VEREDEIROS
A identidade veredeira está ligada ao território, na forma de criação, plantio e extração de itens diversos e na relação equilibrada estabelecida com o ecossistema das Veredas, Cerrado e Caatinga. Os veredeiros vivem próximos dos cursos d’água, áreas inundáveis e das chapadas, de onde extraem, principalmente do buriti, subsídios imprescindíveis à constituição de suas vidas.
Os veredeiros habitam os territórios ao longo dos cursos d’água de forma dispersa. Existe, porém, uma certa organização e um padrão de ocupação espacial que se constitui por unidades de agrupamento ou grupos rurais de vizinhança, ligados pelo sentimento de localidade, por laços de parentesco, pelo trabalho e manejo da terra, por trocas e relações recíprocas. Geralmente, os nomes das localidades veredeiras são os mesmos dos rios que passam pelas comunidades. Nem sempre detêm a posse da terra, sendo camponeses muitas vezes arrendatários. Os veredeiros entendem o trabalho como o legitimador da posse da terra, mas não de uma posse privada (já que boa parte dessas terras é de uso comum).
“Os veredeiros caracterizam-se por um sistema de produção agroextrativista, com plantio rotativo no campo úmido de envoltório da vereda, agroextrativismo e soltio de gado. Nas épocas de chuva, deixam o gado se movimentar livremente pelas chapadas, enquanto na época de seca, aproveitam os campos ainda úmidos do envoltório da vereda. Suas casas tradicionalmente se assentam próximas à vereda, beneficiando-se do microclima mais fresco e úmido” (COSTA, 2005, p. 38).
Fonte: http://portalypade.mma.gov.br/veredeiros-introducao
Os veredeiros estão localizados na junção entre os estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás. Vivem nas veredas e chapadas próximas a cursos de água, biomas típicos do Cerrado.
Cultivam lavouras e, em áreas comuns, criam animais, principalmente bovinos, equinos, caprinos e suínos, além de coletarem da natureza frutos típicos do Cerrado como o buriti, o pequi, cocos e sementes de mamona e plantas medicinais. Praticamente tudo que é produzido abastece as famílias, indo o excedente para a comercialização.
Assim como outros povos e comunidades tradicionais, os veredeiros enfrentam conflitos relacionados ao acesso à terra e aos recursos naturais, além de conflitos com carvoarias e empresas de plantio de eucaliptos que prejudicam o ecossistema local.
As veredas, por sua vez, localizadas nas partes mais baixas da paisagem, são “próximas aos cursos d’água, nascentes, grotas ou margens dos rios, as veredas são de terras mais úmidas e férteis, onde predominam também as madeiras de uso para a construção de casas, cercas, móveis e utensílios domésticos” (NOGUEIRA, 2009, p. 85). A autora afirma que “veredas e gerais são unidades que se definem uma em relação à outra”.
As gentes das veredas compartilham com as populações do alto médio sanfranciscano, consideradas sertanejas, uma civilização comum conforme discutido por Abreu (2000) e Prado Júnior (2000), baseada no criatório de gado. A partir da atividade pastoril extensiva, as gentes dessa região organizaram para si um modo de vida que articula a criação de gado, com a agricultura e o extrativismo, além da caça e pesca.
As veredas formam um ecossistema peculiar que, na sua forma típica, é caracterizado por um substrato de solos argilosos sobre planos alagados, onde cresce a palmeira buriti. No entorno da área embrejada ocorre uma faixa herbácea menos úmida, que, tradicionalmente, era utilizada como caminho pelos viajantes, tropeiros e pela população local. Essa função de caminho ou vereda serviu então para designar todo o ecossistema.
Os veredeiros habitam os territórios ao longo dos cursos d’água de forma dispersa. Existe, porém, uma certa organização e um padrão de ocupação espacial que se constitui por unidades de agrupamento ou grupos rurais de vizinhança, ligados pelo sentimento de localidade, por laços de parentesco, pelo trabalho e manejo da terra, por trocas e relações recíprocas.
Comunidades Veredeiras dos Territórios Buriti Grosso e Berço dos Águas/Alegre, no município de Januária (MG), lutam contra a degradação ambiental e o encurralamento promovido pelas políticas desenvolvimentistas a favor do complexo siderúrgico florestal de empresas como a PLANTAR e RIMA INDUSTRIAL, implantadas desde a ditadura civil-militar dos anos 1970/80. Enfrentam também restrições ao uso tradicional provocadas pela política ambiental e criação de unidades de conservação sobre seus territórios. Propõem a regularização fundiária e a recuperação socioambiental de seus territórios e de suas economias.
Confira alguns vídeos sobre os veredeiros:
Adão é um geraizeiro de do município de Rubelita, Minas Gerais, um dos guardiões dos saberes, cujo os anos de vivência nos cerrados somados ao legado de saberes passados através da família por gerações o tornam um intelectual nativo. Neste depoimento ele compartilha conosco um pouco de sua sabedoria, uma referência especial para conhecer gerais pelo seu olhar.
Hoje vamos ouvir Arcilo, que foi um filósofo nativo e importante liderança geraizeira. Morador de Vereda Funda, comunidade que vive em um território retomado de empresas de monoculturas de eucalipto, onde hoje sua família produz o café agroecológico sombreado de nome Cacunda de Librina. Arcilo já não se encontra entre nós, se encantou, nos deixa o legado precioso de uma visão de mundo questionadora que movimentou a luta com garra, mas sempre atenta às belezas da vida, aos valores que lhe remetem à alegria, pois, como ele mesmo falava, “Geraizeiro gosta é de se divertir”.
Este é um trecho do filme “Cacunda de Librina”, de 2007, que pode ser visto na íntegra no canal do @caa.nm no YouTube, ou neste link: http://bit.ly/CacundadeLibrina
“Vereda Viva é Liberdade” é um documentário de reação das comunidades veredeiras do Norte de Minas às ameaças ao seu modo de vida. Os veredeiros dependem das veredas vivas, cuja existência está sob ameaça acumulando impactos socioambientais ao longo de décadas. O secamento de suas águas e o não reconhecimento de seus direitos ameaçam uma cultura que é a alternativa para a convivência com o semiárido norte mineiro, e para a proteção das águas e da diversidade ambiental.
O documentário “Vereda Viva é Liberdade” trouxe grande visibilidade para o povo Veredeiro, alcançando espaços na TV e também participou do Festival de Cinema Ambiental da Serra Catarinense (@festivalficasc).
Publicações:
– MARTINS, G. I.; CLEPS JUNIOR, J. AS TRAMAS DA DES(RE)TERRITORIALIZAÇÃO CAMPONESA: a reinvenção do território veredeiro no entorno do Parque Nacional Grande Sertão-Veredas, Norte de Minas Gerais. TERRITÓRIO: REVISTA DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, v. 7, n. 13, 23 fev. 2012.
– Rodrigues, Leila Ribeiro, Thé, Ana Paula Glinfskoi. Veredas, oásis do sertão: conflito ambiental na apropriação das águas em Botumirim – MG. Soc. & Nat., Uberlândia, 26 (1): 25-36, jan/abr/2014.
Este artigo apresenta uma pesquisa etnográfica que teve como objetivo analisar a influência das práticas de uso e manejo tradicional dos recursos hídricos no processo de construção de identidade e de territorialidade de duas comunidades. Neste caso específico, comunidades veredeiras. Além disso, o artigo analisa o conflito ambiental relacionado a disputa entre o modo de vida tradicional comunitário e as políticas governamentais nas ações para a conservação da natureza. A pesquisa foi realizada nas Comunidades Gigante e Pé da Serra, localizadas no Município de Botumirim, na região reconhecida como Vale do
Jequitinhonha, Minas Gerais. Os modos de vida e de subsistência destas comunidades estão relacionadas a agricultura familiar, com valores e regras ligadas a uma cultura tradicional específica, onde a água tem uma importância significativa. Esta região e seus recursos hídricos tem sido disputada por vários sujeitos e instituições com diferentes interesses e poder econômico, colocando as comunidades tradicionais, os seus meios de subsistência, sua cultura e seus recursos naturais comuns em risco.
Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/sn/v26n1/0103-1570-sn-26-1-0025.pdf