1º Festival dos Povos do Cerrado
Na data dedicada à comemoração do Dia Nacional do Cerrado, 11 de setembro de 2021, aconteceu às 19h (horário de Brasília), o 1º Festival dos Povos do Cerrado, uma iniciativa que reuniu toda a luta em defesa do Cerrado, promovida pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado junto à Articulação das CPT’s do Cerrado e organizações parceiras.
O Cerrado brasileiro só existe porque possui os seus povos, da mesma forma que esses povos só existem porque existe o Cerrado, por isso, o Festival dos Povos do Cerrado pretende ser um espaço de celebração a partir das manifestações artísticas e culturais dos diversos povos que existem e resistem em seus territórios de vida e de direito. Camponeses, indígenas, quilombolas, geraizeiros, fundo e fechos de pasto, apanhadores de flores sempre vivas, vazanteiros, quebradeiras de coco, raizeiras, pescadores artesanais e tantos outros povos cerradeiros se juntam para celebrar e defender a proteção do Cerrado como forma de garantia à vida.
“O Festival vem trazer toda a cultura, o colorido, o canto e a ancestralidade, que somam-se a uma luta maior. A cultura, o nosso modo de viver, a nossa forma de festejar e a nossa maneira de apresentar para o mundo o que é a nossa diversidade também faz parte do conjunto de ações que compõem essa luta maior, a luta em defesa do Cerrado. Então, o objetivo principal do Festival é fazer essa comunicação tanto para dentro quanto pra fora”, anuncia Rosalva Silva Gomes , quebradeira de coco integrante do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que fez a mediação do evento. Ao lado de Rosalva, a condução do Festival também foi feita por Antônio Baiano, artista popular de Goiás.
É na vibração de diferentes vozes e sons de tambores que os povos se unem e também fizeram chamados para ações importantes para a manutenção do Cerrado e de seus modos de vida. Como parte da programação do Tribunal Permanente dos Povos (TPP), que foi lançado no dia anterior, 10 de setembro, o evento buscou reafirmar a resistência contra o crime de ecocídio em curso contra o Cerrado e a ameaça de genocídio cultural dos povos. O TPP apresentou 15 casos, distribuídos entre Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Tocantins.
Além de trazer à tona o TPP, o Festival abriu espaço para o lançamento oficial da Campanha de financiamento coletivo Salve Uma Nascente, um projeto idealizado pela Articulação das CPT’s do Cerrado que estabelece metas de arrecadação para recuperar cinco nascentes, em cinco estados. O trabalho de recuperação de nascentes do Cerrado é realizado pela CPT há mais de 10 anos junto às comunidades camponesas e tradicionais.
O Cerrado, conhecido como ” a caixa d’água do Brasil”, equivale a mais de 1/3 do território brasileiro e abriga nascentes de nove das doze bacias hidrográficas brasileiras. 78% da área da bacia do Araguaia-Tocantins, 47% da área do São Francisco e 48% do Paraná/ Paraguai estão inseridas no Cerrado. Em sintonia com o objetivo da Campanha, o Festival chama a atenção para urgência de conservação e recuperação de nascentes e rios do bioma, assim como das experiências comunitárias de recuperação da vegetação natural e solo de áreas degradadas.
Para Leila Cristina, da Comissão Pastoral da Terra e integrante da coordenação executiva da Campanha em Defesa do Cerrado, apresentar a Campanha Salve uma Nascente ao público em meio ao Festival é uma maneira de aliar a celebração dos povos e culturas do Cerrado com a luta pela proteção das águas da região e de nosso país. “A Campanha Salve Uma Nascente é imprescindível para nosso presente e nosso futuro. Não só para os povos e comunidades que vivem no Cerrado, mas para todos nós, do campo e da cidade, pois sem água, não há vida”, enfatiza.
Música popular, cantos e danças tradicionais, rituais, poesias e vídeos com expressões culturais de povos que vivem na região são algumas das atrações do Festival virtual, com a presença da Orquestra de Violeiros de Goiás, vídeos das Quebradeiras de Coco Babaçu integrantes do MIQCB e também do grupo Encantadeiras. De Minas Gerais. O festival contou também com a participação de Hilário Xakriabá e Povo Xakriabá, além de Braulino Caetano, geraizeiro do norte do estado. Além desses, apresentações de povos do Oeste da Bahia e clamores e poesias das juventudes do Cerrado fizeram parte da celebração.
Diante da impossibilidade de se reunir presencialmente, ainda em razão da pandemia, o Festival foi realizado por meio de uma live, transmitida pelos canais da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da CPT no Facebook e Youtube.