Cesar Leão
Cesar Leão é taxidermista no museu de anatomia veterinária da universidade de Brasília, atuando no laboratório desde 2010, aprovado em concurso público desde 2016 e graduado em filosofia pela mesma Universidade em 2020. Sua paixão pelos segredos do universo o levou a buscar na forma e no corpo respostas para suas inquietações de criança e adolescente, desde a infância o fascínio por livros de anatomia de seu avô pavimentou o caminho para a atuação na área. Um dos principais pontos de virada em sua vida foi a atitude de acumular partes de animais mortos encontrados pelas vias do Distrito Federal, com o apoio de seus pais a prática se tornou natural e deu origem à necessidade de pesquisar métodos mais sofisticados para preservar tecidos moles, pele e esqueleto. A partir de então a o interesse de infância foi sendo refinado com pesquisas técnicas que orientaram seus primeiros passos, ao chegar no laboratório sua bagagem intelectual foi beneficiada com o conhecimento dos professores de anatomia e o acesso a materiais químicos fundamentais para o tratamento dos corpos. Seu aprendizado está bem longe do fim e a cada desafio ele se dedica a entender e a atuar cada vez mais perto do que a natureza postulou, isso é uma razão de viver e enfrentar a realidade amando algo que o completa e legitima seu propósito, enquanto parte desse universo.
Como caminhos entrelaçados de um formigueiro, o saber que foi tema de sua dissertação final de graduação é o caminho para relacionar mais de uma área de conhecimento, fazendo assim da taxidermia não apenas técnicas vagas ou aplicáveis, mas a expansão desse saber, aponta para questões filosóficas profundas que atravessam a contemporaneidade, revelando sobre a própria humanidade. Ao olhar para civilizações como o antigo Egito, que praticavam técnicas de preservação de animais, Cesar Leão percebe na taxidermia algo que fala da própria natureza humana em estabilizar a morte, ter autoridade sobre o desconhecido, frear a consequência natural da vida, a taxidermia para Cesar Leão é um produto da vontade humana em manter aquilo que lhe agrada, seja no antigo Egito, seja na universidade.
A taxidermia é apenas um ramo da árvore de conhecimento, ela especificamente está relacionada a dar forma à pele, mas para isso ser possível é necessário um conhecimento químico de como interromper o fluxo natural da vida que é a decomposição, saber onde separar os tecidos, o que não deixar em excesso e principalmente noção da temperatura e tempo que correm contra o profissional, ao término de uma esfola a pele é um amontoado de queratina com água, sem o conhecimento refinado de anatomia a pele pode se tornar apenas um vazio sem forma. Os outros ramos dessa árvore são a escultura e o desenho, eles servem como grandes satélites que direcionam as mãos do profissional para um resultado que imite o real, existem regras na natureza de proporção para cada espécie, se o profissional as alcança ele garante um bom resultado, para isso o estudo sistemático em desenho e escultura garantem treinamento ao olhar e a liberdade para sentir o movimento.
A taxidermia é a ponta de algo muito mais profundo, ela une química, física, arte, anatomia, biologia e comportamento animal. Para a montagem de um membro de animal taxidermizado os pontos de massa e equilíbrio não estão mais presentes como no animal vivo, cabe ao profissional assegurar a distribuição de cargas com um preenchimento muito mais leve, mas que deve ser semelhante em aparência aos tecidos irrigados de um animal vivo. A taxidermia é feita para preservar o corpo por milênios, o que significa ser bom para preservação de um espécime, entretanto imaginar que essa é a única garantia de apresentar para uma criança como era um lobo guará, é uma perspectiva bastante assustadora. Ainda nesses tempos é possível cruzar em plena capital com tucanos, araras, antas e onças pardas, mesmo com todo avanço da urbanização, contudo essa pequena fenda de natureza só tenderá a se estreitar cada vez mais.
Em se tratando de museus o conhecimento acumulado de técnicas em taxidermia, osteologia, angiologia dentre outras pode oferecer ao estudante ou a qualquer interessado em aprender, uma visão clara e tridimensional de partes ou da totalidade do corpo, o livro é uma ferramenta insubstituível, mas ao combinar sua densidade abstrata com representações físicas de anatomia, qualquer ser humano cria caminhos na mente muito mais sólidos e sensoriais, fortalecendo memórias e conexões muito mais duradouras. Resultando na melhor parte do saber que é interligar as informações e produzir conhecimento de dentro pra fora.
A boa taxidermia lança sobre a mesa do debate a importância de cada indivíduo que morre por interferência humana, a cada morte o sinal de desequilíbrio soa mais forte, cada animal vítima de atropelamento, caça ou queimada é o rompimento de uma cadeia natural e cada vez mais refletirá no curso da vida humana.
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