Morroquianos

Lá é lugar alto. É só morraria. Lá tem a embaixada. E tem as partes de serras. São quatro serras que lembram o território morroquiano. A serra da Chapadinha. A Serra do Tarumã (beirando o rio Paraguai). A serra do Bocaina do Vão e a Serra da Cachoeirinha. Nosso problema lá é a cerca. Desde 2003 que tentam invadir nossas terras. Cercaram tudo lá. E agora está nas mãos da justiça. A comunidade é uma comunidade histórica com bastante tradição e bastante religiosa. (Seu Felipe Severiano de Souza, morroquiano da comunidade Nossa Senhora do Carmo, Taquaral em Cáceres, entrevista concedida no II Seminário de Mapeamento Social)

 Os Morroquianos são moradores da Morraria no entorno da Estação Ecológica da Serra das Araras, próximo a Cáceres, Porto Estrela e Barra do Bugres. As comunidades de Taquaral, Água Branca, Bocaina, Santana, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora do Carmo, São Sebastião, Guanandi, Exu, Vila Aparecida estão localizadas entre os vários morros, serras, bocainas, córregos (afluentes do rio Paraguai), chapadinhas e vales que fazem parte da Província Serrana. A origem das comunidades se dá com a divisão das sesmarias. Parte da área foi doada por João Ferreira Mendes e Pedro Ferreira Mendes, por volta de 1910, para a construção da igreja de Nossa Senhora do Carmo. Por isso, as terras são consideradas terras de santo.

Segundo os relatos, os morroquianos são agricultores e praticam uma agricultura familiar. São também extrativistas e pequenos produtores de doce, de rapadura e de farinha. Alguns moradores das comunidades cultivam também o algodão que é utilizado na fiação artesanal de redes de dormir, as artesãs são mulheres que têm o cuidado de utilizar corantes naturais de plantas do cerrado. Esta é uma atividade que está se perdendo no cotidiano da comunidade.

Mais do que atividade econômica, as atividades agrícolas dos morroquianos buscam preservar o modo de vida da comunidade, suas cosmologias, suas diferentes temporalidades e suas múltiplas territorialidades. No entanto, sofrem frequentes pressões por parte dos fazendeiros que desejam ocupar suas terras. Muitos agricultores perderam suas terras, por pressão, especulação, expulsão ou despejo, atos sempre acompanhados de violência contra os antigos moradores que não tinham o título definitivo das terras comunais das antigas sesmarias.

Fonte: Referência: SILVA, Regina Aparecida da. Do invisível ao visível: o mapeamento dos grupos sociais do estado de Mato Grosso – Brasil. São Carlos: UFscar, 2011, p.103.


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A luta dos povos Morroquianos/as é a busca pela preservação do seu modo de vida e a cultura das comunidades que possuem diferentes temporalidades. Sofrem perseguições por parte do latifúndio que querem ocupar suas terras. A especulação, os atos de violência tem sido frequente nos últimos tempos. Não bastasse a perseguição, os Morroquianos têm enfrentado os constantes incêndios, consequências também das mudanças climáticas.

Assim os Povos Marroquianos/as seguem a luta junto aos demais povos tradicionais de forma organizada para garantir seus direitos de acesso à terra e respeito pela sua identidade e suas histórias.

Foto da série sobre a identidade dos Povos e Comunidades Tradicionais produzida pela comunicação da Articulação das Pastorais do Campo com objetivo em contribuir para o conhecimento da diversidade das dezenas de povos tradicionais do Brasil. As identidades dos povos publicadas nas redes das pastorais do campo reforçam a importância em proteger os guardiões das florestas, do campo e das águas.