Impactos
Impactos aos povos indígenas e ao clima:
“De toda a área delimitada para o Matopiba, 91% dela está no Cerrado, 7,2% na Amazônia e 1,64% na Caatinga. Desse modo, os povos do Cerrado são os principais prejudicados por este projeto de expansão do agronegócio e de sua, consequente, degradação ambiental. Os povos indígenas e as comunidades tradicionais têm uma relação de respeito com os seus territórios, dos quais dependem para garantir a própria sobrevivência. No entanto, o desenvolvimentismo tem outros princípios e, ao primar pelo máximo de lucratividade, visando a produção e exportação cada vez maior de grãos e carnes e a exploração desmedida dos recursos naturais, seu desenfreado avanço destrói as matas e contamina a terra e os rios, interferindo severamente no Bem Viver destes povos.
No norte do Tocantins, por exemplo, as plantações de eucaliptos e carvoarias expulsam os pequenos trabalhadores rurais e impactam a Terra Indígena Apinajé, localizada nos municípios de Tocantinópolis, Nazaré, São Bento do Tocantins e Cachoeirinha. Nos últimos dez anos é perceptível a diminuição gradativa do volume das águas das nascentes que ficam dentro e nas vizinhanças desta terra indígena. Este impacto do agronegócio está ocorrendo em várias regiões do Brasil. Nesta área, os pequenos criadores de gado afirmam que 2014 e 2015 foram os anos mais quentes e secos da história, com alto índice de queimadas e falta de pastagens.
Para os representantes do agronegócio, os povos e as comunidades do Cerrado significam obstáculos ao este “desenvolvimento”. Por isso, para eles, estas populações precisam ser expulsas ou eliminadas. Desse modo, o Matopiba, o maior projeto do agronegócio atualmente no Brasil, representa um perigo real de extinção dos modos de vida das comunidades tradicionais e dos povos originários. Por isso, é fundamental frear, resistir e combater o Matopiba”.
Impactos à economia:
“A enorme desigualdade social vem acentuando-se no Tocantins, onde mais de 172 mil famílias passam fome, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2013, e 11,82% da população vive em extrema pobreza, de acordo com o Censo de 2010. Os estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que em toda a área do Matopiba há 200 mil produtores considerados muito pobres.
O Tocantins tem uma herança histórica de pobreza e injustiça social que exclui uma grande parte da população do acesso às condições mínimas de dignidade. É um estado de contrastes. De um lado, uma extrema pobreza, e de outro, uma minoria ficando milionária. Enquanto milhares de pessoas não têm o que colocar na panela para alimentar os filhos, o Tocantins é o terceiro maior produtor de arroz irrigado do país, com uma colheita de mais de 630 mil toneladas em 2015.
Os dados da Receita Federal indicam que o Tocantins é o estado brasileiro com a maior quantidade de pessoas que tornaram-se milionárias na última década, saltando de dez para 61 pessoas. Desse modo, o número de milionários tocantinenses cresceu 510% neste período. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento prevê que a nova fronteira agrícola deve registrar um crescimento de 21,4% na produção de grãos até 2024.
Neste contexto ruralista e de extrema pobreza, tudo indica que um agravamento ainda maior da falta de alimentos será provocado pelo Matopiba. É evidente que este projeto não pretende reduzir a pobreza, mas sim incrementar o capital, destruindo o meio ambiente e intensificando ainda mais a pobreza”.
Fonte: CIMI. MATOPIBA – destrói a natureza e seus povos, [S.I] 2016. Disponível em: <https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2017/11/Matopiba_folder-2016.pdf>. Acessado em: 15 de maio de 2020.
O Cerrado do Matopiba perdeu mais vegetação nativa nos últimos 20 anos do que nos 500 anos anteriores, tendo como principal vetor a expansão da fronteira agrícola. Essa plataforma reúne análises que demonstram a imbricação entre desmatamento e grilagem na região: o avanço brutal do desmatamento sobre o Cerrado serve como instrumento central na consolidação dos processos de invasão de terras públicas e tradicionalmente ocupadas, bem como novas formas de grilagem viabilizam a expansão do desmatamento.
Enquanto isso, o tratamento institucional da questão fundiária no Matopiba tem se colocado mais a serviço da garantia de segurança jurídica para investidores, especuladores e grileiros, do que da titulação dos territórios indígenas, quilombolas e tradicionais e da reforma agrária. É um cenário desafiador e desfavorável para os povos do campo, mas ao mesmo tempo revela comunidades obstinadas a lutar pelo que lhes é de direito.
Leia o Dossiê “NA FRONTEIRA DA (I)LEGALIDADE: Desmatamento e grilagem no Matopiba” contou com o envolvimento de representantes de movimentos, organizações e pastorais sociais que compõem a Articulação de Resistência ao Matopiba da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. Disponível em:
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Site: https://www.matopibagrilagem.org/