Cantora, compositora, pesquisadora da cultura popular, Sol Bueno nasceu em 1981 na cidade de Pitangui/MG, e reside atualmente em São Caetano da Moeda Velha – zona rural de Moeda/MG, cidade próxima à capital Belo Horizonte. Além de cantora, Sol Bueno toca Viola Caipira, Violão, Caixa de folia e Kalimba. Atualmente é coordenadora regional e cogestora nacional do Projeto Dandô – Circuito de Música Dércio Marques.
Sol Bueno nasceu e cresceu em região de Cerrado, tendo a oportunidade de viver cotidianamente a infância e adolescência diretamente em contato com o mato. Para Sol, o meio ambiente, a natureza, faz parte dela mesma:
Considero que natureza é um conjunto de toda vida, forma de expressão da terra, e que somos natureza. Assim, o meio ambiente não é o que me circunda, mas sou eu em interação com tudo. Não há separação de mais valia de um ser em detrimento de outro. Parei de comer carne ao me dar conta disso (Bueno 2017).
CORRÊA, Jussânia Borges. Ecomusicologia no Cerrado: violeiras e violeiros convivendo com a natureza. 2017. 268 f., il. Dissertação (Mestrado em Música)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/handle/10482/31444>
Em seu CD, “Poeira Dançante,” as composições penetram em uma paisagem visual e sonora do Cerrado. Imagens do Cerrado são mostradas no vídeo-clip de lançamento do CD. A cantora faz uso de papel reciclado no encarte do CD que se apresenta ilustrado com desenhos e pinturas do cotidiano e plantas no Cerrado.
Sol Bueno (2017) explica que o CD está organizado em dois ciclos e quatro estações, fazendo o ciclo de tempos de seca e de chuva. Abre no inverno, com Floração Cerradeira, passa por Canto leve, falando do sair do casulo, passeia pela primavera, conta de um verão com flores de pequi, muita chuva com Águas Batuqueiras e É de coco, e se encerra no outono, com Cantiga do Moinho, que canta o outono.
Na primeira faixa, Floração Cerradeira, Sol cita nomes de plantas e flores do Cerrado, lembrando a extensa floração que desenvolve no período do inverno. Assim descreve a autora:
“A letra cita plantas como sucupira preta, bolsa de pastor, coroá, gravatá, quaresmeira, pequi, lobeira, mimosa, algodão do campo, ipê (também citado como “amarela cor dos dias” uma menção honrosa a também Dércio Marques e seus Segredos Vegetais).”
Aprofundando no tema, quando analisa essa sua composição, Sol Bueno menciona detalhes de seu conhecimento sobre o bioma Cerrado:
O Cerrado seco e o vermelho do tempo do inverno, e o céu estrelado, e também faz alusão ás queimadas que ocorrem nesse período, ressaltando a suberina (“Suberino véu guarda”) substância presente na cortiça de algumas árvores, que as protegem das queimadas. A frase “vai chover” entra muito mais no imaginário de quem quer puxar uma conversa, mas a interrogação fala da dúvida das águas também, pois é um período de maior seca. A música cita um tipo específico de bioma do Cerrado, o campo limpo, vegetação típica de uma das áreas onde a compositora viveu a infância, mas cita também campo cerrado. A música lembra os olhos d’água presentes no bioma, riquíssimo em recursos hídricos (Bueno 2017).
Sol Bueno conta que chorando fez a música Ó Deus Salve meu Cerrado. Em ocasião de estar retornando de sua terra natal, Pitangui, e ver, dos dois lados da estrada, onde antes havia muitos pequizais, os terrenos estão limpos, e todos plantados com eucaliptos. Extensões e extensões de terra, todas destruídas (Bueno 2017).
Sol Bueno conta que, sentada ao lado de uma paineira florida, com as flores dessa árvore caindo ao lado, se sentiu inspirada e pensou sobre os ciclos da vida, sobre renovação, e a partir daí surgiu a Cantiga do Moinho.