Karajás

“História de peixe aruanã (ijasò)”: 

 

“Havia um jovem esperto no fundo do rio, o Ijasò, e ele saiu nadando, nadou, nadou, até que saiu na terra. Ele ficou deslumbrado com as belezas da terra: ‘Como é lindo isto aqui!’. Ele ficou encantado com as flores, com as árvores, com o céu azul de nuvens brancas e com os pássaros coloridos que voavam por todos os lados. Distraído, o jovem entrou em um rio e chegou no Araguaia. Sua admiração foi maior ainda. Diz que ele ficou encantado com as belas e tranqüilas praias do rio. De repente, o jovem se assustou, sentiu que estava se transformando. Seu corpo foi crescendo e transformou-se em pessoa iny.  

 

Transformado, ele pode correr na praia, sentir o perfume das flores, ouvir os pássaros cantando, coletar frutas, comer mel de abelha etc. Diz que, no auge de sua alegria, lembrou-se dos conselhos do pajé sobre o mundo aqui fora, sobre os perigos e a morte. Diz que ele pensou: “O que significa isso?” Resolveu tirar a limpo e voltou para sua antiga morada. Quando caiu na água, transformou-se de novo em ijasò. Quando ele chegou à sua morada, já estava sendo esperado pelo velho sábio pajé, que lhe perguntou:  

 

– Aonde andou meu jovem? 

– Estava na terra, conheci um mundo novo. 

O pajé exclamou? 

– Estamos perdidos! Nossas leis foram violadas. Kanyxiwe Deus vai retirar nossa imortalidade e vocês vão conhecer o sofrimento, o perigo e a morte. 

O pajé não parava de afirmar:  

– Tudo lá fora é ilusão, a felicidade eterna está aqui. 

 

Diz que todos os Ijasò ficaram encantados com o que foi narrado sobre a terra. Jovens e adultos quiseram vir para a terra e vieram. Não atenderam às advertências do pajé sobre a vida curta e falsa na terra.  

 

Diz que, quando chegaram ao rio Araguaia, transformaram-se em gente e se adaptaram à nova vida. Ficaram maravilhados com as belezas da terra, até que aconteceu a primeira morte. Os Karajá foram morrendo um atrás do outro. Entraram em pânico. Lembraram das advertências do pajé. Perguntaram ao (hàri tymara) pajé novo:  

 

– O que vamos fazer? 


Diz que eles tentaram comunicar-se com os ijasò para pedir ajuda, mas não conseguiram. Diz que o pânico tomou conta dos Karajá e foi aí que eles se espalharam ao longo do rio Araguaia, formando pequenas aldeias. Algumas famílias tentaram voltar às suas origens.


Atiraram-se nas águas e transformaram-se novamente em peixe, mas não conseguiram ir até as profundezas de onde vieram, porque, na passagem para a volta, havia uma cobra. É por isso que os Karajá não matam o peixe aruanã, eles são seus parentes. “Esta é a história dos peixes aruanãs”.  

 

Fonte:

PEREIRA, C. O MITO COMO FORMA DE PERCEPÇÃO DO HOMEM. Revista de Pós Graduação em Letras Miscelânea, Assis, vol.6, jul./nov.2009. P: 173-174.

Karajás

Origem do nome

O nome deste povo na própria língua é Iny, ou seja, “nós”. O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi que se aproxima do significado de “macaco grande”. As primeiras fontes do século XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias “Caraiaúnas” ou ” Carajaúna”. Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908, consagra a grafia Karajá.

Localização do povo

Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.

Os Karajá têm o rio Araguaia como um eixo de referência mitológica e social. O território do grupo é definido por uma extensa faixa do vale do rio Araguaia, a ilha do Bananal, que é a maior ilha fluvial do mundo, medindo cerca de dois milhões de hectares. Suas aldeias estão preferencialmente próximas aos lagos e afluentes do rio Araguaia e do rio Javaés, assim como no interior da ilha do Bananal. Cada aldeia estabelece um território específico de pesca, caça e práticas rituais demarcando internamente espaços culturais conhecidos por todo o grupo.

Referências bibliográficas

Manuel Ferreira Lima Filho. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Karaj%c3%a1>. Acesso em: 08 de ago. de 2020.

 

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas brasileiras. Brasília, DF: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013. 29p. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasiliras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf>. Acesso em: 16 de ago. de 2020.

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