Árvores nativas do Cerrado na pastagem: por quê? Como? Quais?

Autor(a):

Elisa Pereira Bruziguessi

Resumo:

A pecuária é atividade de grande importância no mundo. Pastagens ocupam 70% das áreas agrícolas mundiais e são, ainda hoje, a principal causa do desmatamento nos países tropicais. O Brasil é o maior exportador de carne e o segundo maior produtor. O Cerrado possui a maior extensão de pastagens do país e contem aproximadamente metade do rebanho nacional. Diante da importância e dos impactos desta atividade é necessário implantar práticas pecuárias que comportem melhor utilização e gestão dos recursos naturais. Sistemas silvipastoris (SSP) representam uma dessas alternativas, eles podem aumentar a produtividade e bem-estar animal além de permitir a manutenção de serviços ambientais. A tese aborda SSPs com árvores nativas do cerrado lato senso, modalidade ainda pouco estudada. Por meio do estudo das diferentes configurações deste tipo de SSP e das espécies arbóreas que o compõe (ou podem compor), pretende-se contribuir com o desafio de conciliar produção pecuária com produtos florestais, manutenção dos serviços ambientais, conservação da biodiversidade e da cultura local. Pretendeu-se conhecer a estrutura e a riqueza das árvores e seus regenerantes nesta modalidade de SSP. Foi realizado levantamento das árvores em 1 ha de SSP em cada uma das 47 áreas estudadas e dos regenerantes em 800m2 em 16 áreas na zona central do bioma Cerrado. Realizou-se entrevistas com 51 pecuaristas para diagnosticar as motivações e os desafios na adoção desta modalidade de SSP e conhecer de que forma eles manejam seus sistemas e influenciam na dinâmica desta vegetação. Pode-se perceber uma diversidade de configurações dos SSP contendo poucas até muitas árvores nas pastagens (de 6 a 503 árvores /ha), podendo apresentar elevada riqueza (4 a 45 espécies/ha). Os pecuaristas que possuem alta renda e intensificação técnica, raramente possuem elevada densidade de árvores nas pastagens, mas ainda assim apresentam grande amplitude de densidade e riqueza de árvores em seus SSPs. Esta amplitude foi ainda maior entre os que possuem menor renda e intensificação técnica. Os entrevistados mostraram conhecer bem as espécies que compõe seu SSP, as selecionam baseado em um conjunto de utilidades que elas geram como madeira, frutas e benefícios ao capim e aos animais. As pastagens demostraram elevada capacidade de regeneração arbórea e uma distribuição dos diâmetros que parece garantir a perpetuação dos SSPs. Diante da elevada riqueza arbórea do bioma Cerrado torna-se necessário conhecer quais as espécies que apresentam maior potencial para comporem SSPs. Com este objetivo foi realizada a caracterização de 23 espécies nativas do cerrado lato senso, frequentes nos SSPs, com foco em atributos úteis, capazes de influenciar estes sistemas. Utilizou-se um conjunto de informações provenientes de levantamento em campo, entrevistas e revisão de literatura. Detalhou-se características da arquitetura da copa das árvores, seus potenciais de gerar produtos úteis e comerciáveis, a capacidade de fixar nitrogênio ao solo, de associar-se a micorrizas e de influenciar a cobertura decapim sob suas copas; além de fornecer forragem ou causar efeitos indesejáveis aos animais. Estas informações podem embasar e encorajar pecuaristas na escolha das árvores nativas para compor seus SSPs. Para os casos em que as pastagens perderam a capacidade de regenerar, os pecuaristas podem desejar plantar espécies nativas. Verificou-se a viabilidade da semeadura direta para esta finalidade com 10 espécies do cerrado sentido restrito, plantadas em uma pastagem em Planaltina-DF. Houve 12 repetições (linhas), em cada uma plantou-se 60 sementes de cada espécie. Das 7.200 sementes plantadas, 47,8% emergiram e 26,5% estavam vivas após 42 meses do plantio, o que representa 2,7 plantas por metro linear. Esta alta densidade permite a escolhas dos indivíduos mais vigorosos e bem posicionados de acordo com as preferencias dos pecuaristas. O crescimento das plantas até os 42 meses foi muito lento, atingindo média de 28 cm para Caryocar brasiliensis, espécie que apresentou crescimento mais rápido. Uma alternativa é o consórcio com culturas agrícolas para aproveitamento da área enquanto estas árvores crescem. Sistemas silvipastoris com árvores do cerrado merecem ser melhor estudados, estimulados e aperfeiçoados já que conciliam a produção e conservação.

Referência:

BRUZIGUESSI, Elisa Pereira. Árvores nativas do Cerrado na pastagem: por quê? Como? Quais? 2016. 163 f., il. Tese (Doutorado em Ciências Florestais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

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