Agroextrativismo
O extrativismo é, no sentido mais básico, uma maneira de produzir bens na qual os recursos naturais úteis são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural, em contraste com a agricultura, o pastoreio, o comércio, o artesanato, os serviços ou a indústria. Esta diferença se dá pelo fato de que, no extrativismo, os produtos podem ser coletados, recolhidos, extraídos ou capturados sem necessidade de tratos anteriores, pois foram espontaneamente gerados e, em seus ciclos biológicos, não houve intervenção humana (DRUMMOND, 1996; HIRONAKA, 2000). Apesar de se referir tanto aos recursos de origem mineral, vegetal ou animal, para fins deste trabalho, o termo extrativismo é utilizado para designar, principalmente, o extrativismo vegetal, entendido como coleta ou apanha racional dos recursos florestais nativos como frutos, folhas, flores, sementes e madeiras.
A coleta dos recursos vegetais nas áreas de ocorrência do bioma Cerrado, conforme afirma Sawyer (2000), não se trata de uma forma de reprodução e produção exclusivamente extrativista e totalmente especializada, como era o caso, por exemplo, do seringueiro clássico da Amazônia. Ao contrário, o extrativismo realizado pelos agricultores familiares habitantes dos ecossistemas de Cerrado constitui mais uma atividade, entre tantas outras, desempenhada pelas famílias em busca de melhores condições de vida e que está inserido em sistemas de produção familiares complexos, caracterizados pela combinação entre esta atividade e cultivos agrícolas diversificados. Neste sentido, o termo que se faz mais adequado é o agroextrativismo. Vocábulo que procura retratar justamente a integração que os agricultores familiares sustentam com o extrativismo de recursos da biodiversidade, com atividades de produção agrícola e com a criação de gado e pequenos animais. Trata-se de uma ampliação do espectro sobre as atividades extrativistas que expressa as especificidades desse sistema de produção típico da agricultura familiar (NOGUEIRA; FLEISCHER, 2005).
Mais um aspecto distintivo do extrativismo no Cerrado diz respeito ao papel que a prática extrativa desempenha nos modos de vida das famílias. Esta por remeter à trajetória histórica dessas comunidades é repleta de representações simbólicas e valor cultural, o que não permite que sua importância e/ou viabilidade seja avaliada/entendida apenas do ponto de vista econômico. Isto porque a extração dos produtos vegetais, além de fazer parte da história de vida destas comunidades, é realizada não apenas para a comercialização nos mercados (valor comercial), mas também para trocas entre as famílias (trocas não mercantis) e para garantir e diversificar sua alimentação (autoconsumo).
Entretanto, a despeito da relevância dos agricultores familiares e da viabilidade de atividades como o agroextrativismo, observa-se que as ações governamentais e políticas públicas direcionadas a estes atores e que contemplem suas especificidades ainda são escassas e pontuais. É imperioso, portanto, implementar medidas efetivas de apoio e estímulo a agricultura familiar e a formas diversificadas de produção e reprodução social no Cerrado. Estas devem ser atreladas a outras iniciativas territoriais de melhoria das condições de vida, aumento de renda e sustentabilidade ambiental, respeitando os modos de vida das comunidades que têm no bioma espaço de vida e trabalho. Por fim, destaca-se a necessidade de se repensar as ações e políticas direcionadas ao espaço rural do Cerrado de modo a ampliar os objetivos do desenvolvimento para abranger não apenas crescimento econômico, mas também aspectos de cunho social que promovam mudanças positivas nas vidas das comunidades rurais, como redução das desigualdades, mitigação da pobreza e criação de bem-estar social.
Fonte: Melo, Sued Wilma Caldas. Desenvolvimento rural no Cerrado, desenvolvimento e envolvimento das famílias agroextrativistas. Guaju, Matinhos, v.3, n.1, p. 111-131, jan./jun. 2017. Disponível em:
– permite a produção de bens para autoconsumo e para a comercialização de excedentes.
– comercialização no âmbito da agricultura familiar camponesa
– apoio à permanência da população no campo,
– geração e distribuição de renda através da produção agropecuária sustentável aliada à utilização consciente da biodiversidade
– permite a conservação dos ecossistemas
– melhoria de qualidade de vida para as comunidades envolvidas e para a população como um todo
– contribui com a construção de um projeto socialmente justo para o campo
– reduz o êxodo para as grandes cidades já inchadas e carentes de infraestrutura, construindo um novo paradigma de desenvolvimento socioeconômico.
a) A ausência de mecanismos de valoração da ampla gama de custos à saúde pública, ao meio ambiente e ao consumo energético associados à agricultura;
b) A crescente concentração dos mercados em várias atividades agrícolas, juntamente com a falta de regulamentação do setor, gerou níveis sem precedentes de controle corporativo do sistema agroalimentar, adversos para a agricultura familiar de todo o mundo;
c) Os bilhões de dólares gastos pelo agronegócio fazendo lobby junto a órgãos públicos e oficiais, tanto em nível nacional quanto internacional, e tem, em muitos casos, obtido decisões políticas em seu benefício;
d) A falta de leis nacionais para assegurar à agricultura familiar a posse e o acesso aos recursos produtivos (sementes, germoplasma, terra, água, etc.) prejudica os esforços para promover uma transição para práticas sustentáveis;
e) A presença de preconceitos com relação a práticas tradicionais e/ou alternativas em várias instituições;
f) A liberalização comercial que abriu rápida e extensivamente os mercados dos países em desenvolvimento à concorrência internacional tem prejudicado o mundo rural e degradado o meio ambiente.
Fonte: ISHII-EITEMAN, M. Democratização da agricultura: rumo a sistemas agroalimentares sustentáveis e equitativos. Agriculturas: Experiências em Agroecologia. Rio de Janeiro, v. 10, n. 12, p. 29-35, 2013.
Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável do Pequi
O extrativismo tem grande relevância para as comunidades locais do norte de Minas Gerais, região que concentra grande diversidade de frutos como o pequi, coquinho azedo, cagaita, mangaba. A geração de renda pelo extrativismo também é um instrumento para se trabalhar os recursos naturais de forma sustentável.
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