Histórico
A permacultura chegou no Brasil em 1992, por meio da realização do primeiro curso de planejamento permacultural (“Permaculture Design Course” – PDC), organizado com a participação de seu criador Bill Mollison, em Porto Alegre – RS, na ocasião da Conferência ECO92, onde foi formada a primeira geração dos permacultores do Brasil (ECOOVILAS, 2017). Alguns desses permacultores fundaram os primeiros institutos brasileiros de permacultura, como Claudio Sanchotene (IPERS – Instituto de Permacultura do Rio Grande do Sul, primeiro instituto do Brasil), Marsha Hanzi (IPB – Instituto de Permacultura da Bahia), Alano (Sítio Pé na Terra). Ainda dessa turma, Marcos Abraham Cardoso fundou a livraria e editora Via Sapiens (YVYPORÃ, 2017). Em 1997 o Programa Novas Fronteiras da Cooperação (PNFC), do Ministério da Agricultura, sob influência de Ali Shariff da instituição Permacultura América Latina (PAL), trouxe da Austrália o permacultor André Soares para uma série de formações de permacultores no país. André fundou na Austrália o Instituto de permacultura de Queensland alguns anos antes e atuou como coordenador do projeto de Permacultura para Amazônia (IPA), que já existia em Manaus e era coordenado por Carlos Miller. Em uma das inúmeras palestras proferidas no Brasil, André Soares encontrou Jorge Roberto Timmermann em Braço do Norte – SC, que demonstrou interesse em fortalecer a permacultura no sul do país, segundo informações do próprio Jorge Timmermann. Em dezembro de 1998, foi realizado em Manaus um PDC internacional certificado pelo “Permaculture Research Institute” (PRI), no qual se formaram mais de 60 pessoas, incluindo, assim, Jorge Timmermann, que organizou em seguida o primeiro curso PDC (“Permaculture Design Course”) oficial em Santa Catarina, no Colégio Agrícola Caetano Costa em São José do Cerrito e lá se formaram vários professores, auxiliares e atores locais da comunidade cerritense (YVYPORÃ, 2017). No ano seguinte, Timmermann junto com Pedro Marcos Ortiz e Jaime Rodrigues (diretores do colégio agrícola), fundaram o Instituto de Permacultura Austro Brasileiro (IPAB), que englobou a região austral do Brasil, na Floresta Atlântica do sul, com clima subtropical litorâneo e de altitude. Ainda em 1999, André Soares e Lucy Legan criam o Instituto de Permacultura do Cerrado (IPEC), em Pirenópolis. No final dos anos 1990, João Rocket fundou o Instituto de Permacultura dos Pampas (IPEP – IPEP, 2018), apoiado por Ali Shariff e, com isto, iniciou-se a Rede Brasileira de Permacultura (RBP), com institutos de permacultura em cada bioma brasileiro: Amazônia (IPA), na Bahia (IPB), no Cerrado (IPEC), no Pampa (IPEP), no Rio Grande do Sul (IPERS) e o Austro Brasileiro (IPAB). A partir da Rede, outras iniciativas surgiram, como o Instituto de Permacultura da Mata Atlântica (IPEMA), de Brasília (IPOEMA), Cerrado-Pantanal (ICP), entre outros.
A permacultura trabalha sempre com funções para cada um de todos os diversos elementos envolvidos em seus sistemas e possui um ditado informal que diz que todo permacultor tem a função de “criar solos, armazenar e sistematizar as águas”. Sistematizar a água compreende manejá-la ao ponto de fazê-la, como elemento móvel na paisagem, atender todas as zonas energéticas propostas no planejamento permacultural. Todas as ações dos permacultores seguem direta ou indiretamente nessas direções. Ao valorizarmos formas de cultivos que imitam os ecossistemas, ou construções que fecham os ciclos curtos de água e energias totalmente dentro da propriedade, sem geração de excedentes – sejam resíduos ou mesmo produtos, ou transformando os resíduos – mesmo que humanos – em nutrientes, estamos alimentando os solos e manejando as águas de forma eficiente.
O principal motivador para trabalharmos com a diversidade, a criação de solos e a sistematização, assim como o armazenamento de águas, seja literalmente ou nas formas vivas, é a nossa a compreensão de que estes são a base da vida e de nossa manutenção no geossistema da Terra.
Fonte: NANNI, A., BLANKENSTEYN, A., SIGOLO, R., NÓR, S., & VENTURI, M. Construindo a permacultura na academia brasileira. Revista Brasileira de Agroecologia, [S.l.], v. 13, n. 1, may 2018. ISSN 1980-9735. Disponível em: <http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/22439>. Acesso em: 22/12/2022