Pataxó Hã-Hã-Hãe

Mito da criação – “Txopai e Itôhã”: 

 

Antigamente, na terra, só existiam bichos e passarinhos, macacos, caititu, veado, tamanduá, anta, onça, capivara, cutia, paca, tatu, sarigue, teiú, cachichó, cágado, quati, mutum, tururim, jacu, papagaio, aracuã, macuco, gavião, mãe-da-lua e muitos outros passarinhos. Naquele tempo, tudo era alegria. Os bichos e passarinhos viviam numa grande união. Cada raça de bicho e passarinho era diferente, tinha seu próprio jeito de viver a vida.  

 

Um dia, no azul do céu, formou-se uma grande nuvem branca, que logo se transformou em chuva e caiu sobre a terra. A chuva estava terminando e o último pingo de água que caiu se transformou em um índio. O índio pisou na terra, começou a olhar a floresta, os pássaros que passavam voando, a água que caminhava com serenidade, os animais que andavam livremente e ficou fascinado com a beleza que estava vendo ao seu redor. Ele trouxe consigo muitas sabedorias sobre a terra. Conhecia a época boa de plantar, de pescar, de caçar, e as ervas boas para fazer remédios e seus rituais. Depois de sua chegada na terra, passou a caçar, plantar, pescar e cuidar da natureza. A vida do índio era muito divertida e saudável. Ele adorava olhar o entardecer, as noites de lua e o amanhecer.  

 

Durante o dia, o sol iluminava seu caminho e aquecia seu corpo. Durante a noite, a lua e as estrelas iluminavam e faziam suas noites mais alegres e bonitas. Quando era à tardinha, apanhava lenha, acendia uma fogueirinha e ficava ali olhando o céu todo estrelado. Pela madrugada, acordava e ficava esperando clarear para receber o novo dia que estava chegando. Quando o sol apontava no céu, o índio começava o seu trabalho e assim ia levando sua vida, trabalhando e aprendendo todos os segredos da terra.  

 

Um dia, o índio estava fazendo ritual. Enxergou uma grande chuva. Cada pingo ia se transformando em índio. No dia marcado, a chuva caiu. Depois que a chuva parou de cair, os índios estavam por todos os lados. O índio reuniu os outros e falou:  

 

– Olha, parentes, eu cheguei aqui muito antes de vocês, mas agora tenho que partir. Os índios perguntaram:  

– Pra onde você vai? 

O índio respondeu:  

– Eu tenho que ir morar lá em cima no Itôhã, porque tenho que proteger vocês. Os índios ficaram um pouco tristes, mas depois concordaram.  

– Tá bom, mas não se esqueça do nosso povo. 

Depois que o índio ensinou todas as sabedorias e segredos falou:  

– O meu nome é “Txopai”. 

 

De repente, o índio se despediu dando um salto, e foi subindo, subindo… até que desapareceu, no azul do céu, e foi morar lá em cima no “Itôhã”. Pataxó é água da chuva batendo na terra, nas pedras, e indo embora para o rio e o mar. Daquele dia em diante, os índios começaram suas caminhadas aqui na terra, trabalhando, caçando, pescando, fazendo festas e assim surgiu a nação “Pataxó”.  

 

Fonte:

de TÁSSIO, P. Notas sobre a Homossexualidade num “Regime de Índio”. ACENO, Vol. 3, N. 5. Jan. a Jul. de 2016. p. 63. 

Pataxó Hã-Hã-Hãe

Grupo Pataxó Hãhãhãe na antiga Fazenda São Lucas. Foto: Hermano Penna, década de 1980.

Origem do nome

Os Pataxó Hã-Hã-Hãe dizem que são uma mistura de povos. Isso coloca a diferença no centro da reflexão nativa sobre a própria vida social. Este é o ponto de partida desta investigação. Eles reconhecem diferenças internas na forma de famílias ou etnias, que remetem aos distintos povos indígenas acolhidos na Reserva Caramuru criada pelo SPI na segunda década do século XX no sul da Bahia. É na reserva, portanto, que acontece a mistura. Eles contam a sua história como a história da “briga por esta terra”. Foram violentamente expulsos dali e passaram longo tempo fora da Terra Indígena, esparramados. Empreenderam juntos a primeira retomada no início dos anos oitenta e muitas outras se seguiriam nas décadas seguintes. Desde então, ao lingo de mais trinta anos até a completa reocupação do território, que teve como marco jurídico uma decisão do Supremo Tribunal Federal em maio de 2012, as retomadas se tornaram uma espécie síntese moral do povo Pataxó Hã hã hãe, da sua disposição para o embate, na busca do que reconhecem seu direito.

 

             “O povo Pataxó hã hã hãe é uma união de cinco etnias: Baenã, Kariri-Sapuyá, Kamakã, Tupinambá e Pataxó. Essa reunião se originou no ano de 1982 quando surgiu a primeira retomada” (Fábio Titiah, Caramuru, 2012).

Localização do povo

Habitam a Reserva Indígena Caramuru-Paraguassu, no sul da Bahia, nos municípios de Itajú do Colônia, Camacã e Pau-Brasil. Vivem também na Terra Indígena Fazenda Baiana, no município de Camamu, no baixo-sul da Bahia

Referências bibliográficas

PEDREIRA, Hugo Prudente da Silva. Os Pataxó Hã hã hãe e o problema da diferença. São Paulo, p. 9, 2017. Universidade de Sao Paulo, Agencia USP de Gestao da Informacao Academica (AGUIA). http://dx.doi.org/10.11606/d.8.2017.tde-06022017-110145. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-06022017-110145/publico/2017_HugoPrudenteDaSilvaPedreira_VCorr.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2020.

 

Jurema Machado de Andrade Souza; Maria Rosário Carvalho. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Patax%C3%B3_H%C3%A3-H%C3%A3-H%C3%A3e>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.