Retireiros do Araguaia

No Araguaia a sazonalidade é bem marcada. Tem o tempo da seca, quando o rio forma praias, e tem o tempo das chuvas, quando o rio fica cheio. Estamos todos nos relacionando diariamente com a natureza. A mudança do clima é sentida no corpo, na rotina e na alimentação. Cada mês é um tipo de peixe diferente, uma técnica de pesca específica. Cada mês se planta ou se colhe determinada coisa. Cada época tem seu lazer: acampar nas praias, acampar nos lagos, ir para esse ou aquele retiro. Aqui, quem não tem um retiro, vai passar o final de semana no retiro do amigo.

 

Para quem não é da região, vale explicar: “retiro” é uma casinha simples, bem longe da cidade, nas proximidades do rio Araguaia ou de um lago que a ele se conecta. Um retiro tem piquete para tratar de uma vaquinha leiteira, curral e cisterna. Alguns poucos ainda têm galinhas, uma roça e até uma horta. Sendo assim, são chamados de “retireiros” os criadores de gado que usam as áreas de várzea do rio Araguaia durante as secas e, quando o rio sobe, retiram os animais para terras mais elevadas.

 

Um lugar que tenha capim verde durante a seca, provavelmente alaga durante o período da chuva. São as áreas de várzea, aqui conhecidas como “varjão”. Da mesma forma, um lugar alto, longe do risco de inundação, ideal para deixar animais na época da cheia, é um lugar onde o pasto não se mantém na época da seca. Aqui conhecemos essas áreas como “monchão”. Essa característica geográfica da região é o que faz também que a prática do arrendamento de terra para criação de gado seja tão comum.

 

http://axa.org.br/2015/09/terra-em-disputa-os-retireiros-do-araguaia/

 

Segundo estudo realizado em 2004, pelo pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso, Regisnei Silva, a população originária da comunidade de Retireiros era proveniente do sul do estado do Pará e norte do estado de Goiás, atual Tocantins, tendo se deslocado em busca de pastagens nativas para o desenvolvimento da pecuária. Segundo os moradores locais, o nome Luciára é uma homenagem a um dos primeiros retireiros, Lúcio Luz, que teria chegado à região do Araguaia em 1934. Durante as primeiras décadas do século XX, estas populações de retireiros estabeleceram relações interétnicas marcadas por conflitos e alianças com os grupos indígenas, em especial os Kaiapó, Karajá, Tapirapé e Xavante.

 

No final da década de 1990, os retireiros formaram a Associação dos Retireiros do Araguaia (ARA). No ano 2000, conforme o estudo de Regisnei Silva (2004), um grupo de peões ocupou a área dos retireiros em defesa de um suposto dono, mas os retireiros conseguiram expulsar os invasores. Para garantir a permanência no território e do modo de vida, as lideranças dos retireiros propuseram a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mato Verdinho em 2006. No ano de 2009, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio elaborou relatório fundiário favorável à RDS Mato Verdinho e destinou uma área de 110 mil hectares para a Reserva.

 

http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/?conflito=mt-retireiros-de-luciara-lutam-para-garantir-sua-permanencia-no-territorio-e-seu-modo-de-vida-tradicional

Retireiros do Araguaia e a luta contra a grilagem

Você já ouviu falar sobre os retireiros do Araguaia? No Momento agroecológico, nós vamos conhecer os criadores de gado que vivem na beira do rio e lutam pela resistência da manutenção dos modos de vida frente ao avanço do agronegócio, grilagem de terras, violência e perda de terras.

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