Observando Aves em Terra Xavante
“A conexão dos A’uwe Uptabi com as aves atravessa a importância manifestação/matéria alcançando a transcendência ser/espírito.Para tanto,o povo Xavante detêm múltiplos conhecimentos sobre as espécies de aves, possibilitando um olhar mais simbólico e reflexivo. Este guia,portanto,é mais uma ferramenta para valorizar e fortalecer esta importante cultura”.
Este é o primeiro guia de aves em língua indígena do Brasil, lançado recentemente através do Projeto Aldeia Sustentável, que contou com diversas parcerias para finalizar o material.O nome do guia ‘TSIWAIMRÃMI’WA’ signific
O material traz 91 espécies da avifauna que ocorrem nas Terras Indígenas do Povo A’uwe Uptabi (Xavante), localizadas em 15 municípios do Cerrado Matogrossense, como Água Boa, Alto Boa Vista, Nova Xavantina, Paranatinga e Barra do Garças. Além das fotos, cada ave está descrita com o nome em Xavante e o nome popular em português, além de informações sobre o tamanho.
No estado de Mato Grosso existem 47 etnias, distribuídas ao longo de 79 Terras Indígenas que ocupam 17% do território mato-grossenseNo entanto, o material é apenas uma das etapas para alcançar um objetivo maior: proporcionar a sustentabilidade ao povo Xavante e ampliar o conhecimento da avifauna e mastofauna (diversidade de mamíferos) para, assim, levar o ecoturismo e o etnoturismo para as aldeias indígenas Xavante.
O primeiro passo, talvez o mais extenso e complicado, foi o levantamento das aves, feito em quatro expedições com duração de cinco dias, entre 2020 e 2021. “Além de observar e gravar as espécies, a gente precisava conversar com os indígenas mais experientes para comparar os nomes em português e em xavante, evitando erros de taxonomia.
Veja alguns nomes de aves na língua indígena Xavante
Arara-canindé: Tsõté
Seriema: Wa’ritire
Tucanuçu: Nõrõwada
Gavião-real: Tsi’ubdzu rãhötóró
Ema: Ma
Todo esse processo foi feito em paralelo com outra etapa do projeto, que ainda está em andamento: a capacitação de monitores indígenas que futuramente acompanharão grupos de turistas juntamente com um guia especializado para a observação de aves.
Depois das saídas a campo, do trabalho de comparação entre os nomes dos animais e da decisão final dos termos em Xavante, a equipe pôde, enfim, montar o guia, trabalho do designer e fotógrafo Renato Rizzaro, que cedeu a maior parte dos registros. “Grande parte das fotos do guia são de minha autoria, mas outras também foram cedidas gentilmente por outros observadores de aves parceiros. Demorei de três a quatro meses para finalizar o material e foi um prazer gigantesco. A ideia agora é que o mesmo aconteça em outras aldeias, com outras línguas indígenas”.
Mas ainda há trabalho nas Terras Xavantes. Isso porque, só no entorno da Aldeia Belém já foram registradas 126 espécies de aves, o que representa 58% das observadas em Canarana, município em que está inserida. O plano é produzir um segundo guia com mais espécies de aves e também de mamíferos. As próximas saídas a campo para coleta de informações estão agendadas para o segundo semestre de 2022.
Este trabalho faz parte do Projeto Aldeia Sustentável A’uwe Uptabi, que é realizado pelo Instituo Kurâdomôdo de Cultura Sustentável, por meio do Programa REM/MT financiado pelo GIZ/KFW/UKaid apoiado pela Funai, SEAF, EMPAER, UNEMAT e Prefeitura de Canarana.
Link para o guia