Roça de brejo no município São Desidério, BA
No médio vale do rio Guará, há oito povoados: Ponte de Mateus, Currais, Pedras, Cera, Larga, Contagem, Vereda Grande e Riacho do Fogo.
Geralmente, os Geraizeiros do médio vale do rio Guará utilizam os vales úmidos, as áreas úmidas no entorno das veredas e os terraços. Essas três unidades de paisagem estão entremeadas de lavouras de rego, pequenas áreas de pastagens do gado e quintais repletos de plantio de mandioca, cana-de-açúcar, hortaliças, plantas medicinais e árvores fruteiras.
Além das diversas árvores dos Cerrados, permanecem nos vales e veredas os buritizeiros no meio das lavouras de rego e às margens dos regos de água. Essa prática agrícola dos Geraizeiros é desenvolvida nos brejos na linguagem local; em áreas de veredas e vales úmidos dos Cerrados baianos. Utiliza-se o fogo controlado para o manejo. Geralmente, a lavoura de rego é desenvolvida na passagem da estação chuvosa para a estação seca das áreas dos Cerrados baianos. Segundo, informações dos próprios Geraizeiros do médio vale do rio Guará, esse período ocorre por causas da menor quantidade de água nos brejos e, por sua vez, menor umidade dos solos dessas áreas.
Nessas lavouras roças de rego, os Geraizeiros ainda cultivam a diversidade, geralmente, produzem feijão, arroz, mandioca, milho cana-de-açúcar, banana, abacaxi, melancia, abobara e hortaliças. Além disso, há o aproveitamento dos cocos de buriti, goiaba, caju, raízes e entrecascas.
Os agricultores escolhem as áreas com terra fofa, molhada e preta (popularmente lama). Também observam se há buritizais, espécies de embaúba e pindaíba, pois estas são um sinal de terra fértil. Além disso, a área precisa possuir uma pequena declividade para melhor organizar os “regos” os quais posteriormente servirão de drenos para escoar a água excedente em partes do solo e também para irrigar quando a estiagem se prologa.
Pode-se afirmar que a lavoura de rego é um aspecto da cultura Geraizeira de rexistência, porém ameaçada pela diminuição do nível de água dos rios da mesorregião do Extremo Oeste da Bahia. Essa redução é observada na mesorregião do Extremo Oeste da Bahia e, no médio vale do rio Guará. Registra-se que a diminuição, principalmente, nos últimos anos devido a perfuração de poços artesianos de profundidade e o plantio de lavouras de eucalipto a montante das áreas dos brejos e dos povoados Geraizeiros.
Por último, as lavouras de rego mesmo sendo submetidas a outras lógicas são elementos da cultura Geraizeiras. Como disse elas buscam se adaptar às mudanças dos ritmos das chuvas, da disponibilidade de trabalho, é um elemento cultural r-existência para a sobrevivência nos Cerrados baianos. Contudo, a sua permanência no futuro dependerá da mudança de interpretação dos órgãos e instituições ambientais do papel desta agroecologia inter-relacionada com os Cerrados para a produção de alimento saudável, sem o uso de agrotóxico.
Fonte: RIGONATO, V. D. Por uma geografia de/em transição: r-existência e (re)habitação dos geraizeiros no médio vale do rio Guará, São Desidério, BA. 2017. 311 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.