A rede de produção de Soja Certificada RTRS de Mato Grosso e Goiás

Autor(a):

Werlen Gonçalves Raasch

Resumo:

Esta pesquisa tem como objetivo central compreender as multidimensionalidades da certificação RTRS nos espaços produtivos dos Estados de Mato Grosso e Goiás no contexto de difusão do agronegócio globalizado. E foram definidos foram definidos três objetivos específicos: a) Verificar a difusão da soja e o processo de comoditização nas áreas de Cerrado; b) identificar o quantitativo de estabelecimentos rurais e a produção da soja certificada RTRS nos Estados de Mato Grosso e Goiás; c) analisar os interesses dos atores envolvidos no processo de certificação RTRS das redes de produção da soja de Mato Grosso e Goiás. Para desenvolvimento desta pesquisa, foi realizado pesquisa documental, trabalhos de campo e entrevistas. Em relação a produção de soja certificada RTRS no Brasil, no ano de 2018 foram 226 propriedades certificadas em 77 municípios com área de abrangência de 1.041.369,00 (ha) de área plantada e produção de 3.919.545,06 (T). O Mato Grosso possuí atualmente o maior número de estabelecimentos certificados com o padrão RTRS. No ano de 2018 foram 79 propriedades certificadas em 26 municípios, com área de abrangência de 504.733,09 (ha) de área plantada de soja certificada, correspondendo a 48,47% de área plantada em todo o Brasil. Neste ano a produção estadual foi de 1.796.836,24 (T), o que representou 45,84% da soja certificada RTRS. Em relação a soja certificada em Goiás, o Estado possuí o segundo maior quantitativo de fazendas certificadas no país. No ano de 2018 foram 58 fazendas certificadas, com área total de 101.615 ha e 75.755 ha de área plantada e produção para o ano foi de 284.430 toneladas. Nesse contexto, foi identificado que a RTRS é um Ator Líder de uma rede de produção global própria. A organização é provedora de um produto “gourmetizado”, na medida em que os produtores de soja utilizam do padrão RTRS de soja responsável para melhorar as formas de produção existentes. A RTRS é fruto da auto-organização da rede de produção da soja, sendo orquestrada por atores e partes interessadas em escalas espaciais diversas. As decisões dos atores globais que estão na mesa redonda são refletidas nos lugares, onde se dá a produção. A soja certificada está enraizada nos territórios produtivos de soja não certificada, que estão difundidas nas áreas do bioma Cerrado. A certificação altera as formas dos objetos artificiais e os sistemas de ações são alteradas, portanto, na perspectiva de espaço geográfico de Santos (2006), a certificação RTRS (re) configura o espaço agrário dos lugares certificados. E mais, o padrão RTRS através da certificação normatiza não apenas às práticas do ponto de vista social e os objetos artificias das fazendas, ele normatiza o uso e ocupação da terra, ao exigir desmatamento zero do produtor, critério que transcende a legislação nacional. Desse modo, o território é normatizado num movimento, sim, voluntário, mas há consigo arestas de decisões verticalizadas. As impressões deixadas pela certificação socioambiental, em especial o padrão RTRS de responsável, foi que esse é um instrumento educativo para os produtores que se certificam, promovendo uma nova governança nas formas de produção ao implicar em mudanças estruturais e boas práticas agrícolas nas fazendas certificadas. Concluímos que a certificação na sojicultura é um instrumento, a princípio, com limitação de expansão de demanda do mercado porque os atores e partes interessadas com interesses escusos conectados a margem de lucro e a espoliação corporativa o controlam, sendo estes elementos indissociáveis do sistema de produção hegemônico vigente.

Referência:

RAASCH, Werlen Gonçalves. A rede de produção de Soja Certificada RTRS de Mato Grosso e Goiás. 2020. 156 f., il. Dissertação (Mestrado em Geografia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.

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