Etanol

 “ Crise energética e mudanças climáticas ­­­— intrinsecamente relacionadas ao uso dos fósseis — são motivações seminais a essa retomada. Mas não basta dispor de biocombustíveis para que se atinja a tão almejada descarbonização da matriz energética mundial no setor de transportes, mesmo num país em que biocombustíveis sejam anormalmente abundantes. No Brasil, se veículos à gasolina estão perdendo participação nas vendas, os que rodam exclusivamente a álcool estão quase extintos. A novidade, sem dúvida, está na ascendência dos Flex Fuel, que ao mesmo tempo em que revela viabilidade econômica nunca antes alcançada pelos combustíveis alternativos, reforça o inexorável lastro no ´petróleo como parâmetro universal de custo de oportunidade”.

Prova cabal é que o uso do álcool só se torna vantajoso quando seu preço não ultrapassa 70% daquele cobrado pela gasolina, que é mais eficiente, e detém maior capilaridade de distribuição, estabilidade no fornecimento e preços, permanecendo como opção mais barata fora das regiões sucroalcooleiras (JANK & NAPPO, 2009). Mesmo os mais promissores motores elétricos, como o Prius da Toyota, por exemplo, apresentam-se no mercado sempre acompanhados também com a possibilidade de alternar seu uso com combustíveis fósseis.

Essa escassez relativa dos biocombustíveis é só uma primeira limitação. No novo setor agroenergético persistem os usos convencionais da motomecanização intensiva e dos gastos extraordinários em insumos petroquímicos — combustíveis, fertilizantes e pesticidas — sem os quais a agricultura moderna é inexequível. Derivam daí as principais restrições: a produção de biocombustíveis pode competir com a de alimentos, na expansão sobre terras florestadas inclusive, e compartilha da mesma necessidade no uso agrícola de materiais fósseis, mesmo no caso do etanol de cana-de-açúcar, cujo balanço energético de input-output é positivo, mas pode ser menor que um quarto dos propalados 1:8, dependendo do método de sensibilidade de avaliação das cadeias produtivas, como adverte Van der Weid (2009)”.

 

Fonte: FELTRAN-BARBIERI, R. Biocombustíveis, Controvérsia Agrícola na Economia do Petróleo: O Caso do Etanol no Cerrado. Universidade de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, 2009, p. 1-2.