Queimadas
“A biodiversidade do Cerrado convive com o fogo há milênios. Os efeitos da queima são minimizados pelas características da vegetação, tais como casca grossa, rizomas e bulbos, bem como sua forte capacidade de regeneração após as queimadas e uma elevada proporção de biomassa subterrânea (Castro e Kauffman, 1998; Coutinho, 1990).
No entanto, a frequência de fogo intensificou-se drasticamente devido às ações humanas. Hoje em dia, os incêndios podem ocorrer a cada ano ou dois, em vez de seguir ciclos de 16 anos, em média, como era o caso antes da colonização europeia (Coutinho, 1990). Dentro de limites, o fogo ajuda a dispersar as sementes do Cerrado e favorece a germinação e o crescimento. No entanto, um regime frequente e intenso de fogo provoca mudanças na dinâmica das comunidades de plantas, afetando as populações de espécies raras (Miranda, 2002). O fogo também pode afetar a floração, a frutificação, a dispersão de sementes, o recrutamento biológico e as taxas de mortalidade”.
Fonte: SAWYER, D. et al. Perfil Do Ecossistema: Hotspot De Biodiversidade Do Cerrado. Brasília: Supernova Design, 2018, p. 137-138.
“Dentre as principais mudanças do uso e cobertura da terra no Cerrado, pode-se citar o desmatamento para fins da agricultura e pecuária, as invasões biológicas por espécies exóticas e as queimadas (PIVELLO, 2011). O fogo geralmente é utilizado após a retirada da vegetação natural para a abertura de novas áreas agrícolas, para a limpeza de áreas, rotação de culturas agrícolas, controle de pragas, remoção de vegetação seca e restos de cultivo e manutenção de pastagens, pois constitui uma técnica de baixo custo para os agricultores, sendo a atividade humana a causa mais comum das queimadas (BATISTA, 2004; LAUK; ERB, 2009; MARENGO et al., 2010)”.
Fonte: RESENDE, F.; CARDOSO, F.; PEREIRA, G. Análise Ambiental da Ocorrência das Queimadas na Porção Nordeste do Cerrado. Revista do Departamento de Geografia Universidade de São Paulo, 2017, p. 32.
“Como afirmam Klink e Machado (2005), mesmo sendo o Cerrado um ecossistema acostumado ao fogo, a queima das pastagens para a rebrota e para a abertura de áreas agrícolas causam perda de nutrientes, compactação e erosão dos solos além dos danos prejudiciais à flora e fauna, devido às temperaturas extremamente altas que podem ocorrer durante a queimada, principalmente na época seca. Além disso, a alta frequência do fogo pode levar à substituição da vegetação lenhosa por uma vegetação não arbórea, que podem necessitar entre cinquenta a centenas de anos para se recuperar totalmente após a queima (BERGERON et al., 2001). Estimativas indicam, em uma projeção futura, que até 2050 ocorrerá o desmatamento de 13,5% do restante do bioma Cerrado, com taxas médias de 40.000 km² por década (FERREIRA et al., 2012). Desta forma, o monitoramento sistemático se torna imprescindível para ações de prevenção e combate ao desmatamento e às queimadas, em especial nos ecossistemas ameaçados pela ação antrópica, assim como, para traçar metas no planejamento para controle e gerenciamento eficiente para os próximos anos (PIROMAL et al., 2008)”.
Fonte: RESENDE, F.; CARDOSO, F.; PEREIRA, G. Análise Ambiental da Ocorrência das Queimadas na Porção Nordeste do Cerrado. Revista do Departamento de Geografia Universidade de São Paulo, 2017, p. 32.
“Quando secam em julho e agosto, os pastos são tipicamente queimados intencionalmente e podem facilmente pegar fogo acidentalmente. O fogo em espécies exóticas de grama, como Andropogon, que atinge alturas de 3-4 metros, é muito mais quente e se espalha a distâncias maiores por meio de fagulhas que voam longe. Os fogos mais quentes, causados pela presença de gramíneas exóticas, matam as árvores juvenis, impedindo a recuperação da cobertura arbórea e a redução dos estoques de carbono, que permanecem muito abaixo do que seriam se as árvores juvenis atingissem a idade adulta e produzissem sementes, multiplicando a população. Enquanto o gado espalha sementes exóticas, os animais herbívoros também reduzem a quantidade de combustível pelo consumo de biomassa das gramíneas, o que reduz a intensidade dos incêndios. Incêndios tardios, por exemplo, em outubro, quando a biomassa seca acumulada é mais volumosa, pode matar árvores maduras, abortar o florescimento e causar outros efeitos negativos sobre a comunidade (Schmidt et al., 2005). Além disso, uma retroalimentação positiva desencadeia a expansão de gramíneas quando a frequência do fogo aumenta (Miranda, 2002).
O Cerrado e a Amazônia são os biomas mais afetados pelas queimadas no Brasil. Um estudo sobre a incidência de fogo no Cerrado de 2002 a 2012 indica que as áreas mais afetadas são as pastagens na parte norte do bioma (Santos, Pereira e Rocha, 2014). Nessas áreas, a concentração de alertas de incêndio (pontos de calor) pode ser maior que quatro focos por km2 por ano. A média é de cerca de 140 mil focos de incêndio por ano em toda a área do Cerrado”.
Fonte: SAWYER, D. et al. Perfil Do Ecossistema: Hotspot De Biodiversidade Do Cerrado. Brasília: Supernova Design, 2018, p. 138.