ARQUEOLOGIA, O BRASIL TAMBÉM TEM!
Se alguém diz arqueologia, a gente logo pensa em escavações ou em grandes construções, como as pirâmides do Egito, as arenas na Grécia, os templos da Mesopotâmia… E, se falam em arqueologia nas Américas, vem à cabeça cidades Incas ou as pirâmides astecas no México. Isso acontece porque, na maior parte das vezes, são as grandes construções que chamam a atenção. E aí vem a pergunta: no Brasil também existem monumentos e objetos milenares pra gente apreciar?
Resumindo em uma frase: arqueologia é o estudo de sociedades antigas a partir de seus vestígios materiais, ou seja, a partir de acontecimentos que deixaram marcas ou de objetos que as pessoas fizeram no passado e que resistiram até os dias de hoje. Quando esses vestígios são descobertos em uma determinada área, ela passa a ser chamada de sítio arqueológico. E esses sítios revelam muitas informações sobre a diversidade de povos, culturas e paisagens que já existiram. O Brasil, acredite, tem mais de 26 mil sítios arqueológicos cadastrados!
Os vestígios mais antigos que conhecemos por aqui datam de 20 a 30 mil anos atrás (é muito tempo!). São registros de comunidades chamadas caçadoras-coletoras, que receberam esse nome por seu modo de subsistência baseado na caça e na coleta. Mas essas pessoas faziam muito mais do que caçar e coletar, elas pertenciam a diferentes grupos e culturas. Restaram delas ferramentas de pedra, como pontas de flechas e machados, além de belíssimos sítios de arte rupestre (pinturas feitas nas rochas). Os mais antigos e famosos estão no Piauí e no Mato Grosso, mas existem sítios assim pelo Brasil todo.
Desses períodos mais antigos, a arqueologia tem mais perguntas do que respostas. Quer saber por quê? Porque estamos tratando de vestígios que passaram muito tempo se deteriorando com mudanças climáticas impactantes. Quando se trata de sítios muito antigos é assim no mundo todo, e no Brasil não seria diferente.
Em torno de 10 mil anos atrás começaram a surgir as sociedades que nos deixaram aquilo que mais chama a atenção: os sítios arqueológicos de grandes construções!
Sambaquis
Os sambaquis estão distribuídos de norte a sul nas paisagens do litoral. São sítios que se parecem com morros entre o mar e as lagoas costeiras, mas não fazem parte do relevo natural da região. Eles foram construídos, como as pirâmides. Mas, em vez de blocos de pedra, foram usadas conchas e areia.
Existem sambaquis de todos os tamanhos: de pequenos e discretos a gigantescos e chamativos, com dezenas de metros de altura e centenas de metros de diâmetro. Eles podem ser vistos de longe, e acreditamos que era esse mesmo o objetivo! Isso porque os sambaquis foram construídos como monumentos funerários. Estudos mostraram que nos sambaquis estão sepultadas pessoas que viveram entre mil e dez mil anos atrás.
Passado da Amazônia
Se o assunto é sítios arqueológicos com grandes construções, a região amazônica não fica atrás! A Ilha de Marajó, no Pará, tem gigantescos aterros de terra erguidos para abrigar vilarejos que permaneciam acima do nível dos rios mesmo na época das cheias: os Tesos de Marajó, que têm mais de mil anos de idade. Próximo a eles existiam lagoas artificiais para armazenar água e peixes quando o nível dos rios baixava. Pertinho dali, no Maranhão, existem sítios dessa mesma época que foram construídos no interior de lagos. São aldeias de palafitas, um tipo de construção sobre estacas, muito apropriadas para áreas alagadas. Parte das madeiras de sustentação das casas ainda está por lá.
Do outro lado da floresta, no Acre, existem os geoglifos, que são muros de terra e valetas escavadas que formam desenhos geométricos enormes. E no Amapá estão os megalitos – monumentos construídos a partir do alinhamento e suspensão de grandes blocos de pedra, alguns deles que se alinham com o movimento dos astros!
Os ceramistas
Uma arte que faz a fama da arqueologia amazônica é a cerâmica: são potes, panelas e estatuetas feitos de argila queimada. Não são grandes como as construções, mas esse tipo de material foi uma importante inovação tecnológica para a humanidade. No Pará foi descoberta a cerâmica mais antiga das Américas, com oito mil anos de idade. E, se não bastasse ter a cerâmica mais antiga, a Amazônia tem ainda inúmeras culturas que produziram esse material. Inclusive existe a hipótese de que foi de lá que essa tecnologia se espalhou pelo restante do Brasil.
Como os caçadores-coletores, os ceramistas são incontáveis. Eles são reconhecidos pela fabricação de cerâmica, mas fizeram muito mais. Esses artesãos estão pelo Brasil todo há cerca de três mil anos, com culturas diferentes e usando os mais diversos tipos de materiais.
Construções de Norte a Sul
Os ceramistas são responsáveis por grandes construções por todo Brasil. No Pantanal existem aterros construídos para elevar lugares acima do nível das águas e torná-los mais apropriados para as atividades das pessoas – são os chamados aterrados, e alguns são utilizados até hoje pela população local. Nos Pampas existem os cerritos, que também são aterros e provavelmente abrigavam habitações, cemitérios e espaços destinados a plantio. Na Mata Atlântica, no Cerrado e na floresta amazônica, a gente costuma encontrar vestígios de antigas aldeias, delimitadas pela concentração dos fragmentos de cerâmicas e por mudanças na coloração do solo (que fica mais escuro nesses lugares). Podemos dizer que eram enormes, com cabanas gigantescas! Nas terras altas do Planalto Meridional (localizado na região Sul do Brasil), existem sítios cerimoniais e cemitérios com pequenos montes e muros de terras no topo dos morros, e grandes casas semissubterrâneas construídas nas encostas. Essas casas são chamadas assim porque eram parcialmente escavadas no solo, com uma parte delas abaixo da superfície e outra acima. Eram muito numerosas e seus conjuntos formavam aldeias.
Grandes descobertas
A arqueologia brasileira descobriu muitos tipos de culturas com seus sítios arqueológicos de grandes construções. Isso nos faz entender o significado da arqueologia, não é mesmo? Descobrimos que, olhando para o que é pequeno, aprendemos sobre assuntos grandiosos e cheios de história!
Leonardo Waisman de Azevedo
Taís Cristina Jacinto Pinheiro Capucho
Rúbia Graciele Patzlaff
Célia Helena Cezar Boyadjian
Rita Scheel-Ybert
Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Texto original: Ciência Hoje das Crianças
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