Rota do Sal Kalunga

Heróis desconhecidos – esta é uma boa definição para os Kalungas que desbravaram a Rota do Sal.  Considerada uma “odisséia tupiniquim”, a Rota do Sal Kalunga foi traçada a remo. Através do Rio Tocantins, os negros percorriam cerca de 5 mil quilômetros de território brasileiro em busca do alimento essencial para os homens e o gado: o sal. Vem daí a origem da palavra salário – sal, a moeda de troca por trabalho no vasto sertão do planalto goiano. 

A jornada durava um ano. Tal como uma saga, a viagem tinha como ponto de partida o Rio Paranã – “igual ao mar”, em língua tupi. Mais ao norte, o Paranã é  o principal tributário do Tocantins. Segundo o Marquês de Pombal, “(…) é o mais seguro caminho para levar a civilização e o progresso ao interior do país.” O Tocantins foi, por mais de um século, a via do sal. 

Nas primeiras décadas do século XX, outros caminhos para a troca de sal foram traçados, a partir do desenvolvimento do sudeste maranhense e do oeste baiano. A navegação no alto Tocantins ainda duraria mais algumas décadas, até a expansão da malha ferroviária brasileira e a construção da Rodovia Belém- Brasília nos anos 50. A Rota do Sal passou de história a memória, ao quase esquecimento. O projeto Rota do Sal Kalunga refaz histórica e social a aventura de um povo em busca de liberdade e sobrevivência. 

 

O Rio Tocantins 

O Rio Tocantins foi o grande arquiteto de uma sociedade que surgiu a partir de uma estreita ligação com suas águas que rasga o território em 4 estados, (Goiás, Tocantins, Maranhão,Pará). Tanto a vazante deixavam suas margens irrigadas para a plantação do ribeirinho, quanto era o caminho ideal e necessário de comunicação e abastecimento do centro ao norte brasileiro. Era pelo rio que chegavam todo tipo de mercadoria para estas cidades originária, desde o material que construiu suas casas e igrejas, quanto , especiarias e itens de luxo. Estes primeiros empreendedores  nacionais  precisaram se fazer além comerciantes, navegante; e em suas embarcações “de descida”, levavam sempre “a carne salgada, couro cru, óleos, grãos, mel e outros produtos não perecíveis de grande aceitação na praça do Pará.” “De subida”, navegavam com grandes cargas de sal, produto de primeira necessidade e ainda, tecidos, louças e boticas, ferragens, ferro em barra, aço, cobre em folhas, barricas com garrafas de cerveja, boticas de genebra em farinha de trigo, etc.” 

As primeiras entradas e tentativas de ocupação das margens do grande rio, datam do século XVII, provavelmente se deram pelos missionários jesuítas. O Padre Antonio Vieira, autor dos “Sermões”, quem organizou e empreendeu, junto com outros três padres, a primeira entrada missionária pelo grande Tocantins. Durante o século XVIII, as notícias dos descobertos de ouro e instalação de diversas minas surgiam a cada ano: Agua Quente (1732); Natividade (1734); Traíras (1735); São José (1735);Cachoeira (1736); São Félix 1736); Pontal e Porto Real (1738); Arraias e Cavalcante (1740);  Pilar (1741); Carmo (1746); Santa Luzia (1746); e Cocal (1749). Muitas destas minas deram origem a algumas das cidades de hoje. Data deste século também o início da formação do quilombo Kalunga. Alarmados com a possibilidade de extravio e contrabando do ouro via rio Tocantins, durante todo este século qualquer navegação pelo rio ficou proíbida por decreto da cora portuguesa. Pode – se supor que data do final do século XVIII, as primeiras expedições Kalunga em busca do sal. 

 

 

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