Quando criança, saía do subúrbio carioca para apresentar-se em programas infantis de calouros como o Clube do Guri e Vovô Odilon. Mais tarde viajou pelo Brasil até chegar ao Uruguai. Apresentou-se durante algum tempo em casas noturnas de São Paulo. Depois de afastar-se da carreira artística no começo da década de 1970, voltou, depois, a apresentar-se com o irmão Dércio Marques. Sendo vista pelo pesquisador e produtor Marcus Pereira em show com o irmão no Teatro Pixinguinha, em São Paulo, recebeu do produtor o convite para gravar seu primeiro disco. Lançou, então, em 1978, o LP “Semente”, no qual interpretou as músicas “Canção cansada”, de Paco Bandeira; “João Semente”, de João de Castro, em faixa que contou com a participação especial de Dércio Marques; “Eterno como areia”, de José Maria Giroldo; “Vento vadio”, de Sergio Sá; “Caminhada (Minha história)”, de Sergio Sá; “Lamento borincano”, de Rafael Hernandez; “Giramundo”, de Luis Edgard; “João Semente”, de João de Castro; “Mourão de cerca”, de José Maria Giroldo; “Não mande a geada não”, de Maria do Céu; “Tonta”, de Chico de Ubatuba; “Salário nanico”, de Saulo Laranjeira, e “Estrela do Norte”, de Lumumba.
O disco contou com a participação dos músicos João de Castro no violão; Dércio Marques no violão e requinta; Claudio Beltrani no baixo; e Altamir, Waldemar, Ruy Sergio, Alexandre Ramirez, Eduardo Szwec e Ézio nas violas e violinos. Na contra capa desse LP, Marcus Pereira declarou sobre ela: “Doroty Marques, muito tempo depois de se iniciar no seu ofício de cantar, grava seu primeiro disco. Ouvi-a pela primeira vez, cantando e acompanhando seu irmão Dércio Marques num espetáculo apresentado no Teatro Pixinguinha, em São Paulo. Ao fim de cada número, o público explodia, coêso e unânime, num aplauso compacto e longo que marca os momentos incomuns de verdadeira comunicação entre o artista e o público.
O espetáculo, analisado convencionalmente, era pobre. Mas era riquíssimo na dimensão do talento, da voz, da emoção e do violão de Dércio Marques. E do talento da voz, da emoção e do bombo de Doroty Marques. Naquele momento, lembrei-me dos aplausos frios e convencionais que marcaram os intervalos entre os números de um espetáculo que assistira, cuja parafernália eletrônica devia estar ligada diretamente às turbinas da usina de Cubatão, hoje trabalhando exclusivamente para as “discotecas” de São Paulo.” Em 1980, lançou, também pelo selo Marcus Pereira, o LP “Erva cidreira”, interpretando as canções “Arreuni”, de Chico Maranhão; “Erva cidreira”, de sua autoria; “Mineirinha”, de Raul Torres; “Lua sertaneja”, de Gilberto Abrão Jacob e Adauto Santos; “Umbuzeiro”, de Elomar, em faixa que contou com a participação especial do Quinteto Armorial; “Cavalo cansado”, de Sergio Habibe; “As flores do meu jardim”, de Ricardo Vilas; “Inté as porteira do céu”, de Hélio Contreiras; “Parcelada”, de Elomar, em faixa que contou com a participação especial do autor; “Vim de longe”, de Darlan Marques; ” Castelo de areia”, de Geraldo Biason, e “Pequenina”, canção tradicional da cidade de Morretes – PR, em adaptação de Dércio Marques. Em 1983, participou do LP “Fulejo”, lançado por seu irmão Dércio Marques, pela gravadora Copacabana interpretando as faixas “Mineirinha”, de Raul Torres, e “Flores do vale”, de Dércio Marques e João Bá. Em 1985, lançou de forma independente, em conjunto com o irmão Dércio Marques, o LP “Criança faz arte – Dércio Marques e Doroty Marques”, que contou com a participação de 5.000 crianças de Penápolis/SP e que foi a trilha sonora da peça “Vaqueiro e o Bicho Froxo”, de sua autoria, em parceria com Beto Lima e Beto Andreta. Na peça e no disco, foram interpretadas as canções “Era uma vez”, de José Agostin Guytisolo e Dércio Marques; “Pega pega”, de Paulo Gomes; “Largatixa”, de Dércio Marques; “Pastorinha”, de Chico Maranhão; “Tema do bicho froxo”, de Tácito Borralho e Josias Silva Sobrinho; “Boi encantado”, de Giordano Mochel; “Tapararv”, canção tradicional andina; “Fundo da mata”, “Cantigas de brincar”, “Miquelina”, e “Boi de janeiro”, todos, temas tradicionais brasileiros, e “Janaína”, parceria com João Bá, além de “Tema do cantador”, “Tema do namoro”, “Lamento do vaqueiro” e “Tema do Papa Figo”, todas de sua autoria. Em 1996, lançou, como o irmão Dércio Marques, o LP “Monjolear – Dércio Marques e Doroty Marques e A Escola da Criança – Espaço de adolescer”, interpretando as músicas “Meninos” e “Meninos II”, de Juraildes da Cruz; ” Os carneirinhos”, poema de Cecília Meirelles, musicado por Hélio Contreiras e Xangai; “Fazenda maluquinha” e “Tributo a um casarão”, de Lúcio Eustáquio Alves; “Era uma vez”, de José Agostin Coytisolo e Dércio Marques; “Batuque dos meninos do cerrado”, vinheta de Marcos da Silva “Cazuza”, sob o “Rap do Cerrado”; “Formiguinha”, de Loni Rosa; “Não jogue lixo no chão”, de Vital Farias; “Ser criança”, de Darlan Marques; “Os carneirinhos”, poema de Cecília Meirelles, musicado por Darlan Marques e Dércio Marques; “Monjolear [A poesia do Monjolo]”, composição dos alunos do Pré-Escolar; “Cânticos”, de Gildes Bezerra e Dércio Marques; “Passarinho de amor”, tema folclórico recolhido por ela; “Rap do Cerrado”, “Projeto beija-flor” e “Rap do adolescer”, de sua autoria, e “Duerme negrito”, tema folclórico da América Central, além dos temas folclóricos brasileiros “Cantiga de ninar”; “Bem-te-vi”; “Congo (Tá caindo fulô); “Dois cantos de caiapó”; “Embola embola”; “Ciranda”; “Manuelito”; “Folia de reis”, e “Sabiá laranjeira”. Esse disco foi gravado com 250 crianças de Uberlândia/MG, e foi indicado ao Prêmio Sharp, na categoria de “Melhor CD Infantil”.
Em 1997, gravou o LP “Paraíba encantos” com 800 crianças do Vale do Paraíba, cantando a história do Rio Paraíba. Em 1998, gravou o LP “Espelho d’Água”, com os filhos dos funcionários da Sabesp (empresa patrocinadora). Em 2000, lançou, de forma independente, juntamente com Daniela Lasalvia, Dércio Marques e Luiz Perequê, o CD “Cantos da Mata Atlântica”, no qual interpretou as músicas “Sons da mata”, de Noel Andrade, esta, acompanhada de Érica Gisel, e alunos do Colégio Marista N.Sra. Da Glória; “De mar em mar”, de sua autoria; que ela cantou com os alunos do Colégio Santista; “Chia, pia, canto agora”, de Noel Andrade, com canto dela e dos alunos do Colégio Marista Arquidiocesano, e mais Érika Gisel; “Aguariana”, de sua autoria, cantada juntamente com os alunos do Colégio Marista N.Sra. Da Glória, e “Tema da Juréia”, de sua autoria em interpretação solo. Esse disco contou com a participação de 500 crianças dos Colégios Maristas de São Paulo e Santos.
No mesmo ano, lançou, também de forma independente, o CD “Paraíba vivo”, com as músicas “Água é vida” e “Origens”, de sua autoria; “Lambari rio abaixo”, com Maria Aparecida de Oliveira; “Cantiga do Paraitinga”, de Paulinho Baroni; “Cantiga do Paraibuna”, de Eduardo Renó e Daniel Almeida; “Filho da gota”, de Galvão Frade; “Alfa apagada”, de Rafael Leite; “Caminhos de um vale triste”, de Anderson Magno de Lima; “Escorrega no barranco”, de Gilson Bambuíra, e “Meninos”, de Juraildes da Cruz, além dos temas tradicionais “Árvores e flores do Paraíba”; “Rio menino”; “Aves” e “Lavadeiras do Paraíba”. Esse disco fez parte de um projeto em defesa do Rio Paraíba do Sul. No Sesc de São Paulo, fez uma opereta contando a história do bairro de Itaquera com aproximadamente 200 crianças carentes da região. Esta opereta foi apresentada no Sesc Itaquera, para mais de 2.000 crianças de escolas da região. Passou a se dedicar menos aos discos e shows e mais aos trabalhos de arte-educação. Por conta disso, montou diversas operetas populares. Um de seus trabalhos mais destacados foi o projeto “Cadê meu rio que estava aqui?”, que envolveu todas as escolas públicas da região de Penápolis, em São Paulo, no trabalho de criação coletiva da opereta, além de estudos e pesquisas sobre o meio ambiente. Por conta desse projeto, que foi financiado pelo Itaú Cultural, foi feito o replantio da mata nativa dos arredores da cidade e o plantio de 5.000 mudas de árvores frutíferas nos quintais das casas da cidade.
Acreditando na arte como mola importante para uma educação mais humanística, visando a formação do ser humano consciente, o cidadão crítico, Doroty escreveu o projeto Turma, que desenvolveu, ao longo de 30 anos, em escolas de comunidades carentes, por quase todo o país.Trabalhou 25 anos dentro das maiores favelas do Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Também trabalhou na região amazônica e na região centro-oeste, como na Chapada dos Veadeiros, cujo resultado, entre outros, gerou um disco, onde o cerrado está presente, através de uma linguagem e ritmos baseados no folclore local. Entre os vários produtos de seus trabalhos, escreveu duas cartilhas e gravou 8 discos, além de formar diversos professores multiplicadores de seu trabalho e de seu método.
Fonte: https://dicionariompb.com.br/doroty-marques/dados-artisticos
Mulheres do Cerrado – Doroty Marques
Sons da natureza como de córregos, pássaros, baleias, ondas e outros, grande parte gravados por Dércio Marques permeiam sua obra “Segredos Vegetais,” 65 cujas faixas musicais são contínuas, sem intervalo. O disco inicia com uma música instrumental Tema da flor da noite e segredos – Abertura (Dércio Marques), seguida de um poema de Cecília Meireles musicado, Tema do Canindé (Cecília Meireles, Diana Pequeno).
Outra obra musical importante dos irmãos Marques que vale ser mencionada foi o CD “Monjolear” gravado ao vivo no ano de 1996, em uma escola de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. O disco aborda questões ambientais, destacando a importância do Cerrado e sua preservação. A música Rap do Cerrado, uma das faixas do CD, foi composta por Doroty Marques em conjunto com a 3ª série da escola, e é interpretada por Dércio Marques e os alunos da 2ª, 3ª, 4ª e 5ª séries do primeiro grau(…).
Doroty Marques vem trabalhando há 25 anos com arte-educação, produzindo operetas, junto a diferentes camadas sociais, em periferias, favelas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, assim como na Região Amazônica e Centro-Oeste (Albuquerque 2016). A experiência dessa artista em várias regiões do Brasil a fez descobrir a potencialidade do povo brasileiro, assim relata Doroty:
“[…] eu andei nesse país inteiro, do Rio Grande do Sul ao Amapá, e do Acre lá ao Piauí, e é um povo lindo maravilhoso, que tem uma criatividade imensa, mas que dentro de um sistema, ela não pode aparecer. Essa alegria através da viola, da sanfona, do pandeiro, dessa forma dele mostrar a religiosidade dele, a alegria dele, a tristeza dele, desapareceu […]” (Marques 2017).
Doroty luta para que não percamos nossa identidade cultural, e por isso também o uso da viola em seus projetos ambientais, explica ela:
E a viola é um dos nossos pontos, na identidade cultural, e ela foi sendo substituída totalmente pela guitarra no rock, concorda?, nos últimos 40 e tantos anos, e … tipo, toca a guitarra, porque não tocar viola? Não que a guitarra não possa ficar na roda, mas porque a viola desaparecer? Então essa sempre foi a minha batalha com nosso povo! […] e quando eu passo lá no Paraíba do sul, ali, em 5, 6 cidades, né, mais de 1000 crianças, cantando o rio, então, é, isso aí tudo, a viola sempre teve presente, a viola sempre foi um instrumento de conquista, um instrumento de motivação, um instrumento de fazer o jovem né, num deixar ele… (Marques 2017).
Nesse trabalho, Doroty dialoga com as crianças sobre a importância de cada rio da região, e resultou na gravação do CD “Paraíba Vivo” – Paraíba em Cantos – Em Cantos do Paraíba (1998), fazendo parte de um projeto em defesa do Rio Paraíba do Sul.
CORRÊA, Jussânia Borges. Ecomusicologia no Cerrado: violeiras e violeiros convivendo com a natureza. 2017. 268 f., il. Dissertação (Mestrado em Música)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/handle/10482/31444>
Sons e Sentimentos do Cerrado – Doroty e Dércio Marques
https://www.youtube.com/watch?v=8yXHZvUn66s
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