Anfíbios do Cerrado
Se você tem nojo dos anfíbios anuros, conhecidos popularmente como sapos, rãs e pererecas, vamos mostrar que eles são importantes predadores de invertebrados (muitos desses podem ser pragas agrícolas, vetores de doenças aos humanos e suas criações), além deles próprios serem importantes fontes de alimento para outros animais na teia alimentar.
Desflorestamentos, invasão de áreas de proteção permanente como matas ciliares, drenagem de brejos para formação de pastagens e plantios diversos, além de prejudicarem a própria qualidade e quantidade de água, elimina importantes hábitats dos anuros. Como a extinção dos sapos pode nos afetar?
A falta dos anuros no meio ambiente pode causar um sério desequilíbrio como o aumento de pragas e vetores (como moscas, mosquitos, gafanhotos, etc.) e uma diminuição de espécies predadoras ou mesmo mudança dessas para o meio urbano em busca do alimento que antes era suprido pelas populações de anuros.
Além disso, algumas substâncias encontradas nas diversas secreções produzidas pelas glândulas cutâneas dessas espécies podem ser utilizadas para desenvolvimento de medicamentos, porque os anuros tem um grande potencial farmacológico, portanto, o desaparecimento dos anuros seria uma grande perda para a saúde humana. Um estudo está sendo feito com a toxina de Brachycephalus ephippium (sapinho-pingo-de-ouro) para o tratamento do alzheimer. Outros exemplos são: substâncias que aumentam a imunidade, colas cirúrgicas, tratamento para diabetes, câncer, antifúngicos e substitutos para a morfina, etc. Infelizmente, o conhecimento sobre a anurofauna neotropical é incipiente, principalmente quando abordamos as regiões do Cerrado.
Os anfíbios são um grupo de vertebrados extremamente interessante. O nome é derivado do grego “amphi” e “bio”, que significa duas vidas, devido à transição de um estado larval aquático para um terrestre que ocorre em grande parte das espécies. São um grupo de animais extremamente diverso, com mais de 8000 espécies descritas atualmente. Em questão de diversidade, o Brasil é o país que mais possui espécies de anfíbios, com 1136 espécies registradas para dentro do território. Esses animais são divididos em três ordens: Gymnophiona, as cecílias; Caudata, as salamandras; e Anura, os sapos rãs e pererecas. A ordem Gymnophiona é composta por anfíbios serpentiformes que possuem hábitos fossoriais, e por essa razão são raramente encontrados. Não possuem uma diversidade tão alta e são mais frequentemente vistos na época chuvosa. A ordem Caudata também é outra raramente encontrada. Atualmente existem registros de apenas cinco espécies para o território brasileiro, todas endêmicas da Floresta Amazônica. A ordem Anura é a mais famosa e também mais diversa. Conhecidos por medo ou por tradições, esses animais podem ser encontrados em vários tipos de ambiente, desde biomas mais áridos até ambientes urbanos.
Referências:
Segalla, M.V., Caramaschi, U., Cruz, C.A.G., Garcia, P.C.A., Grant, T., Haddad, C.F.B., Santana, D.J., Toledo, L.F., Langone, J.A. (2019). Brazilian amphibians: List of species. Herpetologia Brasileira 8(1): 65-96
Valdujo, P.H., Silvano, D.L., Colli, G, Martins, M. (2012). Anuran species composition and distribution patterns in brazilian Cerrado, a neotropical hotspot. South American Journal of Herpetology 7(2): 63-78
No Cerrado, existe uma grande diversidade de anfíbios devido à grande variedade de formações vegetais. Apesar de apresentar menos espécies do que biomas florestais como a Amazônia ou a Mata Atlântica, mais de 50% das espécies são endêmicas, ou seja, não podem ser encontrados em nenhum outro local. Esse endemismo é visto não só a nível de espécie, mas vários clados com várias espécies apresentam esse padrão de distribuição. Essa alta especificidade em relação ao ambiente é vista também nas várias fitofisionomias, pois várias dessas espécies endêmicas são altamente relacionadas a um determinado tipo de ambiente. Outro fator interessante observado é o endemismo de várias espécies com regiões de altitude, muitas vezes com distribuições geográficas extremamente limitadas, como na Chapada dos Veadeiros, Chapada dos Guimarães e várias localidades na Serra do Espinhaço. A região da Chapada dos Veadeiros, que não apenas é a localidade com maior diversidade de anfíbios do Cerrado, mas possui cinco espécies que são endêmicas da região. Apesar de ser um grupo mega diverso, aproximadamente 25% das espécies de anfíbios do mundo estão em algum grau de ameaça de extinção. No Cerrado também existem várias espécies que estão ameaçadas, principalmente devido à especificidade de habitat e distribuição geográfica restrita. Um exemplo disso é o sapo Allobates goianus, que não é mais encontrado locais onde a espécie possui registro de ocorrência. Entretanto, a maior parte das espécies se encontra na categoria de DD (Data Deficient, ou seja, sem dados suficientes) na lista da IUCN, mostrando que os trabalhos com esse grupo devem continuar em prol da conservação.
Referências:
Segalla, M.V., Caramaschi, U., Cruz, C.A.G., Garcia, P.C.A., Grant, T., Haddad, C.F.B., Santana, D.J., Toledo, L.F., Langone, J.A. (2019). Brazilian amphibians: List of species. Herpetologia Brasileira 8(1): 65-96
Valdujo, P.H., Silvano, D.L., Colli, G, Martins, M. (2012). Anuran species composition and distribution patterns in brazilian Cerrado, a neotropical hotspot. South American Journal of Herpetology 7(2): 63-78