Manifesto por uma educação ao ar livre e com a natureza
Este manifesto foi redigido durante o período de quarentena de 2020, após mais de 1 década de estudos e pesquisas sobre a importância da natureza para o desenvolvimento infantil. Neste momento, em que crianças e adultos estão vivendo restrições para a circulação em espaços públicos, essas questões tornaram-se ainda mais urgentes, uma vez que inúmeras famílias nos relatam sobre a falta de estar ao ar livre e em contato com as plantas e animais do entorno. Somado a isso, observamos que os protocolos de retorno estão orientando para o estar ao ar livre em todas as situações, mas com enfoque unicamente sanitário, não considerando os aspectos pedagógicos, psicológicos e da saúde em geral relacionados à convivência com a natureza.
Este texto refere-se ao processo de transformação dos espaços e das estratégias escolares que podem estar em curso neste momento, visando a construção de novas formas de aprendizagem. Aqui expressamos o nosso olhar, preocupadas que estamos com o fato deste ser um momento muito importante de transformação, e que corre o risco de ser reduzido a uma contingência sanitária.
Levando em conta as características atuais de grande parte das escolas e seus processos, observamos:
falta de espaço natural nas escolas;
falta de reconhecimento da importância do ar livre para o desenvolvimento natural da criança;
altas taxas de enfermidades infantis, assim como a medicalização que poderiam ser evitadas com atividades do lado de fora;
separatividade da escola com o bairro onde ela está;
que estamos todos sofrendo as consequências do modelo de vida atual que ameaça toda a vida no planeta;
que uma única doença se expande e ameaça todo o modo de vida assumido pela humanidade nos últimos séculos, nos revelando que é possível mudar e que essa mudança pode ser para melhor;
falta de incentivo para professores trabalharem ao ar livre e com a natureza e na criação de estratégias, processos de pesquisa e reflexão sobre a prática.
Acreditamos que todos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular podem ser alcançados pelo convívio com a natureza, e destacamos:
autonomia para aprender;
autonomia em relação ao próprio corpo e sua necessidades;
interesse genuíno pelos temas a serem estudados;
experimentação direta e sensível com a natureza, podendo fazer suas próprias descobertas;
desenvolvimento motor amplo e refinado;
desenvolvimento da criatividade com base na experiência;
sentimento de pertencimento;
sentimento de ser capaz de fazer algo;
respeito às qualidades individuais diversas e singulares;
desenvolvimento natural do senso de liberdade e responsabilidade;
respeito e convívio com o processo de aprendizagem dos colegas;
estar ao ar livre é um convite a diversificação das estratégias pedagógicas e de respeito ao tempo de cada pessoa.
Sendo assim, nós propomos:
que as relações sejam o ponto fundamental da aprendizagem, a partir das quais os processos de transformação possam se realizar;
que as áreas externas das escolas sejam consideradas espaços de aprendizagem e utilizadas em pelo menos 50% do tempo de permanência na escola, seja para adultos seja para as crianças;
que haja incentivo e formação para os professores se apropriarem de estratégias pedagógicas adequadas para a educação ao ar livre;
que o tempo em que a criança passa ao ar livre seja maior ou igual ao que elas passam em áreas fechadas, independente da faixa etária;
que as áreas fechadas sejam sempre amplas, arejadas, com iluminação e ventilação naturais;
que se encoraje a exposição do corpo a diferentes variações meteorológicas, desde que orientado quanto a vestimenta adequada;
que se reconsidere o conceito de limpeza e sujeira. (A terra é limpa e os produtos de limpeza são tóxicos e poluentes);
que os materiais naturais sejam prioritários e estejam acessíveis às crianças o tempo todo e em diferentes contextos;
que seja respeitado o interesse das crianças;
que seja estimulado o mapeamento, visitas e atividades nas praças e pontos públicos do bairro, ultrapassando os muros da escola;
no caso da existência de praças e parques próximos, que a escola possa assumir a sua ocupação frequente, com atividades e cuidados da área;
que as crianças possam participar dos programas de plantio e de jardinagem da escola, podendo co-responsabilizarem-se por isso.
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