As entranhas da terra estão sendo expostas

venderam as bacias de águas pelas nossas costas

tudo pelo lucro, pela acumulação

pra seguir separando empregado de patrão

manter gigante o abismo

semear e colher egoísmo

escola sem futuro, peneira cheia de furos

derrubando pontes e construindo muros

glifosato, pesticida, veneno pra terra e pro alimento

comida pra boca, grana pra farmácia, adoecimento

pivôs de irrigação sanguessugas da nação

buscando dinheiro, lucro e conversão

usando rios como fossem do lucro a fonte

deixando linear, monótono o horizonte

deserto verde, sem diversidade.

contrariando tudo aquilo que a vida é na verdade.

Cerrado amado estou com você

Dedico minha vida pra lhe proteger

Isso aqui era Cerrado mas agora é deserto

Eliminaram as nascentes

que havia por perto.

Pra plantar soja, pra criar gado,

só pode ser ignorância, por ganância,

povo mal informado

Não observam a riqueza

dessa terra sagrada,

não analisam seu padrão natural

Onde ela nunca se apresenta uniforme

monocultura é uma loucura

não pode ser normal.

O mundo todo é diverso

e muito variado

não esse deserto verde

que está comendo o cerrado

Poucos com muito, muitos sem nada

e nessa onda destroem a terra

Estão a roubar nossa água

O desperdício da indústria e

os pivôs do agronegócio ninguém vê

Querem botar a culpa da falta de água

em cima de você

Enquanto isso, eles compram tudo que há de beber

Fonte de água agora é da coca ou da nestlê

Nosso líquido sagrado virou produto

virou cotação.

Se tem gente morrendo de sede

problema deles,

terceiro mundo não é civilização.

Cerrado amado estou com você

Dedico minha vida pra lhe proteger

monocultura pesada, mecanizada e predatória,

pra exportar pra china e engordar porco oriental

Será que ninguém percebe que não é soja,

mas biodiversidade, água e ar puro que a gente exporta no final?

Só uma última pergunta eu queria deixar pra você:

Será que um big-méc na china vale a mesma coisa

que uma árvore, que um Ipê?