Nova espécie de perereca-do-Cerrado é batizada em homenagem a personagem de Guimarães Rosa

Pesquisadores brasileiros anunciaram a descoberta de uma nova espécie de perereca-de-capacete no Cerrado, batizada de Nyctimantis diadorim, em homenagem a Diadorim, enigmático personagem do romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa. O nome escolhido evoca não apenas um ícone da literatura nacional, mas também estabelece uma conexão simbólica entre a ciência, a cultura e a paisagem que inspirou uma das maiores obras da literatura brasileira.

A nova espécie foi registrada no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, uma unidade de conservação federal localizada na divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia. O parque protege ecossistemas típicos do Cerrado e abriga uma biodiversidade notável, com espécies raras e endêmicas da flora e fauna. A região em que N. diadorim foi encontrada é caracterizada por áreas de campo rupestre, veredas e matas ciliares, ambientes que sofrem constante pressão por desmatamento, queimadas e expansão agrícola.

A descoberta foi publicada na respeitada revista científica Herpetologica, reforçando a relevância da herpetofauna do Cerrado e a necessidade de intensificar os esforços de pesquisa e conservação no bioma. Segundo os autores, a Nyctimantis diadorim possui características morfológicas únicas, como coloração distinta, presença de um “capacete” ósseo típico do gênero e adaptações à vida em ambientes arbóreos.

A escolha do nome científico busca valorizar não apenas a originalidade da espécie, mas também a cultura brasileira e a simbologia de resistência e ambiguidade que Diadorim representa na obra de Guimarães Rosa. Assim, o batismo torna-se também um apelo à proteção do Cerrado, bioma extremamente ameaçado e ainda subvalorizado frente a sua importância ecológica e sociocultural.

Atualmente, o Cerrado já perdeu cerca de 50% de sua vegetação nativa e é considerado um dos hotspots mundiais de biodiversidade ameaçada. Descobertas como a de Nyctimantis diadorim demonstram que há ainda muito a conhecer – e preservar – nas paisagens do sertão rosiano.

O projeto foi viabilizado por meio de um convênio entre a Semad e a Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape) e executado pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig), vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). A ação resultou na produção do Produto 1 do Atlas, que mapeou 12.563 quillômetros quadrados de vegetação nativa – uma área 42% superior ao que apontavam bases como o MapBiomas.
Fonte:
https://jornal.ufg.br/n/191447-atlas-revela-42-mais-vegetacao-nativa-em-goias-com-uso-de-alta-tecnologia