida sua relação com o lugar lhes é relevante ou indiferente. Viu-se que essa tarefa, ao mesmo tempo em que é facilitada pelo fato de 70% dos entrevistados terem afeição pelo lugar e de 47% se sentirem pertencentes a ele, é dificultada pela precariedade da infraestrutura e pela carência de serviços públicos básicos no assentamento. Mas o senso de pertencimento e as representações sociais que as pessoas têm sobre o Cerrado podem ajudar a impedir a degradação ambiental. Ao mesmo tempo em que 29% demonstram, em suas respostas, manter com o Cerrado uma relação sustentável, e 30%, uma relação de fruição, é expressiva (32%) a parcela dos que não expressam uma compreensão conceitual do Cerrado. Para esses a interação com o bioma se dá puramente pela vivência. Quanto ao significado do Cerrado, as visões dos moradores são muito diversificadas – a maioria o vê como reserva ambiental (22%) ou tem dele uma visão utilitarista (22%). Outras visões são a beleza cênica (12%), o aspecto lúdico (6%). Chega a 13% o total dos moradores que vêem o Cerrado como área a ser desmatada para produção. As múltiplas formas de representação dos moradores com o Cerrado evidenciam que, na maioria, eles estabelecem uma relação de fruição com o ambiente e têm dele uma visão utilitarista, de aproveitamento do solo para agricultura e pecuária e de extração de madeira para construção. Na prática, aceitam que uma parte do Cerrado seja removida para o plantio e para a criação de gado. Outros têm o Cerrado como lugar de coleta de frutas e plantas medicinais. Ou seja, o bioma é de suma relevância para as pessoas, pois podem usufruir dos recursos naturais. Uma parcela mínima da comunidade considera o Cerrado irrelevante para reproduzir modos de vida. E alguns até vendem madeira, retirada da reserva legal, sem se preocupar com o replantio, como forma de conseguir renda para amenizar a situação precária em que vivem.
Referência:
FRANÇA, Angela Valdilena Velasco. Leituras e compreensões de cerrado pela comunidade do Assentamento de Rio Bonito, em Cavalcante, Goiás. 2014. 69 f., il. Monografia (Bacharelado em Gestão Ambiental)—Universidade de Brasília, Brasília, 2014.