É uma destas pessoas raras que encantam logo ao primeiro momento. O sorriso sempre aberto e os pés ligeiros abrem seu caminho à cinquenta e dois anos, durante os quais ele se dedicou muito mais aos outros que a si mesmo. Está sempre disponível, sempre em movimento e se tornando útil todo dia.

Veio ao mundo em um belo canto da chapada do Veadeiros, ao pé de uma serra que hoje surge como o limite norte do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Seus pais, José e Cassiana já viviam ali muito antes do parque. Na verdade muito antes de tudo o que podemos ver ali agora. O Pai, desgostoso com o nome de batismo, nunca quis usá-lo, e de Odecy o menino passou a “Negão”, ainda que a pele seja tão branca quanto permite o sol da chapada.

A Mãe tinha o dom de curar, e sabia muito sobre isso. Suas rezas e mesinhas sempre foram o recurso maior para todo mundo que ali vinha. E vinham mesmo, às vezes de muito longe e com estórias bastante complicadas. Mas não importava o quão “cabeludo” era o caso. Para cada um havia um preparado, uma garrafada, um chá ou uma reza.

Com sua mãe Cassiana Negão aprendeu muito sobre tudo. O nome das plantas, o jeito de colher, o jeito de preparar, o jeito de interpretar cada situação de cada um. E mais importante de tudo, que todas as coisas do mato tem uma alma que deve ser respeitada. Que o poder de curar não é de ninguém, mas sim de Deus, criador de tudo que há neste mundo. E o Negão foi ouvindo e olhando com o olhar atento de menino, a curiosidade infinita o levando nos passos da Mãe. Depois,  homem feito mas não menos curioso, para sorte nossa se tornou este que está aí, o Negão de Cavalcante, que sabe todas as coisas sagradas do mato e não se importa de ensinar.

Trechos da aula de campo do curso Fitoterapia Brasileira 2016 sobre a Quina Branca com o raizeiro Odecy Cupertino (Negão) e o professor Túlio Americano da Alma Naturae