Semeadura Direta

O método de se plantar sementes de espécies nativas e agrícolas diretamente no solo, sem passar pela etapa do viveiro de mudas, é conhecido como semeadura direta. As sementes podem ser plantadas em covas, em linhas ou a lanço, como qualquer semente agrícola ou de pastagem.

A composição de espécies para semeadura direta de formações florestais deve conter diversas espécies de todas as fases sucessionais, necessárias para manter o desenvolvimento estrutural ao longo do tempo, preferencialmente em alta densidade, para evitar o retrocesso ou estagnação com plantas exóticas ou solo exposto. Apresentamos duas classificações interessantes para restauração ecológica: seis classes de “ciclo de vida”, estimando o tempo de vida da planta após a germinação; e duas “estratégias de ocupação”, diversidade e recobrimento, descritas a seguir.

Considerando as classes de longevidade, a primeira fase sucessional que a “muvuca” deve conter consiste de espécies herbáceas e arbustivas nativas, agrícolas e/ou de adubação verde capazes de cobrir o solo rápido e permanecer durante os primeiros 6 meses após o plantio, como feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), abóbora (Cucurbita spp.) e milho (Zea mays).

As espécies da segunda fase sucessional devem substituir as da primeira fase na cobertura do solo e permanecer até aproximadamente 3 anos, como feijão-guandu (Cajanus cajan), fedegosão (Senna alata), maracujá (Passiflora spp.), assa-peixe (Vernonanthura polyanthes).

A terceira fase sucessional da muvuca é a que contém a maior parte das espécies de árvores classificadas como pioneiras ou de recobrimento em projetos de restauração florestal. São as espécies arbóreas capazes de substituir as espécies da fase anterior, formadas principalmente por arbustos semi-perenes que dominam a cobertura vegetal rapidamente. Entretanto, elas geralmente têm um tempo de vida mais curto, de até aproximadamente 10 anos, quando já começam a morrer em ambiente florestal denso, como por exemplo: lobeira (Solanum lycocarpum), urucum (Bixa orellana), crindiúva (Trema micrantha) e caju (Anacardium occidentale).

A quarta fase sucessional consiste em espécies que vão dominar a cobertura de copa entre 10 e 20 anos, por exemplo: algodoeiro (Heliocarpus popayanensis), carvoeiro (Tachigali subvelutina), ingá (Inga vera), muricis (Byrsonima cydoniifolia), mamoninha (Mabea fistulifera) e mutamba (Guazuma ulmifolia).

A quinta e a sexta fases sucessionais contém aquelas espécies classificadas como espécies secundárias-tardias e clímaces, que manterão a estrutura florestal, respectivamente, por 20 a 100 anos e mais de 100 anos, como, tamboril (Enterolobium contortisiliquum) e angicos (Anadenanthera sp) na quinta fase, e na sexta fase: jatobá (Hymenaea courbaril), aroeira (Astronium urundeuva), gonçalo alves (Astronium fraxinifolium), copaíba (Copaifera sp.), etc.

Esse tempo de cobertura vegetal nativa em alta densidade e em contínua substituição, com a dominância do dossel passando por essas fases, associado a uma riqueza razoável de cada uma delas, deve ser capaz de permitir que a estrutura florestal cresça e se complexifique em nichos para colonização por outras espécies nativas não plantadas.

A composição de espécies de formações savânicas deve considerar ervas e subarbustos que cobrem o solo nos primeiros 12 meses (ex.: capim-andropogon (Andropogon fastigiatus), estilosantes (Stylosanthes sp.), amargoso (Lepidaploa aurea), espécies de ervas e arbustos que cobrem o solo nos primeiros 3 anos (ex.: rabo-de-raposa (Aristida spp), capim-roxo (Schizachyrium sanguineum), capim-fiapo (Trachypogon spicatus), casiruba (Senna rugosa), assa-peixe (Vernonanthura spp.), e grande diversidade de espécies de ervas, arbustos e árvores perenes, que dominam e estruturam a vegetação a partir dos 4 anos em diante (ex.: arbustos: carobinha (Jacaranda ulei) e bolsa-de-pastor (Zeyheria montana), capins: capim-flexinha (Echinolaena inflexa) e brinco-de-princesa (Loudetiopsis chrysothrix), e árvores jacarandá-do-campo (Machaerium opacum) e carvoeiro (Tachigali vulgaris).

A semeadura direta proporciona alta densidade de plantas desde o primeiro ano de plantio, contemplando classes sucessionais que antecedem as árvores pioneiras. No caso das savanas, a semeadura direta contempla ervas e arbustos que estruturam a vegetação.

Para os plantios mecanizado ou manual a lanço é necessária uma gradagem niveladora leve com a grade fechada para incorporação das sementes no solo à profundidade média de 3 cm. Para plantios em linhas pode ser utilizada qualquer plantadeira de plantio direto de grãos, sulcador florestal com caixa de adubo ou manualmente e combinado com plantio de mudas, em covetas ou covas e utilizando matraca de sementes. Em áreas muito declivosas, muito pequenas ou inacessíveis a máquinas, recomendam-se as técnicas manuais. Além dos métodos de semeadura mais comuns para florestas e savanas, a semeadura direta pode ser utilizada para adensar e enriquecer a vegetação.

A semeadura direta conta com porcentagens de estabelecimento de plantas diferentes entre espécies e variáveis mesmo dentro de uma mesma espécie, devido especialmente à qualidade do lote de sementes, à profundidade de semeadura e tipo de solo, à regularidade das chuvas após o plantio e à predação de sementes e plântulas. Mesmo com esta variabilidade, é possível que o restaurador semeie com segurança mirando em altas densidades e riqueza de cada grupo ecológico. A quantidade a plantar de cada espécie poderá ser definida a partir do preço das sementes, a quantidade disponível e as estimativas de % de estabelecimento. Com isso, estima-se quantas plantas poderão se estabelecer por área e a que custo por planta, por espécie e por grupo ecológico.

Além dos processos ecológicos simulados pela semeadura direta, ela consegue envolver diversos atores da cadeia da restauração ecológica, gerando renda para coletores e coletoras de sementes que são os principais fornecedores para os plantios que demandam grandes quantidades de sementes nativas.

Fonte: https://caminhosdasemente.org.br/especies