Evandro Alves
Nasceu em 1976 em Itabira (MG), mas foi criado na pequena e fluída fronteira que divide e amarra o espaço rural e urbano da cidade de Lagoa Santa (MG). Naqueles cerrados aprendeu a sujar os pés com terra vermelha; pisar de lado em cascascalheiras; remendar chinelos com prego; comer murici, cajuzinho, sangue-de-cristo e outras frutinhas do mato; acompanhar procissões de sapos depois da chuva; calcular o tempo que um aviãozinho cruza o céu (sem fazer barulho); achar aranhas escondidas em buracos no chão; cair de bicicleta; escutar com atenção a cantoria das cigarras; comer paisagens com os olhos; espiar ninho de coruja-buraqueira em cupinzeiro; amar a tortuosidade de arvorezinhas descoloridas no alto da seca; achar urubus escondidos no fundo de qualquer azul de céu; ler o que não está escrito nos livros e desenhar isso tudo no chão e em folhas de papel. Autodidata, começou a desenhar cartuns, charges, tiras e histórias em quadrinhos no ano de 1993 e não parou mais. Publicou seus trabalhos nos jornais “O Estado de Minas (MG)”,
“O Tempo (MG)”, “Diário da Tarde (MG)”, “Super Notícias (MG)”, “Pasquim 21 (RJ)” Folha de São Paulo (SP) e Le Monde Diplomatique Brasil. Entre 2000 e 2006 foi roteirista freelancer dos estúdios Maurício de Sousa Produções.
Foi premiado e recebeu menções honrosas nos salões de humor mais importantes do Brasil:
– Salão Internacional de Humor de Piracicaba (2003/2016) – Salão Internacional de Humor Carioca (2001)
– FIHQ-Pernambuco (2007/2018)
– II Festival Internacional de Desenho para Imprensa (2009)
– Salão Internacional de Caratinga (1999/2000)
– Salão Nacional de Humor de Volta Redonda (1998, 1999, 2005, 2016)
– Salão Nacional de Humor de Ribeirão Preto (2005)
– Salão Nacional de Presidente Prudente (2003) – III Salão De Humor de Paraguaçu Paulista (2007)
– Salão de Humor Fonacate Sobre Gastos Públicos (2019)
– Festival Internacional Águas de Março (2020)
Minha relação com o Cerrado vem de muito cedo, desde que comecei a me entender por gente, lá no comecinho dos anos oitenta do século passado. Lembro-me da primeira casa que minha família morou em Lagoa Santa fazia fronteira com uma grota e do outro se abria um belo campo cerrado com um bem bom pequizeiro no centro. Não sei se sobrou ali por relíquia de outros tempos ou se resolveu de teimoso morar no meio do campo aberto – irmão mais velho das outras arvorezinhas rasteiras do “de redor”. Toda manhã eu atravessava a grota para tentar chegar perto dos urubus que costumavam pousar na tortuosa árvore. Era quase religião, só faltava pai-nosso e amém. Atravessar aquele espaço com o capim orvalhado das manhãs molhando a roupa para chegar nos urubus era uma aventurazinha diária minha. Jabuticaba dos olhos brilhava. Mas nunca que cheguei nem perto das aves; urubus naqueles tempos eram um tanto quanto ariscos e ao menor sinal de aproximação alçavam voo pra longe. Hoje os reizinhos pretos do céu se acostumaram com os homens… Descobriram que a gente é lixo ou pelo menos comandantes das coisas que apodrecem o mundo, será? Será? Não sei… Mas deixemos isso de lado. Esse é um pensamento bom pra navegar em outras horas. Pois bem, mas foi naquela época lá que fui tomando gosto pelo cerrado e vontade de mostrar ele pro mundo. Aquele gostar que vem do cheiro, dos sons, do que os olhos apreceiam. O gostar da tortuosidade das árvores, das frutinhas do mato, tagarelice dos passarinhos, do zumbir dos besouros, da gritaria das cigarras, dos grilos escondidos no capim e do céu de um todo azul no alto da seca se formou ali – como um riachinho em seu nascedouro no alto da serra. Calmo. Hoje com o andar da idade aquele fiapo de sentimento engrossou e transborda em ribeirão que hora descamba pra mansas veredas e hora precipita em aflitas corredeiras que serpenteiam em caminhos tortos de pedra cortante. Confusão de sentimentos. Porque vendo o Cerrado sumir o gostar se torna preocupação, medo , tristeza… Confusão de sentimentos porque dele nasce minha obra, parte grande do que sou. Meus traços, meus abraços, minha escola, minha luta, meu quintal, minha inspiração. Vontade minha é não deixar esse pedaço meu ir embora, como um bicho que voou pra longe, para o nunca mais da vida.
2003: publica sua primeira hq na revista Grafitti 76%Quadrinhos (MG);
2005: participou do livro “Uma Doze de Humor Mineiro”, publicação que reuniu grandes nomes do humor de Minas Gerais.
2007: foi eleito pelo Portal UOL como um dos cartunistas que mais se destacaram naquele ano.
2009: recebeu o Troféu Lor de Melhor Tira – Artista Mineiro.
2009 – 2014: publicou ilustrações, charges e quadrinhos na Revista MAD (BR).
2011: participou, à convite da Maurício de Sousa Produções, do Livro MSP Novos 50 – Coletânea em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa que reúne o trabalho de 50 quadrinistas brasileiros.
2012: lançou o álbum em quadrinhos “A Rua de Lá” pelo selo 100% Quadrinhos da Editora Graffiti.
2013: publicou pela primeira vez um trabalho em terras estrangeiras no semanário Courrier International da França.
2014: concluiu o mestrado em Geografia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apresentando a dissertação “Cerrado em Quadrinhos – Experiências e Contribuições Para o ensino de Geografia”.
2015: dentre outros trabalhos, ilustrou a capa do DVD “Cavalo Motor” do músico e compositor Makely Ka, publicou seus quadrinhos na coletânea de quadrinhos “Stripolis” na Sérvia e lançou o livro “Cerrado em Quadrinhos” pela Editora Nemo. Neste mesmo ano foi responsável pela exposição temática sobre o Cerrado no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ).
2016: participou como letrista e fez o projeto gráfico e as ilustrações do álbum “Pra Quem Está Vivo” do instrumentista e compositor mineiro Raul Mariano.
2016: apresentou a exposição “ Sertrangênicos” e “Cerrado em Quadrinhos” na Galeria Georges Vicent da Aliança Francesa Belo Horizonte – sua primeira mostra individual.
2017: passa a publicar quadrinhos na revista underground “Cavalo de teta”(SP).
Atualmente: publica ilustrações, cartuns, caricaturas, quadrinhos e charges como freelancer e toca as páginas “Cerrado em Quadrinhos”, “Material Poético” e “Piter Gast” no facebook
e no Instagram.
E-Mails:
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Telefones:
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