“Washington Andrade Silva, mais conhecido como Tom das Ervas, nasceu em Itapuranga-Goiás, tem origem indígena e italiana. Começou ainda criança a busca pela medicina natural, quando observava seu pai fazendo remédios com as ervas medicinais para tratar pessoas e animais, além de sua longa bagagem de viagens pelo Brasil a fora.

                Quando chegou a Alto Paraíso de Goiás no ano de 1988, logo se encantou com a imensa diversidade de plantas medicinais e esse foi um dos motivos da sua permanência. Desde então, vem estudando as ervas medicinais por meio de livros, trocando saberes com outros raizeiros como a Dona Flor e Seu Manuel Roxo, já falecido. É muito perceptível sua relação de conexão e respeito com a natureza, quando entoa sua flauta indígena, confeccionada por ele mesmo, trazendo uma sensação de paz e liberdade.

                Tom das Ervas se entristece ao ver que a natureza está sendo destruída e substituída pela monocultura e pecuária. As plantas medicinais estão extremamente ameaçadas pela expansão da gramínea africana braquiária, que dificulta o crescimento

das ervas, e pela coleta sem o manejo correto.

                ‘Eu tenho visto muita ameaça em torno das plantas medicinais, da terapia natural, e uma delas que é muito vista, que tá na vista de todos, é a monocultura, as plantações de soja, de milho, outras coisas mais em grande escala, isso aí vem destruindo o cerrado por inteiro, não só o cerrado, outras regiões também, mas como nós tamo falando do Cerrado, não só aqui de Goiás, mas também Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Minas Gerias, Piauí, Maranhão e Pará. Essa região toda tá sendo muito devastada com as grandes monoculturas que tão acontecendo, isso daí, quando as pessoas assustarem com isso daí, já é tarde, não tem como retrocede’.

                ‘Uma outra coisa também que eu tive observando em outras regiões, na região Sul, Sudeste de Goiás também, que lá não existe muita monocultura, são poucas, mas o que predomina lá é a pecuária, então a pecuária também destrói tudo também’.

                Ele nos mostra que as plantas medicinais podem entrar como auxílio do tratamento com remédios alopáticos, afirmando que ser radical não é uma boa saída. Carrega grande fé nos pés descalços, nos médicos da natureza e nas crenças e simpatias antigas, que contemplam corpo, mente e espírito.

                Tom das Ervas se tornou referência para a comunidade e sua loja pode ser considerada um ponto turístico na cidade, onde ele comercializa produtos naturais, artesanatos e garrafadas.

                Porém, Tom sente certa dificuldade em manter seu negócio, pois a ANVISA proíbe a comercialização de remédios naturais com rótulos explicativos, o que dificulta na hora da venda.

                Tratando-se de remédios naturais e garrafadas, muitas mulheres o procuram por ele ser detentor do conhecimento de uma garrafada que ajuda na fertilidade da mulher, além de auxiliar o tratamento contra problemas uterinos e cistos nos ovários.

                ‘As que mais procuram tratamento são as mulheres, pra tratamento de problemas uterinos, problema de cisto, de mioma, de corrimento e alguns outros problemas de regulagem e até de infertilidade’.

                Já ouvimos relatos de mulheres, até mesmo de outros países, que haviam buscado diversas alternativas na tentativa de engravidarem, e só após seguirem algumas recomendações de Tom, conseguiram realizar o sonho da maternidade.

                ‘As pessoas o procuram, também, atrás de curas para doenças como Staphylococcus (uma bactéria encontrada na pele de aproximadamente 15% dos seres humanos, responsável por gerar infecções); ele recomenda a depuração do sangue, uso de limão, banho de carobinha e faz uma pomada de folha de beladona, bálsamo, folha santa, confrei e transagem para passá-la nas feridas que a doença causa. O tratamento, porém, pode durar meses, mas vale a pena.

                Tom das Ervas é pai de três filhos e, segundo ele, quando estes moravam em sua companhia, ele já repassava alguns de seus conhecimentos para as crianças. Porém, Tom sente muita dificuldade para repassar seus saberes, pois de acordo com ele: ‘a população não tem interesse e nem dá abertura, principalmente por parte dos jovens’.

                Durante anos, Tom das Ervas vem realizando seu trabalho de forma comprometida e amorosa para as pessoas que o buscam em momentos de angústia. Tom das Ervas sabe que o que faz é importante e precioso para a humanidade. Se entristece quando sente que há carência de conhecimento das pessoas mais jovens sobre o assunto, pois sabe que esses saberes estão ameaçados de desaparecimento. Porém, não deixa de realizar seu trabalho da forma mais carinhosa e bem quista para a população. Às segundas e sextas ele oferta gratuitamente defumação para ‘descarrego’ e benzimentos a qualquer momento a quem necessitar, mas alerta: ‘mulher menstruada não pode, deixa pra vir outro dia’.

                Quem quiser encontrá-lo, é só visitar o famoso ‘Ervanário Tom das Ervas’, conhecido por todos na região. Assim como Dona Flor, Tom das Ervas é procurado e tem seu trabalho reconhecido até mesmo por pessoas de outras nacionalidades”.

Fonte: Ribeiro, Daniela. et al. Raizeiros de Alto Paraíso : Saberes Ameaçados. Alto Paraíso de Goiás: Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás, SEDUCE, 2017. v. 1, p. 96-99.  

 

TOM DAS ERVAS – Poesia

Tom das Ervas, de outras eras, outros tempos.

Preparando cremes, xaropes, unguentos

O dia amanhece, a natureza dá o tom

Ele caminha pelo cerrado e escolhe as ervas

Agradece reverencia manipula, prepara

Uma fórmula pura que cura, que sara

Arte de índio, caboclo Serviço de raizeiro,

Pajé Se quiser encontrá-lo é fácil:

Em Alto Paraíso todos sabem quem ele é!

 

Poesia: Ivan Anjo Diniz