Sistema Biogeográfico
Um sistema biogeográfico envolve um conjunto de fatores atmosféricos, hidrosféricos, litosféricos e biosféricos, incluindo também as populações humanas, ou seja, a ação conjunta do ar, da água, do fogo, da terra e dos seres vivos contribui para a formação do nosso Cerrado. A modificação em qualquer um desses elementos provoca alterações no sistema como um todo. Daí a importância de preservarmos os solos, os rios, a fauna, a flora e o modo de vida das populações tradicionais para a manutenção desse sistema biogeográfico. O Sistema Biogeográfico dos Cerrados não pode ser tomado como uma unidade homogênea, pois ostenta em seu domínio uma série de ambientes diversificados entre si, pelo caráter fisionômico e pela composição vegetal e animal. Estes ambientes constituem os seis subsistemas interatuantes do Cerrado: Subsistema dos Campos, Subsistema do Cerradão, Subsistema das Matas, Subsistema das Matas Ciliares e Subsistemas das Veredas e Ambientes Alagadiços.
Fonte: BARBOSA, Altair Sales. Andarilhos da claridade: os primeiros habitantes do Cerrado. Goiânia: UCG, Instituto do Trópico Subúmido, 2002.
Fisiograficamente o Brasil possui sete grandes matrizes ambientais, que foram denominadas por Ab’Saber em 1977 como Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos. Outros estudos as denominam Biomas, embora o conceito de bioma não seja muito apropriado, pois tende a enfatizar ou realçar um clímax vegetacional, muitas vezes não corroborado pela história evolutiva do espaço em questão.
A partir de 1992, Barbosa tem sugerido a utilização do conceito biogeográfico, classificando cada grande matriz ambiental como um sistema, que engloba diversos subsistemas, destacando ainda os microambientes específicos existentes em cada subsistema.
Um sistema biogeográfico envolve um conjunto de fatores atmosféricos, hidrosféricos, litosféricos, biosféricos, incluindo nestes as populações humanas. E ainda, elementos da gravitação, formas de relevos, regimes climáticos e efeitos solares. Esses fatores se nos apresentam intimamente interligados, e a modificação em qualquer deles provoca modificação no sistema como um todo. As diferentes configurações do sistema se mostram como subsistemas interatuantes.
Essas grandes matrizes ambientais podem ser agrupadas da forma seguinte: Sistema Biogeográfico Amazônico; Sistema Biogeográfico Roraimo-Guianense; Sistema Biogeográfico das Caatingas; Sistema Biogeográfico Tropical Atlântico; Sistema Biogeográfico dos Planaltos Sul-Brasileiros; Sistema Biogeográfico das Pradarias Mistas Subtropicais; e, por último, temos o Sistema Biogeográfico do Cerrado.
Atualmente o modelo fisiográfico sofreu modificações, por questões não ambientais, mas de geopolítica ou, especificamente, políticas e econômicas. Para ilustrar, citamos o caso do Pantanal Mato-Grossense, que não passa de um subsistema integrante do Sistema do Cerrado, mas como existe um movimento social crescente para incluir o Cerrado como Patrimônio Nacional, movimento este, que entra em contradição com o Planejamento Econômico do Brasil, que considera o Cerrado área de expansão da fronteira agrícola, desmembrou-se o Pantanal deste ambiente, transformando-o em Patrimônio Nacional, fato que não significa que esteja livre da expansão agropastoril, trata-se apenas de uma ilusão ou artifício.
O Sistema Roraimo-Guianense, apesar de possuir uma vegetação de gramíneas, passou a integrar o Sistema Amazônico. Da mesma forma que o Sistema dos Planaltos Sul-Brasileiros, que ostenta um velho manto de araucárias e se encontra em terras altas subtropicais, passou a integrar o Sistema Tropical Atlântico. Como se percebe a atual classificação não reflete o que representam as matrizes ambientais do Brasil.
O Sistema Biogeográfico do Cerrado está situado nos planaltos centrais do Brasil, onde imperaram climas tropicais de caráter subúmido, com duas estações – uma seca, outra chuvosa. Constitui o grande domínio do Trópico Subúmido, coberto por uma paisagem que constitui um mosaico de tipos fisionômicos que varia desde campos até áreas florestadas.
Estas sete matrizes ambientais formam, na maior parte dos casos, intrincados sistemas ecológicos interdependentes. O sistema do Cerrado, dos chapadões centrais do Brasil, pela posição geográfica, pelo caráter florístico, faunístico, geomorfológico e pela história evolutiva, constitui o ponto de equilíbrio desses variados ambientes, uma vez que se conecta, por intermédio de corredores hidrográficos, com esses e com outros ambientes continentais.
Os chapadões centrais do Brasil, cobertos pelo Sistema Biogeográfico do Cerrado, constituem a cumeeira do Brasil e também da América do Sul, pois distribuem significativa quantidade da água que alimenta as principais bacias hidrográficas do continente.
O Cerrado abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Inclui a parte sul e leste de Mato Grosso, oeste da Bahia, oeste e norte de Minas Gerais, sul e leste do Maranhão, grande parte do Piauí e prolonga-se, em forma de corredor, até Rondônia e, de forma disjunta, ocorre em certas áreas do Nordeste brasileiro e em parte de São Paulo.
Ecologicamente, relaciona-se às Savanas, e há quem afirme que o Cerrado seja configuração regionalizada destas. Entretanto, este ambiente possui uma história evolutiva muito diferente das savanas africanas e australianas. No Brasil, o Cerrado e os campos recebem denominações diferentes, de acordo com a região: Gerais, em Minas e Bahia; Tabuleiro, na Bahia e outras áreas do Nordeste; e ainda Campina, Costaneira e Carrasco, dependendo da região.
Nenhuma dessas designações populares reflete sua totalidade ecológica, referindo-se apenas a uma modalidade fisionômica, às vezes associada a uma ou outra configuração geomorfológica. Por essas razões, o paradigma puramente botânico não tem sido suficiente para demonstrar a totalidade e a importância ecológica do Cerrado, já que destaca ou enfatiza apenas parcelas fragmentadas de sua composição. Quando isso acontece, o caráter da biodiversidade, elemento marcante da ecologia do Cerrado, não recebe a importância merecida, nem sequer pode ser compreendida em seus aspectos fundamentais.
A utilização do paradigma Biogeográfico tem demonstrado ser um referencial de grande importância para que se possa entender o Cerrado, em sua globalidade. Compreendendo os diversos matizes, tanto abertos e ombrófilos como subsistemas interatuantes e integrantes decisivos de um sistema maior, o conceito Biogeográfico tem ressaltado a importância que o Cerrado exerce para o equilíbrio dos demais ambientes do continente, além de demonstrar que a principal característica da sua biocenose é a interdependência dos componentes aos diversos ecossistemas.
Fonte: Altair Sales Barbosa
https://www.xapuri.info/ecologia-2/pequena-cronica-ainda-sobre-o-cerrado/?fbclid=IwAR3igboXKjoTlw_xqCzi9SBtzzO3ew2VTzx7pjRpdvj3nsIVl9UZ5v2sgBk
Abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Inclui a parte sul de Mato Grosso, o oeste da Bahia, oeste e norte de Minas Gerais, sul do Maranhão, grande parte do Piauí e prolonga-se, em forma de corredor, até Rondônia e, de forma disjunta, ocorre em certas áreas do Nordeste brasileiro e em parte de São Paulo. Ecologicamente, relaciona-se às Savanas, e há quem afirme que os cerrados são configurações regionalizadas destas. No Brasil, este tipo de paisagem recebe denominações diferentes, de acordo com a região: gerais, em Minas e Bahia; tabuleiro, na Bahia e outras áreas do Nordeste; e ainda campina, costaneira e carrasco, dependendo da região. Nenhuma dessas designações populares reflete sua totalidade ecológica, referindo-se apenas a uma modalidade fisionômica, às vezes, associada a uma ou outra configuração geomorfológica. No mesmo sentido, paradigma puramente botânico não tem sido suficiente para demonstrar a totalidade e a importância ecológica dos cerrados, já que destaca ou enfatiza apenas parcelas fragmentadas de sua composição. Quando isso acontece, o caráter da biodiversidade, elemento marcante da ecologia dos cerrados, não recebe a importância merecida, nem sequer pode ser compreendida em seus aspectos fundamentais.
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O Subsistema dos Campos, que ocupa as partes mais elevadas do sistema, apresenta morfologia plana denominada, regionalmente, chapadões ou campinas. Há forte ventilação durante quase todo o ano e a temperatura, em geral, é mais baixa que nos demais subsistemas. A rede de drenagem é insignificante. Às vezes, aparecem pequenas lagoas, algumas perenes. A vegetação é arbustiva esparsa e há uma composição graminácea intensamente distribuída pela área. Durante o Pleistoceno Superior, possivelmente, esse Subsistema abrangia espaços geográficos maiores.
Sua presença atual pode ser explicada por fatores estruturais do solo associados a microclimas especiais e ainda não totalmente refeitos da agressão climática do Pleistoceno Superior.
O Subsistema do Cerrado Scricto Sensu constitui a paisagem dominante do sistema. Ostenta um estrato gramíneo diferenciado do campo, há a ocorrência de árvores de pequeno porte e aspecto tortuoso, o que se explica pela teoria do escleromorfismo oligotrófico. A rede de drenagem é boa e os solos são de baixa fertilidade natural, mas não são uniformes. Há formações de cerrado que ocorrem tanto em latossolos avermelhados como em solos arenosos, dos quais são exemplos o sudoeste de Goiás e o oeste da Bahia, respectivamente.
Entre o subsistema dos campos e o subsistema do cerrado stricto sensu há uma paisagem intermediária, designada, popularmente, campo sujo. Não se considera esta paisagem como um subsistema à parte, porque sua abrangência geográfica é pequena e, ecologicamente, mostra que as mesmas características dos dois subsistemas ora mais, ora menos estão sempre presentes.
O Subsistema do Cerradão é, fisionomicamente, mais vigoroso que o Subsistema do Cerrado. As árvores atingem de 10 a 15 metros de altura e os solos demonstram maior fertilidade natural. Não há um estrato gramíneo forte como no cerrado e as árvores são mais encopadas. A rede de drenagem é bastante significativa. Antigamente, alguns botânicos classificavam esta paisagem como floresta xeromorfa, denominação que foi abandonada.
O Subsistema das Matas ocorre em manchas de solo de boa fertilidade natural que, às vezes, adquire a configuração de ilhas, meio a uma paisagem dominante de cerrado, conhecidas pelo nome de capões e podem formar áreas extensas, compactas e homogêneas, como era exemplo clássico do Mato Grosso de Goiás.
O Subsistema das Matas Ciliares ocorre nas cabeceiras dos pequenos córregos e rios acompanhando-os pelas suas margens em estreitas faixas. Essas faixas são muito variáveis quanto à configuração. Há locais em que se alargam em forma de bosque e outros onde praticamente desaparecem, como é o caso de algumas áreas do médio Tocantins.
No Subsistema das Veredas e Ambientes Alagadiços, as cabeceiras de alguns córregos e rios são, às vezes, caracterizadas por ambientes alagadiços, decorrentes do afloramento do lençol de água ou ainda em virtude de características impermeabilizantes do solo. Nestes locais, são muito frequentes as veredas, que são paisagens nas quais predominam os coqueiros buriti e buritirana que, às vezes, se distribuem acompanhando os cursos d’água até a parte média de alguns rios formando uma paisagem muito bonita. Há um estrato inferior de gramíneas que se apresenta verde durante todo ano. Em alguns locais, o afloramento do lençol chega a formar verdadeiras lagoas, rodeadas por buritis (Mauritia vinífera). Esta paisagem é mais frequente do centro do Sistema em direção a norte e a leste. Quando se aproxima do pantanal matogrossense, sudoeste do sistema, as veredas tendem a desaparecer, ao passo que as áreas alagadas aumentam.
As veredas são um importante subsistema do Bioma Cerrado, possuindo, além do significado ecológico, um papel sócio-econômico e paisagístico que lhe confere importância regional. São espaços brejosos ou encharcados, que contêm nascentes ou cabeceiras de cursos d’água. São comumente encontradas no estado de Minas Gerais, Bahia e na Região Centro-Oeste. As veredas estão protegidas pelo Código Floresta que tem como objetivo a recomposição obrigatória das faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado. Veja na íntegra na Lei nº 12.727, de 2012). As veredas típicas são vales rasos, com caimento pouco pronunciado e fundo plano preenchido por argilas hidromórficas. A palmeira buriti é também um elemento característico e o escoamento de água é praticamente o mesmo o ano todo com poucas variações sazonais. São circundadas por campos típicos, geralmente úmidos, e os buritis não formam dossel (cobertura contínua formada pela copa das árvores) como ocorre no Buritizal. A literatura indica três zonas ligadas à topografia e à drenagem do solo: ‘borda’ (local de solo mais seco, em trecho campestre onde podem ocorrer arvoretas isoladas); ‘meio’ (solo medianamente úmido, tipicamente campestre); e ‘fundo’ (solo saturado com água, brejoso, onde ocorrem os buritis, muitos arbustos e arvoretas adensadas). A importância primordial das veredas é o fato de serem áreas produtoras de água e participam do controle do fluxo do lençol freático, além de ser um sistema represador da água armazenada e também são responsáveis pela manutenção e multiplicação da fauna terrestre e aquática. Além disso, as veredas também possuem uma importância econômica e histórica por serem determinantes para a fixação do homem no campo e desenvolvimento da região Cerrado.
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Você conhece o Cerrado?
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Desde 2010, o WWF-Brasil atua no bioma. Para saber mais e apoiar nossos projetos, acesse: https://www.wwf.org.br
Disponível em:
https://youtu.be/orGhCBbK4Iw