Movimento Gerazeiro
As Conferências Geraizeiras são parte das estratégias que as comunidades adotaram para determinar as pautas da luta política no enfrentamento ao capital agrário e na defesa do meio ambiente. A primeira conferência ocorreu em 2006, um ano antes do governo federal reconhecer os geraizeiros como povos tradicionais, através do Decreto nº 6.040, parte da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Em 2012, como desdobramento dessa mobilização que vinha ocorrendo, os geraizeiros fundaram o Movimento Geraizeiro, cuja missão é a luta pelo reconhecimento e valorização social dos geraizeiros enquanto guardiões do Cerrado contra os interesses do capital, por meio da reconquista, ocupação, defesa e gestão de seus territórios, do fortalecimento da identidade, educação e cultura geraizeira em toda a sua diversidade, de modo a garantir vida digna, o desenvolvimento e a autonomia de suas comunidades, no pleno exercício dos direitos humanos. Nessa perspectiva, tem ainda por intuito promover a solidariedade e união entre as comunidades geraizeiras, na luta por seus territórios e culturas, bem como estimular a produção sustentável de alimentos saudáveis e fomentar a medicina popular geraizeira, por meio do manejo agroecológico e agroextrativista.
Uma das grandes motivações para a necessidade de se organizar politicamente é a luta pela preservação da água no Cerrado, bioma conhecido como “caixa d’água do Brasil”, por sua concentração de importantes nascentes que beneficiam oito das doze grandes bacias hidrográficas do país. Esta relevante configuração sofre sob os avanços, na região do norte mineiro, da monocultura de eucalipto e dos projetos de mineração de ouro e ferro. Em menos de 50 anos, o Cerrado já perdeu quase 50% de sua vegetação original, desencadeando no secamento de nascentes e severos desequilíbrios hídricos nos rios que abastece. Vendo este processo de devastação de perto, os povos geraizeiros colocam a defesa das águas como questão central em sua luta, com conquistas importantes que permitiram a sobrevivência de suas nascentes, mesmo em tempos de seca nas cidades.
A história de luta do povo geraizeiro já apresenta muitas vitórias, a despeito dos enormes obstáculos políticos e econômicos que enfrentam. O reconhecimento de sua identidade, a proteção de seus territórios e a demarcação autônoma de suas terras, com reconhecimento do poder público, são algumas delas. Tudo isso é fruto da inventividade e flexibilidade das comunidades em dialogar com os canais institucionais do Estado e, ao mesmo tempo, realizar ações com suas próprias mãos.
Uma das mais importantes lutas travadas pelo povo geraizeiro se deu nas comunidades que vivem entre os municípios de Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo. Organizados e utilizando-se de sua identidade e fé, as comunidades que lá estão resistiram por mais de 30 anos contra o avanço das monoculturas de eucalipto e, agora, contra a mineração que ameaça tragar suas terras.
Na luta pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais, mulheres, crianças e homens fazem a linha de frente de defesa de seu bioma, policiam e cuidam de um vasto território que vai desde o Areião, passando por Riacho de Areia, Roça do Mato, Vale do Guará até Vargem do Salinas, região de onde sempre viveram.
Pesquisadores:
João Marques Chiles
Comunidade Geraizeira do Pau D’Arco