Cerrado

 

POR ANDREIA YONASHIRO/ CERCO COREOGRÁFICO

ESPETÁCULO | TODOS OS ESTILOS DE DANÇA

quinta-feira, dia 24.06 | sexta-feira, dia 25.06 | sábado, dia 26.06 – todos os dias às 20h

30 minutos

Local: https://www.youtube.com/channel/UC3gHMXmWtA9pvvmlGtXleBw

 

Sinopse

Cerrado é uma peça audiovisual de dança e música. Um punho, ou os olhos, aquilo que dizemos, cerrados. O silêncio próprio da água, do céu. Os sons dos pássaros e as cores dos peixes, como passagens – um bioma, uma região também. Os ciclos das queimadas, temporalidade. Uma fala do dançarino Kazuo Ohno quando tinha mais ou menos 80 anos, de como ele queria, naquele ponto, dançar como o mato. As raízes profundas, sensíveis como a ponta de um dedo, ou como a boca, com muitos metros para baixo.

 

Release

Em Cerrado dou continuidade a algumas pesquisas que me são caras, em dança/ coreografia. Em 2014 completei um ciclo importante na minha vida, uma parceria longa com a artista, dramaturga, Joana Lopes. Esse ciclo de minha vida foi dedicado a um estudo sobre as relações corporais possíveis, pensando procedimentos pedagógicos e composicionais inspirados na topologia e em modelos da física. Foi nesse contexto que realizei uma série de experimentos com o músico Zeka Lopez, quando estávamos criando a obra Eólitos. Comecei a perceber então que precisava travar um diálogo muito próximo com o modo de pensar e sentir do músico, para atingir outras nuances corporais da dança. 

Em 2017-18, durante a criação da obra Ama, recebi de meu amigo e músico São Yantó um vídeo de uma versão da música “Vício”. Essa música me pegou de jeito – e a presença de Rafael Montorfano (Chicão) ao piano me disse muito. Sentia que seu arranjo para piano tinha o poder de deixar a música “aberta”. Uma aproximação, assim, em dizer, de algo que não sei explicar na verdade. Na ocasião, minha amiga e parceira de trabalho Marion Hesser me incentivou a investir num possível diálogo e trabalho com Chicão – ela encontrou-o num acontecimento informal e nos reuniu num email logo em seguida. O Chicão, conhecia dos tempos da Unicamp – e tenho muitas boas memórias de dançar em baladas com muitas bandas nas quais ele tocava. 

No meio do caminho, tive dois filhos. Na ocasião do nascimento de meu primeiro filho em 2016, a verdade é que perdi minha vontade de dançar, em contextos “artísticos”. E me afastei bastante, em função das demandas e dos tempos da maternidade / que não parece encontrar nos formatos mais usuais de trabalho uma relação muito amigável. O lance é que, agora, estou começando a querer voltar a dançar de novo – Cerrado marca isso. Junto com a confusão e genocídio da pandemia no Brasil, uma espécie de suspensão para re-pensar várias coisas de meus modos de trabalho que já não me deixavam alegre. 

Trazer o cerrado, diz de uma vontade de afirmar um interesse na direção de algo urgente – em alguma medida, nossas relações essenciais com uma lida mais simples – com a água, o ar, a atmosfera, aquilo que comemos etc. Não um escape idílico de uma mulher em crise na cidade. Mas encontrar na cidade essas ervas-daninha que afirmam já a presença do cerrado. Foi importante visitar o trabalho da artista Laura Lydia, “Ervas-SP’ e o “Cerrado infinito” de Daniel Caballero. Bem como adentrar os povos Timbira que são em grande medida os grandes responsáveis pelo manejo do cerrado brasileiro já há muitos séculos. E, urgente dizer também, hoje estão em guerra plena com os grandes pecuários, e as monoculturas de soja e eucalipto. 

Essa força do mato, algumas peculiaridades do bioma, servem como ponto de apoio para pensar uma dramaturgia para um dança. Para minha alegria, a presença da música do Chicão me parece ter um poder sobre os corpos, de penetrar mesmo, e vejo como algo fundamental (como uma raiz penetra na terra). Em como a música entra, seja em mim, ou em qualquer pessoa que presencia a música. Como se só de ouvir, a pessoa já se sentisse dançando. Marion segue por aqui, numa fundamental colaboração dramatúrgica/ coreográfica.

Por causa da pandemia, vamos ter que fazer esta versão audiovisual que será transmitida pela internet. Nesse sentido está sendo um grande desafio lidar com a dimensão visual da dança. Eu, particularmente, acho impossível filmar e transmitir uma dança em vídeo. Por isso, estou tentando fazer dessa versão algo que use a dimensão gráfica da imagem de alguém que dança, como se fosse uma composição em desenho/ pintura. Me lembro das pinturas rupestres, e de uma animação que surge de uma visão em deslocamento. É um pouco por aí que estou querendo desenvolver uma lógica de edição videográfica.  

Sinto que é uma primeira versão de um projeto pessoal maior meu. Espero num futuro poder realizar uma versão presencial – dança e música ao vivo. E vejo alguns anos pela frente – alguns músicos e dançarinos com os quais gostaria muito de poder travar esse tipo de diálogo – nesse cerrado.

 

Andreia Yonashiro

São Paulo, 26 de maio de 2021

 

Ficha técnica: 

Dança, edição: Andreia Yonashiro

Música: Rafael Montorfano

Co-laboração dramatúrgica/coreográfica: Marion Hesser

Câmera: Andreia Yonashiro, Clara, Marion Hesser, Marcius Lindner

Contribuição dramatúrgica: Denise Melo, Marcus Braga

Pesquisa de canções: Camila Bosso, Katharina Câmara, Érika Malavazzi, LuisFerron, Thereza Coelho,  MariaGenevieve Bento, Denise 

Participação sonora: Alan Scherk (trompete) João Nin (violão)

Produção cultural: José Renato F. Almeida (CAIS Produção Cultural)

Agradecimentos: Livia Carmona, Robson Ferraz, Patricia Zuppi, Suzana Tomeitoniato, Prado, Léo,  Marília Coelho, Célio Amino, Angélica Figueira, Barbara Malavoglia, Thales Vidal, Thaís Elvira, Alana, Talita e alunos da Escola Circular,  Lisa, Fernanda Cubo Ferreira, Tereza Ota Yonashiro, os vales de Piracaia, em especial, o vento.  

Realização: cerco coreográfico

Apoio: Teatro Aliança Francesa 

 

Este projeto foi realizado com o apoio do Programa Municipal de Fomento à 

Dança para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura

 

Quem é Andreia Yonashiro? No “mundo da dança”, seu trabalho é conhecido, reconhecido e respeitado, com apresentações em cidades do Brasil e também Noruega, Itália e Finlândia. 

 

Bailarina, coreógrafa e diretora premiada, Andreia é discreta, mas coleciona alguns prêmios. O destaque fica por conta da criação e direção de  Claraboia e Estudos para clarabóia, ao lado de Morena Nascimento. Esse trabalho conquistou o Prêmio Klauss Vianna, em 2013, o Fomento a  Dança, em 2012 e foi eleito melhor espetáculo de dança pelo Guia da  Folha, nesse mesmo ano, que ainda somou o Prêmio Cultura Inglesa, por  Tempest, em parceria com Daniel Fagundes, e outro Prêmio Klauss Vianna,  por Erosão, ao lado de Robson Ferraz. E Andreia tem até um curioso prêmio como vencedora do quadro “Dança no Gelo”, da TV Globo, patinando ao lado de Leandro, do KLB.